terça-feira, 7 de agosto de 2012

Padre Salmito: a perdição de Genoíno. (2)

Reportagens28/07/2003
  
 
  
Fotos: Reprodução
‘Naquela hora eu pensava na minha família, que esperava ter um filho doutor para ajudá-los’ José Genoino,
sobre o momento
da prisão em Xambioá
 
  
Fotos: Reprodução
Os pais Maria Laís e Sebastião Guimarães
Gente Fora de SérieJosé Genoino
Capítulo 1
Da infância pobre à guerrilha
continuação
 
– Consegui com as freiras Filhas de Santa Tereza que o Genoino estude lá sem pagar – disse a Sebastião.
– Não, padre. Filho de pobre que nasce na roça tem que trabalhar é na roça mesmo – respondeu o pai de Genoino.
– Mas seu filho é esperto, inteligente, não dá para perder essa oportunidade – retrucou o padre, diante do olhar arregalado de Genoino, que escutava a conversa dos adultos calado, num canto da sala.
– Deixe, Sebastião, é melhor para ele ir estudar. Deixe ele ter um futuro melhor do que esse da roça – interveio a mãe.
A conversa durou mais de meia hora. Contrariado, Sebastião cedeu. Genoino vibrou quieto, para não provocar o pai. E sua vida mudou com a ajuda do padre.
Aos 14 anos, deixou para trás a enxada, a casinha de tijolo, os pais e os, àquela altura, oito irmãos (no total são 12) para seguir padre Salmito. Foi morar na casa paroquial, ajudava a rezar as missas, fazia hóstias, cuidava da administração da casa e do salão da igreja, enquanto ia à escola. Teve que superar dificuldades. “Nunca tinha colocado sapato nos pés. Andava torto, mancando”, lembra. Também agüentou calado o incômodo apelido de “filho do padre”. A amizade entre o jovem e o religioso cresceu. Padre Salmito sabia dos flertes do rapaz na escola e até achou graça de sua paixão platônica por uma freira. “Conversávamos sobre tudo e foi com ele que comecei a entender a política”, lembra Genoino.
Foi também com o padre que Genoino entrou pela primeira vez num prostíbulo. “Fomos dar a extrema-unção para a
dona da casa, que estava doente”, conta. “Achei tudo estranho, aquelas mulheres tão maquiadas, corpo à mos-
tra, casa cheia de enfeites.” Entrou e saiu mudo. Bem diferente da atitude que tomou quando o dono do cinema
de Senador Pompeu decidiu acabar com a meia-entrada
para estudantes. Revoltados, quebraram tudo a pedradas. Foi seu primeiro ato de rebeldia.

Genoino começou a descobrir um novo mundo nas pregações esquerdistas do padre que ajudava trabalhadores a se organizarem em sindicatos e cooperativas. Participou dos encontros do Grupo de Estudantes Católicos (GEC) em Recife, Maceió e Campina Grande, onde conheceu Frei Betto, na época, o dirigente nacional do GEC. “Passamos vários dias juntos discutindo questões sociais. Era um grupo imenso e foi um encontro muito produtivo”, relembra Frei Betto, hoje assessor especial do presidente Lula.
Fotos: Reprodução
Com os irmãos Laíde, Giovani,
Guimarães e Vagner no ano passado
Após concluir o Ensino Fundamental, Senador Pompeu se tornou pequena para as aspirações do rapaz que pensava em ganhar dinheiro e ajudar a família. Para cursar o Ensino Médio, teria de se mudar para a capital. De novo, não tinha condições. Padre Salmito o ajudou. Arranjou
uma família amiga para abrigá-lo em Fortaleza, onde
Genoino chegou meses antes do golpe militar de 1964.
Fez exames do MEC e conseguiu terminar em um os
três anos do Ensino Médio.

Falante e animado, logo fez amigos na capital. Conver-
sava cada vez mais com uma vizinha, professora universitária, 15 anos mais velha, que certa vez o con-
vidou para ir ao cinema. Estava para completar 18 anos.
A caminho do encontro, nervoso, pressentiu: sua vida
estava para mudar radicalmente outra vez. Mas agora,
pelas mãos de uma mulher.

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2 comentários:

  1. Uma história tão nobre no início e tão estragada no final!!! Que lástima!

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  2. .
    Assim ocorre a (de)formação mental de um esquerdopata! Por trás de um "ideal" puro e revolucionário em prol dos despojados e explorados, atitudes criminosas que nunca o serão em suas mentes, vez que visadas em favor da "causa" (o pobre Celso Daniel que o diga?!).
    .
    E se jamais o serão, como delas se arrependerão, farão contrição e encetarão um novo caminho? De modo nenhum, nunca! É por isto que muitos e muitos dos "que aí estão" e que "lá estiveram", continuam com o mesmo ideário, modificado apenas pelo oportunismo! São verdadeiros tarados do totalitarismo, que infiltram e "aparelham" a Democracia para DESTRUÍ-LA por dentro!
    .
    Daí a explicação simples para a ocorrência do MENSALÃO e das tentativas absurdas e escandalosas de negá-lo e às suas consequências se furtarem! Nada de mais cristalino, se observado através da perspectiva correta!

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