quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Leminski: cultura proletária? Esquece


        A prevalecer a escuridão reinante dos censores de biografias (Chico Buarque, Caetano Veloso Roberto Carlos, e família de Paulo Leminski), hoje o poeta curitibano não poderia escrever o livro Vida, em que biografa Jesus Cristo, Bashô, Cruz e Souza e Trotski.

       Eu tenho este livro - Vida, em edição de 98, pela Editora Sulina, de Porto Alegre. Na biografia de Trotsky, Leminski, mesmo tentando justificar seu esquerdismo, faz uma análise demolidora e genial (a melhor que eu já li) da "arte revolucionária/ Proletkult - na União Soviética, nos primeiros anos da Revolução.. E mostra porque ela fracassou. Num trecho, Leminski escreve:

       "O titanismo prometéico da LEF não vingou (LEF, revista fundada em 1923 por Maiakóvski, é a sigla em russo para Frente Esquerda de Arte). Prevalecerá o prudente primarismo populista do Proletkult. Foi contra os proletkultistas que Maiakóvski lançou a frase-síntese do programa da LEF: "sem forma revolucionária não há arte revolucionária". O Proletkult não podia ir tão longe. Os operários não sabem o que é forma literária...

        A idéia de Maiakósvski, ao fundar a LEF era inserir as conquistas de linguagem das vanguardas (futurismo, cubo-futurismo, geometrismo, abstracionaismo) num inequívoco engajamento na construção da sociedade socialista. Além de Maiakósvski, redator-chefe da revista, LEF reunia artistas de primeiríssimo nível: Eisenstein, Pasternak, Djiga-Vertov, Isaac Bábel.

        Do outro lado, o Proletkult promovia a criação de uma nova cultura, não apenas feita 'para' as massas, mas 'por' elas. Proliferaram poetas metalúrgicos, atores pedreiros, contistas operários, escritores saídos diretamente da classe trabalhadora e diretamente ligados aos processo do trabalho braçal e fabril.

        A nós, parece absurdo. A eles parecia lógico. A Revolução não era dos trabalhadores? A eles cabia lançar também os fundamentos da cultura da nova sociedade. Uma cultura com alma proletária, com cheiro de povo, com calos nas mãos.

        Seria lindo. Se não fosse equivocado. A arte é fruto da divisão do trabalho: para fazer um bom escritor leva tanto tempo quanto para fazer dez bons torneiros-mecânicos. Da vastíssima produção proletkultista, nada sobrou de esteticamente duradouro.

        A LEF, Maiakóvski à frente, combateu o obreirismo do Proletkult. Não pelo obreirismo. Mas pelo primarismo de linguagem de uma literatura feita por semi-alfabetizados. Seu maniqueísmo de tipos. Sua tendência ao clichê e às fórmulas de fácil efeito. Seu essencial conservadorismo formal.

        Artisticamente, não teria sentido querer que o proletariado, mal saído da ignorância e do analfabetismo, pudesse criar obras significativas que pudessem competir com os artistas burgueses, herdeiros de séculos de escolaridade, informação e requinte formal.

       (...) O titânico programa da LEF gorou. Em 1930, o próprio Maiakóvski capitula, aderindo à RAAP (Associação dos Escritores Proletários), proletkultista. Nesse mesmo ano, suicida-se".

       Ironia: a escritora Clara Zetkin, em suas Recordações Acerca de Lênin, conta que o líder não apreciava sequer a arte moderna ("Não consigo considerar como manifestações do gênio artístico as obras do expressionismo, do futurismo, do cubismo, e de outros 'ismos'. Não os compreendo. E não me proporcionam prazer"). 

       Os escritores de que Lênin gostava eram os clássicos: Tolstói, Púshkin, Shakespeare e Byron. Consta que chorava ouvindo a "Sonata ao Luar", de Beethoven.

2 comentários:

  1. Sinceramente acho que só o Olavo de Carvalho pra entender a cabeça dessa gente.
    Não tem o menor sentido o "camarada" promover um negócio que ele odiava.
    Me lembro que Lukács na sua Teoria do Romance, esquematizava todas as estruturas literárias voltada para a coletividade e a relação do homem com sua comunidade, o herói só se torna herói para tomar o lugar que o destino já lhe reservou.
    Não sei se Lukács influenciou Maiakósvski, ou vice-versa, mas vê-se que esse círculo é vicioso e completamente imbecilizante.

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  2. PEDIRAM A AUTORIZAÇÃO PRÉVIA PARA BIOGRAFAR JESUS CRISTO, APÓSTOLOS?

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