sexta-feira, 15 de março de 2013

A isca do Espírito Santo


      Papa Francisco fez a sua primeira homília de improviso. Em perfeito italiano, que não é a sua língua, ele nem vai muito a Roma. Francisco falou como se estivesse numa paróquia no interior da Argentina, pregando para gente simples. Não gaguejou, não ficou nervoso, não procurou palavras.

     Quando transcrita, a homília é um texto que não precisa de qualquer arranjo, ou reparo. Sete minutos. O mundo ouvindo. Falou perante o colégio de cardeais. Não faltou nada, não sobraram palavras. 

     Pregação magnífica, essencial, profunda, acessível a cardeal e a carroceiro. Bento XVI assinaria. Quanto mais se a lê ou se a ouve, mais o seu sentido se desdobra, mais ela esclarece, orienta, converte. 

     Há quem esteja em suspenso, temeroso de que Francisco nos faça passar vergonha, com uma das suas 'espontaneidades', caipiragens ou 'pobrismo", como já se leu por aqui nestas plagas (ou pragas?) facebookianas. 

     Mas Deus não nos mandou um papa Francisco só por capricho. Nós é que sentiremos vergonha de nós mesmos, por nossa empáfia, falsa caridade e soberba.

     Como escreveu Camillo Langone, escritor e jornalista italiano, "nós temos um Papa que ama a Madonna Povertà à maneira de seu grande homônimo, ou seja, misticamente, não sociologicamente". Para Langone, Papa Francisco é "a isca que o Espírito Santo deu aos cristão para que se façam de novo pescadores de homens."

SANTA MISSA COM OS CARDEAIS
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Capela Sistina
Quinta-feira, 14 de Março de 2013

Vejo que estas três Leituras têm algo em comum: é o movimento. Na primeira Leitura, o movimento no caminho; na segunda Leitura, o movimento na edificação da Igreja; na terceira, no Evangelho, o movimento na confissão. Caminhar, edificar, confessar.
Caminhar. «Vinde, Casa de Jacob! Caminhemos à luz do Senhor» (Is 2, 5). Trata-se da primeira coisa que Deus disse a Abraão: caminha na minha presença e sê irrepreensível. Caminhar: a nossa vida é um caminho e, quando nos detemos, está errado. Caminhar sempre, na presença do Senhor, à luz do Senhor, procurando viver com aquela irrepreensibilidade que Deus pedia a Abraão, na sua promessa.
Edificar. Edificar a Igreja. Fala-se de pedras: as pedras têm consistência; mas pedras vivas, pedras ungidas pelo Espírito Santo. Edificar a Igreja, a Esposa de Cristo, sobre aquela pedra angular que é o próprio Senhor. Aqui temos outro movimento da nossa vida: edificar.
Terceiro, confessar. Podemos caminhar o que quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo, está errado. Tornar-nos-emos uma ONG sócio-caritativa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor. Quando não se caminha, ficamos parados. Quando não se edifica sobre as pedras, que acontece? Acontece o mesmo que às crianças na praia quando fazem castelos de areia: tudo se desmorona, não tem consistência. Quando não se confessa Jesus Cristo, faz-me pensar nesta frase de Léon Bloy: «Quem não reza ao Senhor, reza ao diabo». Quando não confessa Jesus Cristo, confessa o mundanismo do diabo, o mundanismo do demónio.
Caminhar, edificar-construir, confessar. Mas a realidade não é tão fácil, porque às vezes, quando se caminha, constrói ou confessa, sentem-se abalos, há movimentos que não são os movimentos próprios do caminho, mas movimentos que nos puxam para trás.
Este Evangelho continua com uma situação especial. O próprio Pedro que confessou Jesus Cristo com estas palavras: Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo, diz-lhe: Eu sigo-Te, mas de Cruz não se fala. Isso não vem a propósito. Sigo-Te com outras possibilidades, sem a Cruz. Quando caminhamos sem a Cruz, edificamos sem a Cruz ou confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor.
Eu queria que, depois destes dias de graça, todos nós tivéssemos a coragem, sim a coragem, de caminhar na presença do Senhor, com a Cruz do Senhor; de edificar a Igreja sobre o sangue do Senhor, que é derramado na Cruz; e de confessar como nossa única glória Cristo Crucificado. E assim a Igreja vai para diante.
Faço votos de que, pela intercessão de Maria, nossa Mãe, o Espírito Santo conceda a todos nós esta graça: caminhar, edificar, confessar Jesus Cristo Crucificado. Assim seja.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário