sábado, 5 de maio de 2012

"Eu não sou afro-descendente. Eu sou brasileiro."



 










 




Adhemar Ferreira da Silva
"A dois saltos da eternidade"
por Cintia Rabaçal *
  
 


Portal – Como sr. vê a condição dos afrodescendentes no Brasil?

Adhemar – Olha, vocês não vão gostar, mas eu não tenho nada a ver com afro-brasileiros. 

Portal – O sr. não se considera um afrodescendente?
Adhemar – Eu não. Eu sou brasileiro! Não tenho nada com África. Nada, nada, nada com África. E digo sinceramente porquê. Estive três anos na Nigéria, e em nenhum momento eu ouvi os nigerianos falando em afro-brasileirismo, ou Brasil/África, ou qualquer coisa assim. Eles jamais ligaram para a nossa existência. Portanto eu não tenho nada a ver com eles.

Portal – É verdade que o sr. é rejeitado pelos movimentos afro-brasileiros, tanto pelas alas extremistas, quanto pelos mais moderados?Adhemar – Eu não sei, mas acredito que sim, porque por duas vezes eu fui candidato a deputado e não recebi apoio nenhum, mas nenhum, de negros; só recebi dos brancos. Então eu não sei o que acontece, se sou rejeitado. E se sou, também estou pouco ligando para isso.

Portal – Para o sr. isso não é importante?Adhemar – Para mim não, não é. Nada, nada importante. Na verdade eu sempre fui, sim, rejeitado pelos negros. E isso eu acho que é uma burrice, uma ingenuidade, uma falta de educação, falta de tudo. Porque quando dizem que eu só procurei os brancos, ora, eu entrei para o esporte, num clube de brancos! Não existiam clubes de negros! E todas as vezes em que eu recebi algum tipo de auxílio, seja para o estudo ou para o esporte, eu recebi dos brancos. Então eu não vejo porque teria de ser rejeitado. Isso me entristece muito, mas muito mesmo. E não só por mim! Eu vejo pela minha filha, também (que é cantora, além de ser jornalista). Em todos os shows dela a platéia está lotada, mas de brancos, seja o espetáculo pago ou gratuito. Quer dizer, o negro não dá suporte ao negro, essa é a verdade. Do contrário nós estaríamos em melhores condições, poderíamos ser como os negros americanos. Mas acho que o negro brasileiro não sofreu o bastante, só fica preso àquela questão de senzala.

Portal – Quais as diferenças entre os negros brasileiros e os americanos?Adhemar – Bem, graças a um Lincoln, que abriu quatro escolas um dia depois da abolição da escravatura nos Estados Unidos, os negros tiveram condições de estudar e galgar postos na vida norte-americana. Hoje há um grande número de médicos, advogados, almirantes, brigadeiros, enfim, os negros americanos ganharam condições. E são unidos, ganham força com isso. Porque quando não conseguem melhores condições de trabalho, eles formam suas próprias empresas, até universidades. Agora, o negro brasileiro jamais se uniu para poder fazer qualquer coisa em torno de si mesmo. Por falta do dinheiro, o número de negros nas universidades brasileiras, públicas ou particulares, é sempre muito pequeno, uma minoria. E ninguém se une para nada. Só ficam gritando nas ruas "nós, os negros; nós, os negros". Isso não leva a nada.




 Entrevista completa, concedida por Adhemar Ferreira da Silva em dezembro de 2000, poucos dias antes de morrer, no dia 12 de janeiro de 2001), no link: http://www.portalafro.com.br/entrevistas/adhemar/entrevista.htm









 



3 comentários:

  1. Senhora Míriam!

    Sou brasileiro, mulato de pai negro e mãe branca e portanto não haverá problema se eu falar mal dos negros. Realmente essa entrevista deste nobre brasileiro me impressionou!

    Nunca gostei do modo como tratam os negros, ou do modo comos os negros se veem como coitadinhos!

    Nunca gostei disso mesmo pois desde conheci o Olavo e comecei a pensar e me desfazer dos escrementos politicamente-corretos marxistas, eu parei de me ver como coitado, e tambêm parei de ver o negro como coitado! Isso já encheu o saco!

    O povo Judeu, assim como o negro, foi escravizado no egito, massacrado pelos cossacos na Russia na cifra dos 50.000, na Alemanha Nazista foram mortos aos milhares, na Espanha e na França foram morbidamente discriminados e humilhados, e veja como esse nobre povo judeu está hoje! São um dos povos mais ricos do mundo, nos paises capitalistas estão entre as elites e em geral acima delas! E estão lá em cima porque não ficaram de chororo e se fazendo de vitima, foram a luta, não se fizeram de coitadinhos!

    E os negros do Brasil? foram escravizados, sim, foram privados de bens, sim, E DAI?? o Judeu tambêm foi e estão entre as nações e povos mais prosperos do mundo, pois não perdem seu tempo precioso com coitadismo e vão suar a camisa!!!

    Sou mulato e me sinto tão igual em condições intelectuais e de vontade de crescer quanto um Anglo-Saxão, Judeu, Dinamarques, Americano, Japonês e etc, etc, etc!!!

    Não tenho pena de pobre não, pois já vivi na pobreza e não morri, e deu duro e estou na Faculdade hoje!!

    O Judeu foi escravizado, discriminado e assassinado assim como os negros e mesmo assim arregaçou as manga e foi lutar e venceu, ou seja: Qual é a disculpa pro negro ser tão pobre? o Judeu sofreu o mesmo e se levanto e o negro? Qual é a desculpa agora?

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    1. Bonifácio, sou muito grata pela tuas palavras sinceras e inteligentes. Eu já escrevei, o negro valia ouro como escravo porque era forte, saudável, inteligente, esperto e alegre. Se fosse fraco e burro, não valeria nada, daria prejuízo aos seus 'donos' e negociantes. Quanto à minha ascendência, eu não tenho sangue negro, a não ser que seja muito distante e remotamente. Até onde pude voltar, ao refazer a minha árvore genealógica, não encontrei antepassados negros. Eu sou morena clara de olhos verdes. Não escolhi meu fenótipo, não tive controle sobre minha aparência física. Eu não posso inventar outra herança genética. Mas o que sabem estes 'ofendidos' sobre as condições materiais de minha vida? O que eles sabem de minha infância e adolescência? Quem lhes pode dizer das privações por que passei? Posso te assegurar que, a par de experiências duríssimas e de uma vida sem conforto em bairro precário de periferia, eu não sou ressentida, nem amarga. Nunca me senti-me um 'rato' nem pior do que ninguém , ainda que doesse e me sentisse desconfortável no confronto com pessoas melhor aquinhoadas pela vida. Eu nasci em berço de ouro, fiz o primário em colégio francês, mas os 'imprevistos' da vida fizeram de parte de minha infância, adolescência e juventude uma prova de resistência. Vivi tempos difíceis, estudei sempre em (excelentes) escolas públicas, inclusive a universidade (a UnB), onde entrei sem fazer cursinho. O meu diferencial foi sempre gostar de estudar, sempre fui uma das primeiras alunas da sala. Formei-me em Jornalismo (e quase completei o curso de Antropologia) com média geral 4 (o máximo era 5. A partir dos 18 anos, eu trabalhei para me sustentar, não morava com meus pais. Eu sei o esforço que tudo isto me custou. Faz-me rir ver negros 'oprimidos', que exibem fotos de suas viagens ao exterior e das movimentações pelos circuitos culturais glamurosos de cidades cosmopolitas como São Paulo, virem a meu blog me chamar de 'racista burguesa nojenta". Deus julgará.

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  2. acho errado falar afro descendente até porque ninguem vai falar nipo descendente ou euro descendente ,até porque uma pessoa pode ser afro descendente e ao mesmo tempo ser germano descendente ,conheço muitos então...gostando ou não,a maioria de nós é morena ou parda ou chamem como quiser ,temos o pé sim na africa e outro na europa e outro aqui mesmo e quem não gostar que vá se tratar

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