terça-feira, 26 de março de 2013

Magdi Allam: procura-se igreja

Annalena Benin
     
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          Magdi Allam renunciou. Num longuíssimo artigo publicado ontem em Il Giornale, ele explicou o sentido  de um final, as razões do adeus. Os motivos pelos quais, depois de cinco anos, ele não pode ficar um minuto a mais, não num jornal, não num movimento político, não num cargo profissional, não num matrimônio, mas na Igreja católica, onde tinha entrado com grande solenidade faz pouco tempo. 
          Allam foi batizado em 2008, durante a Vigília Pascal, por Joseph Ratzinger. Na época, acrescentou a Magdi o nome Cristiano (cristão, em português), e escreveu um livro intitulado "Obrigado, Jesus". Agora, como nas histórias de amor, disse basta, com  'sofrimento interior', mas com decisão irrevogável e a lembrança daquilo que foi: "Foram cinco anos de paixão".
         O desamor de Magdi Allam parece nascer do fato de que ele não conseguiu converter a Igreja Católica ao magdicatolicismo, fazê-la à sua imagem, e  tornar-se seu único porta-voz, como se fosse "Eu amo a Itália" (que ele criou em 2009),  como se fosse um movimento  político "que se fundamenta sobre o primado dos valores não-negociáveis". 
         Vítima talvez de um surto de narcisismo um pouco megalômano e de um sentido profético da existência, Magdi Allam julga que este novo Papa não se lhe adapta. Está  indignado porque acredita que Bento XVI tenha sido lançado muito depressa ao esquecedouro da história e acha que a igreja tornou-se demasiada  buonista (saco de bondades) e relativista. 
         Apesar de Allam-mão estendida, Allam-coluna reta, Allam-invectivas,  a Igreja não declara guerra ao Islam, mas ao contrário, o legitima como religião verdadeira e julga que a humanidade inteira deve conceber-se como  união de irmãos e irmãs.
       Para Magdi Allam,  deve-se ser bom, sim, mas somente com os compatriotas que tenham todos os documentos em ordem, um trabalho, um patrimônio. Todo o resto é buonismo inaceitável, que se encontra fora do alcance do "ama o teu próximo" (próximo, no magdicatolicismo,  deve ser entendido como 'italiano'; de todos os outros, se encarregará a seleção natural);  e Allam  tem certeza que Jesus desaprovaria todo este globalismo condescendente. 
        Mas a ofensa maior, e a verdadeira falta de respeito a Magdi Allam, foi a renúncia de Joseph Ratzinger, que ele tinha eleito o seu papa pessoal, chegando a perdoar-lhe até  a vez, antes de seu batismo, em que Bento XVI pôs a mão sobre o Corão, rezando em direção a Meca, em Istambul.

          Magdi Allam conseguiu superar aquele gesto (próximo à 'loucura suicida' que levou João Paulo II a beijar o Corão em 1999). E como  lhe paga de volta Ratzinger, agora? Indo embora para Castelgandolfo e abraçando o novo Papa, ambos vestidos de branco.
         Ele sentiu-se traído, posto de lado:" É é justo no momento em que à minha volta há sempre menos a presença de testemunhos autênticos e de credibilidade,  em paralelo com o conhecimento profundo do contexto católico de referência, que a minha fé na Igreja vacilou".
          Magdi Allam estava pronto para um papado de nicho (papato de nicchia) fundado sobre a convicção de que é necessário ser gentil só com os vizinhos de casa. É por isto que ele escolheu o cisma? Agora, ele procura casa, "como homem íntegro na integralidade da minha humanidade," que aspira a uma igreja sob medida, um papa preferido com um programa político preciso. O risco é que Magdi Allam funde também um novo movimento religioso.

Um comentário:

  1. Mírian, querida,

    O problema é que esse pobre coitado com delírios místicos entrou para o Cristianismo mas não deixou o Cristianismo entrar nele.
    Do mesmo modo como temos visto tantos "católicos" medirem a Igreja pelos parâmetros puramente humanos, políticos e mundanos. Esses todos estão odiando o amado Papa Francisco porque esqueceram que Cristo disse "Meu Reino não é deste mundo" e, conseqüentemente, não pode ser aferido pela lógica humana.
    Lamento por todos eles que preferem se iludir com o brilho do latão, ao ouro em pó que Cristo nos oferece através de Sua verdadeira Igreja viva e atemporal.
    Beijos, querida, e obrigada pela tradução.

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