sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ratos e homens

      Mesmo pessoas brilhantes caem na armadilha boboca de defender 'politicamente correta' proibição do uso de animais como cobaias em pesquisas científicas. Pior e mais grave ainda, estas pessoas misturam o uso das cobaias com os maus-tratos a elas infligidos. Sobre os maus-tratos e sofrimentos desnecessários, eu fecho: sou contra. Aliás, a proibição já está na lei, existem punições previstas para os casos em que fique provado que houve abuso.
     Por outro lado, defender a proibição do uso de cobaias porque animais são eventualmente maltratados equivale a pedir a extinção das prisões e delegacias porque existe abuso e violência policial nestes locais. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. O que  precisa ser combatido é o desrespeito aos direitos humanos. Manter bandidos na cadeia é dever de justiça.
     Vamos deixar claro: o uso de cobaias não é, como se quer fazer crer, um  "assunto polêmico". Seria polêmico se os que defendem e os que combatem o uso das cobaias tivessem argumentos igualmente sólidos e bem fundamentados. Não é o caso.
    O homem usa cobaias não para fazer o animal sofrer, mas para salvar a vida de outros homens. O sofrimento do animal, no caso, é um mal relativo, equivalente ao sofrimento a que o próprio ser humano se submete para salvar o bem maior, que é a sua vida. Décadas atrás, o tratamento com a quimioterapia era, na maioria das vezes, tão letal quanto o próprio câncer, e os pacientes, ainda assim, se submetiam a ele. 
    Quando tomamos um antibiótico também nos prejudicamos, destruindo parte de nossas defesas imunológicas. Fazemos isto, e isto não é imoral. É necessário. A mãe de uma criança que a castiga, batendo em sua mão, por ter roubado um doce, sem pagar, no supermercado, faz um ato de ódio relativo (faz doer a mão do filho) com amor absoluto, porque deseja para ele a virtude da honestidade.
    Também fazer uma operação do coração é algo terrivelmente ruim se comparado com a saúde. Mas a morte é um mal pior ainda que a operação do coração. A operação do coração pode ser um mal necessário. Comparado com a saúde, a operação é um mal. Comparada com a morte, a operação é um bem. Assim também a guerra: ela é, por vezes, um mal necessário, para evitar um mal ainda maior. Eu me alistaria para lutar contra Hitler.
    A propósito da 'maldade' dos pesquisadores com os pobres bichinhos: não é contraditório que seres humanos tão malvados tenham criado a veterinária, que é precisamente o ramo da ciência que visa melhorar a qualidade de vida dos animais? E como é que se testam os tratamentos e medicamentos destinados aos animais? Usando os próprios animais como cobaias. 

     Ora, se é lícito e legítimo usar animais em pesquisas que buscam salvar as suas vidas, não seria lícito e legítimo usar cobaias para salvar vidas humanas? Ou deveríamos utilizar cobaias humanas para testar também remédios de uso veterinário? Vai ver aqueles que combatem o uso de animais como cobaias acham que sim.
     Aliás, ninguém se lembrou de perguntar a estes seres humanos tão bonzinhos se eles acham injusto matar ratos para livrar a humanidade da peste bubônica. Afinal, o rato sofrerá, em decorrência da ação do veneno sobre o seu organismo.
    Equiparar homens a ratos é uma das sandices defendidas por gente da laia do australiano Peter Singer. Este 'animal' (isto, sim, é o que ele é!) afirma que considerar o homem uma espécie superior às outras  equivale a uma raça se considerar superior a outra, o que seria racismo.  Daí, o especismo, que ele combate. 
    O que Singer não diz é que  ratos e gatos não são pessoas.  Pessoa é "uma substância individual de natureza racional", na definição de Boécio. O Aurélio assim define pessoa: "ser ao qual se atribuem direitos e obrigações". No reino animal, só o homem é pessoa. Ele é o único animal que possui razão e vontade. Com a razão, ele conhece o certo e o errado. Com a vontade, ele escolhe um dos lados. Por isto, o homem é o único ser que é livre.
    Um repórter perguntou a Peter Singer:
O sr. cria muita polêmica por defender o direito dos animais à vida ao mesmo tempo em que defende a eutanásia em bebês com problemas graves. A vida de um animal saudável vale mais que a de um recém-nascido com graves danos cerebrais?
    Resposta de Peter Singer: "Eu não acho que a espécie seja um aspecto determinante, se temos um humano com danos cerebrais tão severos a ponto de ele ser incapaz de sentir qualquer coisa ou reconhecer sua mãe — o caso de anencefalia [ausência de cérebro], por exemplo. Quando o animal pode fazer essas coisas — sentir dor, andar por aí, reconhecer outros, sentir ligações emocionais com outros seres – eu acho que sua vida é mais preciosa e deve ser mais protegida do que a vida de um ser humano que está em um nível mental inferior.
    (...) Não tenho nenhum problema em dizer que, a partir do momento da concepção, um embrião é um ser humano vivo. O que mais poderia ser? O erro que muitas pessoas fazem  é supor que 'porque' ele é um ser humano ele tem o direito à vida, ou que é errado destruí-lo. Eu não acho que ele é um ser com um status moral, que requer proteção, pelo menos até que ele possa sentir dor ou alguma coisa. Obviamente, os embriões em laboratórios de que falamos há pouco não estão nesse estágio. Se você quer saber quando isso acontece, não sei ser preciso, mas é nas primeiras 20 semanas [de gestação]".

4 comentários:

  1. Olá,boa tarde.
    Eu amo os animais e a natureza que o homem junto com o progresso vem dizimando a cada segundo.Os ratos em laboratórios para salver vidas humanas,tenho muita dó,mas é preciso.
    Me desculpe o que vou lhe dizer,mas certos seres humanos não presta nem para ser cobaia e ajudar o seu semelhante.
    Adorei o seu blog e todo conteúdo, já sou sua seguidora, espero que visite o meu cantinho.
    http://wwwavivarcel.blogspot.com/.
    Felicidades.

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  2. Se o Singer conseguir falar com um rato e traduzir o que o rato disser então os ratos serão "gente". Se um rato conseguir falar com Singer e traduzir o que o rato disse, então seremos todos "ratos".

    Eu, por exemplo, sou Marcio Carneiro e nem por isto tiram meu pêlo para fazer roupas ...

    Quanto à concepção, a vida humana somente se instala no corpo quando há a nidação. Até aí é só uma célula como outra qualquer.

    Considerando que existem pesquisas para produzir órgãos humanos dentro de porcos certas questões nem devem ser colocadas.

    Existem muitos paradigmas sendo quebrados desde que a Física Quântica entrou no cenário científico - e mesmo dentre os cientistas existem os que discordam - o que nos leva a uma dúvida ainda maior sôbre as "verdades" do mundo.

    Em www.ZeitGeistMovie.com existem muitas evidências de quebras de paradigmas que mudam nossa vida diária.

    Em http://www.whatthebleep.com/ existem muitas perguntas velhas com respostas novas e muitas verdades sendo quebradas em novas mentiras.

    Em www.PowerOfCommunity.org um paraíso foi transformado em inferno e em www.SovietStory.com um inferno foi mostrado ao mundo.

    Como a cada 7 anos nosso corpo renova tôdas as nossas células, teríamos de ter uma nova identidade a cada 7 anos?

    Creio que precisamos investir em melhorar a educação que damos para nossos filhos em nossas escolas.

    E uma das primeiras coisas que devemos fazer é tirar todos os comunistas das escolas, já que êles querem destruir tudo o que a escola onde ensinam representa, de qualquer maneira.

    Estamos debatendo algo de útil em http://CLPLBR.WordPress.com/ com a CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DAS PROFISSÕES LIBERAIS e em www.InstitutoFederalista.com/debate/ estamos pensando em um Brasil Para Todos com Autonomia.

    Contamos com sua colaboração.

    Abraços do Cerrado.

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  3. Mírian,
    Muitas vezes somos levados a defender causas 'nobres' por interesses alheios, que por vezes deturpam a realidade para embasar seus anseios.
    O caso cobaias X medicamentos X sofrimento animal é um desses.
    Existem correntes que se iniciam assim e findam por concluir que o uso de modelos matemáticos e simulações são a solução. Omitem como tais foram criados e concebidos.
    Mascaram que os mesmos são mais um produto comercial, de uso exclusivo ou com preços exorbitantes, dada a necessidade de manter a inovação no ramo.
    Gostei muito das suas colocações, bastante pertinentes.

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  4. Enfim, o cidadão defende experiência genéticas em embriões humanos, todavia não admite em ratos vivos. O cérebro humano é uma ferramenta extraordinária. Se funcionar bem, alcançamos o melhor que o planeta pode produzir. Se funcionar mal, nenhuma outra espécie pode ser tão daninha. Como seria classificado o cérebro de Peter Singer?

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