quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Resumindo: bom para índio Guarani-Kaiwá é jesuíta.

           

    Darcy Ribeiro (a despeito de ter desperdiçado sua inteligência exuberante com análises marxistas indigentes) é o maior antropólogo brasileiro. Ele (con)viveu particularmente com os índios da região compreendida pelo sul do Mato Grosso, oeste de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

    Eis o que diz Darcy Ribeiro em seu livro Os índios e a Civilização - A Integração das Populações Indígenas no Brasil Moderno:
  

  "Esta foi uma das regiões de maior densidade demográfica do Brasil indígena. Aí os jesuítas conseguiram juntar a maior parte dos índios que povoaram suas célebres missões do Paraguai. Graças a uma organização econômica coletivista, elevaram essas tribos guarani a um nível de desenvolvimento material e de domínio de técnicas européias jamais alcançados depois.

   Mas constituíram, também, verdadeiros viveiros de escravos, primeiro para os bandeirantes paulistas - que, segundo cálculos exagerados dos jesuítas, mataram e escravizaram mais de trezentos mil índios missioneiros-, depois para os fazendeiros paraguaios, que, com a expulsão da Companhia de Jesus, se apossaram das missões, tomando a terra aos índios e levando-os ao último grau de penúria e desespero"

  "Após a destruição das missões jesuíticas, uma parte das tribos guarani que as povoaram fundiu-se com a população rural do Paraguai: são os Guarani modernos. Outra parte fugiu para as matas, indo juntar-se aos grupos que se tinham mantido independentes, voltando a viver a antiga vida de lavradores e caçadores. Estes são os Kaiwá, Guarani primitivos, contemporâneos."

  Os guarani, no início, viveram sossegados porque a mata que ocupavam não tinha interesse para os criadores. Mas o sossego durou pouco: a erva-mate nativa atraiu a cobiça dos extratores; em pouco tempo, os índios começaram "a ter suas terras exploradas por paraguaios que, falando também o guarani, puderam mais facilmente aliciar os índios para o trabalho, ensinar-lhes as técnicas de extração e o preparo da erva e acostumá-los aos uso de ferramentas, panos, aguardente, sal e outros artigos, cujo fornecimento posterior era condicionado à sua integração comno mão de obra na economia ervateira".

  •   O domínio da região pelos ervateiros e a integração dos guarani no processo econômico acabou levando a maioria das tribos "ao colapso pela impossibilidade de conciliar as exigências do trabalho assalariado individual com sua economia coletivista." 

      Deste modo, os Guarani escapos das missões, dos paulistas e dos colonos paraguais caem novamente na penúria e no desespero a que tantas vezes já os tinha levado o contato com a civilização".

      Resumindo: tempo bom para os índios Guarani-Kai(o)wá foi o dos jesuítas.

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