terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A República da Acerola

"Roberto,
     venceste. O teu relato ecomaterialista dialético de viés marxista-ornitológico é irrespondível. Gelei quando li A República da Acerola.
     Eu acuso o golpe e confesso: me rendo. O que dizer a um homem que quando olha colibris enxerga no comportamento natural de simples avezinhas a analogia com a forma medonha do egoísmo humano? Como alguém pode transferir para a natureza a face repulsiva da opressão e da exploração do homem pelo homem? O que leva um autodenominado "professor universitário, psicólogo, pedagogo e escritor" a se referir a um grupo de prosaicos passarinhos como 
'posseiros', 'latifundiários',   'opressores', 'capatazes' e 'paus-mandados" 
e ver na disputa por um pouco d'água entre pássaros a 'organização dos pequenos' , 'o pesadelo dos grandes', o 'conflito', e outros conceitos que ficariam melhor em panfletos esquerdistas de inimigos da riqueza do que em compêndios de sociologia ou em páginas líricas da literatura?
    E os entretítulos? O que é aquilo?! "A gênese do poder, A imposição do poder, A incapacidade de organização, Da incapacidade de leitura da realidade, As mudanças geradas pela opressão, A outra república"! Meu Deus! 
De onde tu tiraste os fundamentos para as tuas observações do mundo, animal?
 Fico imaginando, Roberto, como tu deves ver a "elite". O que alguém que consegue ver tanta maldade em inofensivos passarinhos sente quando vê um homem rico, de carne e osso? Que sentimentos te despertam um fazendeiro, um empresário ou comerciante, destes que arriscam  dinheiro na livre-iniciativa, produzindo, gerando empregos e concorrendo no mercado? 
Ou, por acaso, tu pensas que não existe risco no capitalismo e que ninguém perde dinheiro? Para ti, o que estes homens são?
 Proudhon acha que toda propriedade é um roubo, tu também? Tens algum respeito pela propriedade privada, incluindo a tua? Ou, no poder, tu farias degolar todos os capitalistas, qualquer um, um a um? Ora, afinal são apenas homens maus da "elite que quer se perpetuar no poder e continuar exibindo o seu poder absoluto."
    Para recordar: Lurian, a filha de Lula, viveu em Paris na casa do casal Luis Favre (ex-marido de Marta Suplicy) e Marília Andrade, filha do empreiteiro Sérgio Andrade, dono da Andrade Gutierrez. Tu sabes, só se confia a própria filha a gente muito amiga.
    Eu sei que tu deves ser leitor profundo do marxismo, mas não custa relembrar o que diz um dos mais insistentes críticos de Marx, o também marxista Robert Kurz, no livro " O Colapso da Modernização - da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial".
     "Marx nunca deixou  de ver o lado positivo, progressista, emancipatório da concorrência, chamando-o de 'missão civilizatória do capital'. Joseph Shumpeter nota, com certa surpresa, que a despeito de sua crítica aos fundamentos do capital -  e a despeito de declarar a sua sentença de morte-, Marx teria, ao fim e ao cabo, oferecido uma "descrição que, por pouco, não chega a enaltecer as conquistas do capitalismo". Na verdade, a crítica da economia política de Marx somente tem em conta a ambigüidade da dinâmica capitalista".
    Tu vês, são marxistas falando de Marx e do capitalismo. Lembra-te: na igualitária e socialista Cuba tu não poderias ter um computador. Não porque ninguém tem, mas porque o Estado diz que tu não podes ter. Fidel Castro sabe que a Internet é armamento pesado na luta pela liberdade de expressão e livre discussão de idéias.
     Para mim, socialismo e comunismo são um mal intrínseco. Basta ver a pilha de cadáveres que estas utopias produziram em menos de 100 anos, a partir da Revolução Russa: fala-se em até 75 milhões na China, mais de 30 milhões na URSS, 2 a 3 milhões no Cambodja, 100 mil em Cuba e vai por aí. 

     O comunismo matou mais do que todas as tiranias e guerras que a humanidade viu em dez mil anos de civilização. Quanto ao capitalismo, com todos as imperfeições, ainda é melhor que a matança e a miséria que o comunismo produz.
     O "mercado" é invenção humana milenar, desde que 
o homem existe ele troca coisas. Para que criar "algo novo que nunca existiu", a tal economia estatal planificada, como queria Marx? Tem mais: 'paraíso na terra' é conversa de comunista. 
      Para mim (sou católica), 'terra sem males', 'sociedade sem classes',ou 'mundo de igualdade onde corre o leite e o mel', é heresia, 'milenarismo', a Igreja Católica condena. Paraíso teve um, lá no início. O homem não quis, preferiu o conselho da serpente, ser Deus. Paraíso de novo, só na eternidade. 
    Roberto, tu és um homem perigoso. Tremo só de pensar o que tu "aprendes" observando a sociedade dos seres humanos. Sem querer, na apresentação daquele relato sensível tu te traiste e escreveste "aprendo também como os animais". Quem sou eu para discordar.
    Querendo ser original, tu mostras que não entendes nem de biologia nem de marxismo. Marx não admite fundamento ontólogico nem tampouco determinismo biológico para - digamos assim - a maldade humana. As relações são sociais. A exploração surge, no modo de produção capitalista, das contradições entre as relações de produção, os meios de produção e a força de trabalho. Para o marxismo, o homem não é, o homem faz.
    Tu certamente vais argumentar que escreveste a República da Acerola como analogia, só para comparar. O absurdo é comparar, o perigo é equiparar. É assim que tudo começa.
    Ou acaba. Afinal, equiparar homens a bichos é um dos modismos do mundo atual. Esta é a tese defendida, com sucesso, por animais como o australiano Peter Singer. Ele afirma que considerar o homem superior às outras espécies equivale a uma raça se considerar superior a outra. Daí, o especismo (uma espécie de racismo), que ele combate.
    O que Singer não diz é que ratos, gatos ou mesmo graciosos beija-flores e vivis não são pessoas.  Pessoa é substância individual de natureza racional, na definição de Boécio. O Aurélio define assim: ser ao qual se atribuem direitos e obrigações.
     No reino animal, só o homem é pessoa. Ele é o único animal que possui razão e vontade. Com a razão, ele conhece a realidade. Com a vontade, ele escolhe o certo e o errado. Por isto, o homem é o único ser que é livre.
     Tu escreveste: "Os outros passarinhos viviam privados do alimento, mas tinham a liberdade de escolha" (sic). E mais: 'eles ainda não têm domínio da sabedoria do bem comum" e "eles ainda não descobriram que a organização dos pequenos é o pesadelo dos grandes". O que isto quer dizer?  Você acredita que eles ainda terão e ainda descobrirão? Vão evoluir?


       Vê: tu dizes que sou eu a pessoa amarga. Cá prá nós, se a alternativa for a bondade e sensibilidade que tu demonstraste ao observar e aprender com um punhados de vivis e beija-flores, que Deus preserve e aumente a minha amargura.


    Que Ele te ilumine.
    Amém.


Mírian 


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      A república da acerola
               Roberto Ribeiro de Andrade

                                   
                                                     O beija-flor posseiro

Resolvi criar alguns passarinhos, soltos, a minha janela, para o descanso da tela do computador. Deu certo.
Coloquei um bebedouro com água doce e poucos dias depois, o alpendre, onde pendurei o alimento, estava sendo visitado. Um dia contei: 8 Beija-flores e 4 Vivis. O pé de acerola plantado na calçada, é o pouso da passarinhada que fica por ali entre uma e outra bicada.

A gênese do poder
Os Vivis, uns passarinhos pequenos parecidos com canários, com um  vivinar sem graça, tiveram uma fase de aprendizagem: Tentavam fazer como os Beija-flores parados no ar se alimentando. Não deu certo. Perceberam que, a vocação deles era outra. Não podiam agir como se fossem outro bicho, e descobriram que, se prendendo com as unhas nas flores artificiais, de onde se retira o líquido,  podiam sugar a água doce sem dificuldade.

Percebi que, aqueles bichinhos tinham muito a me ensinar, e passei a observá-los com mais atenção.
Como meu computador deu pane fiquei alguns dias sem observar pela janela, e na volta notei que a quantidade de passarinhos tinha diminuído. Constatei também que, o consumo da água era menor. Fiquei preocupado, pois sabia que, se a água com açúcar fermentasse com o calor, poderia provocar a morte daqueles bichinhos. Fui surpreendido, no entanto com nova descoberta: Naqueles poucos dias de ausência havia se estabelecido uma correlação de poder que, mudara toda a vida dos passarinhos. Um Beija-flor resolvera se apropriar do bebedouro. Não permitia o uso do alimento para aqueles pássaros que não lhe conviesse.

A imposição do poder
O pé de acerola havia se transformado em um assentamento dos “sem água doce”. Os Vivis ficam no pé de acerola esperando que o “Beija-flor-vigia” se ausente para invadir o bebedouro. Aquele que se aventura a tomar água na presença do “Beija-flor-latifundiário” é perseguido sem piedade. Os outros Vivis ficam parados sem ação.
Fiquei a me perguntar o porquê daquele comportamento de posse, já que o líquido era farto e a disposição de todos. Coloquei dois bebedouros para resolver o conflito. Nada. O “Beija-flor-posseiro” passou a vigiar os dois bebedouros. Aquele Beija-flor que adornou o espaço sofria (penso eu) permanecendo pregado no galho do sabugueiro o dia todo, na privação do que podia fazer. Os outros passarinhos viviam privados do alimento, mas tinham a liberdade de escolha. Toda a bicharada perdia, no entanto, desnecessariamente.

A incapacidade de organização

O “Beija-flor-proprietário” era mais bicudo e linguarudo que todos os outros, e muitas vezes perseguia também um ou outro  de sua espécie, mas o impedimento rigoroso era com os Vivis, salvo se eles se tornassem Beija-flores, ou seja, bebessem o líquido parados no ar em torno da flor de plástico. Alguns tentavam, mas quem nasce vivi nunca poderá ser Beija-flor.
Essa coisa de um fazer o jogo do outro só para receber vantagens, nunca deu certo.
Algumas vezes eu contava até quatro Vivis no pé de acerola. Imaginava que mesmo o Beija-flor sendo mais rápido, mais bicudo e mais linguarudo, os 4 bichinhos juntos poderiam ter vantagens: Enquanto uns se ocupavam do “Beija–flor-dono” os outros podiam tomar água. Depois revezariam os papéis.
Eles ainda não descobriram que, a organização dos pequenos, é o pesadelo dos grandes.

Da  incapacidade de leitura da realidade
Eles  ainda não têm domínio da sabedoria do bem comum. Pior, muitas vezes um Vivi perseguia outro Vivi, para impedir que tomasse água quando o “Beija-flor-proprietário” estava ausente, como se quisesse assumir o papel do latifundiário ausente, ou quisesse agradá-lo para merecer alguma vantagem, assim como fazem os capatazes, os paus-mandados, etc.
Daqui, do outro lado da janela, tão perto e tão distante, fico a refletir uma frase que todos nós já ouvimos: “Se eu fosse ele (o Vivi) eu faria...”, mas cada um faz o que pode e o que sabe.
Quando a gente está de longe, observando, sem o peso das circunstâncias, conhecendo parcialmente o processo, tendo o tempo e sabedoria aparente a disposição é muito fácil, o difícil mesmo é mudar apenas com as ferramentas que dispomos.

As mudanças geradas pela opressão
Tenho percebido que, ultimamente, depois que o beija-flor latifundiário passou a perseguir, os passarinhos da sua espécie, o número de beija-flores diminuiu. De vivis também. Apenas dois beija-flores persistem: um grande, do tamanho do “posseiro” e outro menor. Bem menor: tem uma cor azulada brilhante. De quando em vez ele visita a sala onde trabalho
Observei, com muita surpresa uma ação  do beija-flor pequeno: algumas vezes ele  se agarra na flor de plástico, com as unhas, como fazem os vivi, para beber.  Naturalmente não tenho uma resposta  pronta para o fato, mas se fizer uma leitura sobre o que acontece conosco teremos vários exemplos de pessoas que mudam de atitudes, naturais, diante de uma situação difícil ou constrangedora. Escolhemos, nos encolher, nos esconder ou  nos organizar com outros que sofrem da mesma imposição.
Atualmente,  o beija-flor pequeno   e ousa simultaneamente o mesmo bebedouro.


A outra república
Lembro-me do companheiro Lula, caindo no descrédito de tanta gente: não tem diploma universitário e coisas parecidas.  Sei que uma reação da elite que, está sendo ameaçada  de perpetuar no poder. Esse fato já se repetiu outras vocês, na Historia.
 Os Vivis  desorganizados,  continuam com muita dificuldade de se alimentarem, devido ao poder instituído da ave opressora. Isso  é trunfo do “Beija-flor-latifundiário.
A água continua farta. O “Beija-flor-latifundiário” é apenas um e continua exibindo seu poder absoluto  Nunca conseguirá entender que, nenhuma ave pode ser dona da fonte que pode alimentar a todos,”. mas essa ave têm o cérebro menor que um caroço de azeitona!...
http://www.coisasdepoeta.kit.net/coisasdepoeta/intro.htm




2 comentários:

  1. o "cara" sofre de problemas patológicos gravíssimos, ainda me pergunto: porque eu li o texto desse senhor? mesmo sendo avisado com seu artigo, não acreditei e conferi a teoria do imbecíl... vovô já dizia: "louco tu tem que deixar correr para o lado que dispara, não adianta ir contra"... parabéns Mirian.

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  2. É um fato curioso a ausência da análise pelos psicólogos da mente de um comunista. A ciência, respeitada em sua metodologia, não deveria escolher os objetos de seus estudos, levando em consideração posicionamentos políticos ou ideológicos. Mas não é de interesse dos psicólogos o comportamento e atitude dos seres humanos? Será humana a mente de uma pessoa que defenda a humanidade, mas não tem nenhum impedimento em assassinar o próximo pela simples divergência de visão ou opinião? Que tipo de mente se coloca favoravelmente á qualquer delito com a expectativa de que se faz por um processo de libertação, sendo que esta é a primeira vítima do processo? Como pode um intelectual(?),às vezes até professor de universidade, ignorar o passado e o presente de países que ainda impõem o comunismo como regime e que vivem cerceados em algo que é um dos mais importantes direitos do homem que é o direito à sua liberdade? Como ignorar que as maiores conquistas históricas feitas com sangue, suor e lágrimas foi pela libertação? Como podem pensar, se é que pensam, que existem um grupo que tem o direito de submeter toda uma população aos seus propósitos? Como podem ignorar que o muro só existia para um lado, pois a ninguém do outro pensava em atravessá-lo para o paraíso comunista? Como podem ignorar as diferenças entre a Coréia do Sul para a do Norte? A implosão do sistema nas URSS?
    Como podem ignorar que centenas de milhares de cubanos preferiram enfrentar os perigos do mar a enfrentar os tribunais castristas? Dois princípios comandam o ser humano, a sobrevivência e a liberdade. É possível tirar a liberdade de um homem e fazê-lo viver(?) uma longa vida. Mas com que sentido? Uma alimentação frugal também damos aos nossos gatos e cachorros para que fiquem conosco enquanto assim o desejarmos. O sentimento comunista é preparado de tal forma que ele está convencido de que a vida humana nada vale podendo ser sacada a qualquer momento em nome do interesse de alguém. Essa idéia de coletivo é absurda, pois cada homem somente vive dentro de si mesmo. Nenhum outro pode sentir o que um homem sente. É uma falácia imaginar o homem, por imposição da força, tornar-se altruísta. Ou se é por espontânea vontade, ou não se é altruísta. Sem entrar no mérito da questão que não há como nos fazer iguais. Não somos peças de alguma máquina perfeita. Fazemos parte de um processo onde vamos nos transformando, individualmente, em seres com níveis diferenciados de consciência e é esta exatamente o que nos diferencia. E ela não pode ser inculcada por decreto ou por vontade do Estado. É sim, com toda a certeza, um perigo para os homens a mente de um socialista, de um coletivista. Imaginar que a sociedade humana é um grande sistema onde a parte não tem nenhum significado para o todo, pois o importante é o todo é uma falácia perigosa. Recorro à Ludwig von Mises, economista austríaco, autor da memorável obra "Ação Humana"." A idéia de uma sociedade que operasse ou se manifestasse independentemente da ação dos indivíduos é absurda. Com efeito, embora o todo seja a soma de suas partes, deveria ser evidente, mas infelizmente não o é - que esse todo, ou seja, a sociedade, não pensa, dorme, compra, vende, toma café, vibra com os gols do seu time ou canta uma canção, como os indivíduos que a formam o fazem cotidianamente".
    Um estudo sério de psicologia chegaria com certa precisão ao fato de que existe tanto a dependência física pelas drogas, como também existe a dependência intelectual pelas ideias esdrúxulas. O que destrói o sonho socialista não é a direita, o burguês, o conservador, a oposição, mas a cruel realidade. Para o economista socialista o que se lhe opõe à realização de sua utopia é a matemática.

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