quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Tanto faz

          Eu escrevi este texto, a que dei o título de Tanto Faz, em 2002, antes da eleição de Lula à Presidência da República. Parece que nada mudou, basta substituir os nomes.
 

          "Agora que somos penta, podemos falar sem rodeios: estamos fritos. Entre os candidatos à Presidência da República, não tem o menos ruim, o melhorzinho, nada. Não se trata disso. Ciro Gomes diz em entrevista a Carta Capital que um banqueiro nacional mandou-lhe o seguinte recado: "o Ciro pode fazer a demagogia que quiser, mas, eleito, vem aqui se entender conosco senão ele cai". E cai. 

           Ciro, como todos os outros, faz é demagogia mesmo. Para valer, todos assumiram o compromisso de "honrar" os contratos e "respeitar" o mercado. Ou seja, de qualquer lugar vamos tirar dinheiro para dar para os bancos, donos de nossa dívida interna e externa. Lênin disse: "Os bancos nasceram perfeitos". Ponto final. 


            Não se trata de escolher o candidato com o melhor discurso. Tanto faz quem promete o emprego ou defende a moralização. O resultado será sempre favorável ao capital. Um candidato que vai gastar entre 30 e 60 milhões de dinheiros ( este é o valor declarado!) tem obrigatoriamente de assumir compromissos com quem o financia ( banqueiros e empresários, empreiteiros e milionários). 


            Para o capital, financiamento de campanha é um investimento como outro qualquer (na verdade, mais lucrativo; dá 5, recebe 300). Logo, quem se apresenta como candidato já passou por uma seleção e escolha prévias do capital. 

            Não vale dizer que tem o tal José Maria do PSTU, que sua plataforma é revolucionária e frontalmente contrária ao capitalismo! Primeiro, quem é José Maria? O processo eleitoral na democracia capitalista não é mesmo para ser levado à serio. Imaginem discutirmos as 'propostas de governo' de um tal José Maria que apareceu na televisão durante dois minutos, se tanto! Além disto, com 200 mil para gastar na campanha ele mal vai comprar uns ternos na Ducal.


            Que diferença faz se Lula/Ciro/Serra ganhar? Seria bom se fosse só uma questão subjetiva, cuja solução se limitasse à troca de "sujeito". Mas não é. Basta ver o que diz o suiço Jean Ziegler, responsável pelo relatório da ONU sobre a fome e autor do livro " A Suiça lava mais branco":


           "Os Estados nacionais estão perdendo força, não são mais sujeitos da história. (Na França), seja qual for o governo, ele obedece à Bolsa, aos movimentos do capital financeiro. Se você não faz a política fiscal que o capital quer, o capital vai embora. As oligarquias mundiais do capital financeiro dominam totalmente as políticas dos Estados nacionais. Se você aumenta os salários (na França), os custos de produção aumentam e as multinacionais partem para a Tailândia, Canadá..."

           Todos os candidatos vivem repetindo que defendem a economia de mercado e as regras do jogo capitalista; logo, não há o que discutir. Eles terão de adotar o mesmo receituário de Malan e Fraga. É bom lembrar que os economistas neoliberais têm toda a razão em suas assertivas quanto ao 'caráter desestabilizador' de uma ampliação do crédito, da queda da taxa de juros e outros quetais. Partindo da premissa errada, eles fazem tudo certinho. 


            O sociólogo marxista alemão Robert Kurz, do Grupo Krisis, indica a saída, ao afirmar: " se a teoria monetária e de crédito neoliberal é essencialmente correta, então o próprio sistema de referência do sistema monetário e de crédito precisa ser criticado como tal ". E diz mais.


           "Já não é mais possível uma crítica imanente do neoliberalismo e de seus efeitos bárbaros tal como é ruminada por keynesianos, social-democratas e socialistas de esquerda. Pode-se virar e desvirar a coisa do jeito que se quiser: a limitação objetiva da acumulação de capital não pode ser evitada por truque nenhum. É o que deverão sentir também os economistas de esquerda que rezam pela economia de mercado e atualmente preocupados com as 'chances de um bem sucedido processo de transformação'. Mas não haverá transformação alguma na economia de mercado. O que se requer é uma transformação do conceito de transformação, isto é, uma crítica que supere a modernidade produtora de mercadorias como um todo. É preciso levantar a questão de como se pode, na situação histórica de crise sistêmica, se organizar uma vida social, além das instâncias fetichistas anômimas, cegas, do mercado e da máquina estatal."

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