terça-feira, 29 de março de 2011

Honestino Guimarães, o "democrata"

      
     Meu compromisso é com a verdade, eu não discuto com a realidade, eu a aceito assim como ela se me apresenta. As coisas são como são. 

     Vou contar uma experiência pessoal, com a ressalva de que eu era uma 'inocente inútil', sem qualquer importância como quadro revolucionário.
      
     Eu caí em junho de 1973, numa operação-arrastão em que foram presos 33 alunos da Universidade de Brasília.(Soubemos que foram presas 150 pessoas no total, a operação não se limitou à universidade). Isto foi pouco antes da prisão de Honestino Guimarães (ele foi visto pela última vez, em setembro daquele ano.
      

     Eu fazia parte de uma célula - vim a saber com mais detalhes tempos depois - do PC do B/AP-ML (Ação Popular Marxista Leninista), a mesma organização de Honestino Guimarães, que eu não conheci pessoalmente.  Na época, estas organizações enfrentavam o Exército Brasileiro, na Guerrilha do Araguaia. Na verdade, quando fui presa, eu nem sabia direito a que eu estava ligada, o segredo fazia parte das normas da casa. Se alguém caíssse...
      
     Foi no colegial (no meu tempo, chamava-se 'científico) que eu fui seduzida pela e para a revolução socialista. Uma colega da escola tinha amigos que eram presos políticos, gente que tinha participado da luta armada naquele final dos anos 60. 

     A imagem deles era de revolucionários de fibra, a quem a tortura não tinha quebrado o ânimo de implantar no Brasil a ditadura do proletariado. A palavra mágica era proletariado  (ninguém sabia direito o que significava; o mesmo acontecia com campesinato, mas sabíamos o que era operário e camponês. Era o povo explorado!)        
      
     Quando entrei na Universidade de Brasília, em 72, eu estava pronta, era só aliciar. E fui imediatamente aliciada. Durante alguns meses, eu recebi aulas de doutrinação marxista em reuniões com militantes que eram meus colegas na Universidade de Brasília. As discussões eram em casa ou no campus da UnB.
     

     Com o passar do tempo, teve até reunião secreta, cercada de rigorosas normas de segurança: trocar de táxi várias vezes, não pronunciar o próprio nome, nem dos outros conhecidos presentes, estas coisas. Lembro-me que eu não contava nem para o namorado ou gente da família o que fazia nem aonde ia.
      

     Nesta época, eu comecei a manter contato com militantes que não eram estudantes, era gente mais velha, que tinha nitidamente a função de aprofundar os compromissos com a organização e distribuir tarefas. Eu percebia que já havia um upgrade na conversa, tinha passado a fase do lero-lero teórico, a próxima fase era da praxis.
     
     Com quase 20 anos anos, participar da 'revolução' era o máximo. E assim, passada a fase de aliciamento e doutrinação, eu ia finalmente experimentar, ver de perto, o que era a praxis: fui  escalada para trabalhos com a 'massa', na periferia do Distrito Federal. Acabei sendo presa antes, graças a Deus(sic).
     
     Eu cheguei a visitar um tal 'círculo operário', em Taguatinga, nos arredores de Brasília. Até estranhei, o lugar mais parecia uma associação comunitária assistencial, acho que estavam testando a minha disposição de 'ir à luta".
      
     As análises do 'momento histórico', nestas reuniões de doutrinação de que eu participei, tinham enfoque nitidamente revolucionário. A proposta era de destruição do Estado burguês capitalista, instalação da ditadura do proletariado/campesinato (a APML era maoísta) e nenhuma negociação com a velha ordem burguesa.
     
     Usar os instrumentos da democracia, como eleições, liberdade de imprensa, aparato jurídico, habeas corpus etc - para permitir e acelerar a tomada do poder para a implantação do comunismo - era um dever do militante revolucionário.
      
     Marx e Lênin nos explicavam que 'liberdades democráticas' eram apenas instrumentos da burguesia para oprimir o verdadeiro sujeito da História: o povo trabalhador.
      

     A instalação de uma ditadura comunista era a proposta de todos os grupos de luta armada no Brasil, àquela altura. E também de grande parte da esquerda não engajada diretamente nas organizações. Admitamos e confessemos:todos nós sonhávamos com o comunismo. 
       
     A fórmula era (e ainda é) esta: a vanguarda revolucionária luta para tomar o poder, que será concentrado em suas mãos para que ela faça as modificações que achar necessárias à transformação radical da vida humana e do mundo.
  
     E, por lutar para concretizar tão nobre (e hipótetico) futuro, o revolucionário está acima de qualquer julgamento da espécie humana. No final, a História o absolverá.
     
      Esta é a essência da mentalidade revolucionária até hoje. Esta é a verdadeiro ideologia que a organização a que pertencia Honestino Guimarães professava. Não sou eu que quer assim. É assim, foi assim. Honestino Guimarães falava em democracia apenas como cortina de fumaça para seus verdadeiros objetivos. Era um instrumento na luta  para se implantar a ditadura comunista.
     
      As provas documentais de que esta é a verdade estão à disposição de quantos queiram conhecê-la(s). Existem dezenas de páginas só de fontes primárias sobre o assunto.
      
     Se Honestino Guimarães é herói de tantos que o cultuam como 'o mártir que a ditadura militar assassinou', nada tenho a ver com escolhas pessoais. O meu assunto é outro. Eu estou interessada na verdade. A ditadura o matou, mas Honestino não deu sua vida pela democracia.
      

     À parte isto, eu repito: é inegociável a condenação incondicional da tortura, da violência e do desrespeito aos direitos humanos de militantes da esquerda. O Estado não pode torturar, matar e desaparecer com um único cidadão.

5 comentários:

  1. Essa sua verdade fará parte da Terceira Onda da Verdade, a Verdadeira, que ficará na História! Lúcida! Pós-traumática de ter sido, em suas ideias, 'mentalmente estuprada' por comunistóides derrotados. Existirão milhares como você, que sabe que foi usada (desde jovem, eles sabem que podem converter os pós-adolescentes - eles são 'todos', quer da direita, quer da esquerda, maldosos em seu interior, sem empatia por ninguém, em nenhuma situação). Estamos (2013) na Segunda Onda, a da Mentira da Esquerda, ocultando as Verdades sobre seus 'Comandados da Ditadura Comunistante' após a Primeira Onda, a da Ocultação de toda a Verdade do Regime Forte. Parabéns, por não se omitir, em prol da Verdade Verdadeira. Sei que a Comissão da Verdade da Dilma não a convocará, pois não querem ouvir a Verdade. Obrigado. (a propósito, nasci em 1965 e sou filho de meros professores civis que não atentaram contra ninguém, trabalhadores honestos que eram; não visavam à vida fácil da mamata política, quer daqueles tempos, quer dos atuais).

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  2. O mais significativo dentre outros acima citado -pincei esta brilhante verdade que as esquerdas mais "pregam" uma tamanha mentira: "falava em democracia apenas como cortina de fumaça para seus verdadeiros objetivos. Era um instrumento na luta para se implantar a ditadura comunista".

    Concluo aos que enfrentaram a 'nova ordem' que combateu o comunismo e perderam a vida - nenhum deles LUTAVA por uma DEMOCRACIA. Esta é verdade escondida!

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  3. Ler algo assim apenas reforça em mim a certeza que abandonei em tempo a esquerda, e todo e qualquer discurso extremista.

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  4. Parabéns, a verdade realmente é libertadora e sanativa.

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