sábado, 7 de junho de 2014

Olavo de Carvalho: é assim

       Eu tive a coragem de confessar a realidade que estava diante do meu próprio nariz e dizer, com sinceridade: "É assim". Olavo de Carvalho virou uma seita. À sua volta, a cada dia surgem mais e mais pelotões de fanáticos empunhando armargumentos com o objetivos exclusivo de incensar o mestre e dar um block naqueles que, por várias razões, sempre sórdidas, claro, ousam afrontar o intocável guru. 

       Qualquer um que o faça, está carimbado: quer parasitar a fama de Olavo de Carvalho, sente inveja dele ou faz parte de um complô para destruí-lo (o do dia é o duguinista. Vai ver eu faço parte). 

      A coisa não começou exatamente agora, já vem de algum tempo. Aos poucos, aquela linguagem grosseira e truculenta do programa True Outspeak - onde ali tinha a função (discutível) de dar ao desrespeito o tratamento que ele merecia - passou a contaminar a voz de Olavo de Carvalho no Facebook.

      O discurso cortês e ameno do professor nas aulas do Seminário de Filosofia (escolhido de propósito para emprenhar suavemente a audiência com idéias gnósticas temperadas por guénons e schuons) acabou dando lugar no Facebook à linguagem de intimidação e desqualificação de qualquer pessoa que ousasse até mesmo relembrar-lhe suas próprias palavras. E tome pedagogia do palavrão, porque "Padre Pio, porque santo tal... Qual o quê!

      É mais que só palavrão. Como um amigo confidenciou: "Antes, Olavo era 'polêmico'. Hoje, ele parece ser um homem de uma vaidade atroz, que não admite divergência alguma, mesmo a mais polida. É uma mistura estranhíssima de agressividade e vitimismo." 

      No Facebook, Olavo de Carvalho vive cercado por milhares de pessoas que não leram meia dúzia de seus artigos e juram saber que ele é o maior filósofo do mundo. Logo ele, que faz crer que dedicou a vida inteira ao exercício  rigoroso e exigente do sacerdócio intelectual, uma vida em meio aos livros (não é exatamente bem assim).

      Olavo de Carvalho pode servir a muita gente. Não mais para mim. Durante anos, a despeito dos engulhos provocados pelo palavreado pantanoso, eu não economizei palavras para expressar-lhe minha gratidão e admiração.  

      Nesta época, o véu de (falsa) respeitabilidade que recobria a sua reputação intelectual ainda não tinha sido retirado. Por isto, mesmo quando eu já tinha chegado ao meu limite, disposta a dizer a mim mesma 'basta', ainda assim, eu recuei, engoli o sapo e declarei que continuava cerrando fileiras em torno do 'líder conservador de que o Brasil precisava" (porque 'a hora não é de desunir", eu pensava).

     Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Para mim, já tinha chegado ao fim. Não quis mais ser aluna Olavo de Carvalho. A hora era de peneirar tudo, apurar o (pouco) que restava de verdade em tudo o que falou e escreveu nos quase dez anos em que eu o acompanhei. Devota? Eu não.

    Hoje, 
a imagem de Olavo de Carvalho é a de um homem perdido sobre um trem que precipitaSua máscara caiu, suas mentiras apareceram, seu passado acusador voltou. Mas ele não quer ir - e não está indo - sozinho para o abismo. Um passeio por sua páginas o confirma. Ele vai, mas leva consigo uma manada grande.

     Afinal, como se deve imitar tudo o que o mestre fizer e fazer tudo o que o mestre  mandar - e o mais polido que o mestre faz e manda é tomar lá, chupar cá, enfiar ali - a descarga de palavras chulas e imagens grotescas nas páginas de Olavo escorrem pelos can(t)os. Hoje é assim.

2 comentários:

  1. Mírian,

    E com o Olavo cairão muitos. Ainda bem. Se os brasileiros quiserem vencer o duplo desafio colocado pela esquerda totalitária e pela direita internacionalista, é bom que acordem.

    Um abraço.

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  2. Mírian,

    Fui uma das primeiras pessoas a cometer a baixaria de enviar e-mail a todos os inscritos no curso, ainda em 2009, afirmando que Olavo não era católico. Fui, evidentemente, banida do espaço de discussão do grupo sem qualquer compaixão. Alguns anos depois, fui perdoada por ele, através de um curto pedido de perdão por escrito.
    Alegrei-me por saber de Lucio Colletti pelo blog - e doutorado - de Orlando Tambosi. Ao que entendi, ambos sofreram pelo mesmo caminho de Olavo: do esquerdismo ao liberalismo, com todas as contradições e vícios que essa reflexão intelectual e ação pública implicam.
    Aí está mais um bom motivo para eu aprender italiano: conhecer o trabalho de Lucio Colletti em sua língua natal.
    Abs.

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