sábado, 12 de maio de 2012

Gente-besta*


                                   
   A marca de cosméticos Lush cedeu a vitrine de sua loja na rua Regent Street, em Londres, para uma campanha contra produtos testados em animais. Uma voluntária de 24 anos se submeteu a diversas práticas comuns em laboratórios de testes de produtos em animais ali, em uma das mais movimentadas ruas da capital britânica.
             Mesmo pessoas brilhantes caem na armadilha boboca de defender a  proibição 'politicamente correta' do uso de animais como cobaias em pesquisas científicas. Pior e mais grave ainda, estas pessoas misturam o uso das cobaias com os maus-tratos a elas infligidos. 
    Sobre os maus-tratos e sofrimentos desnecessários, eu fecho questão: sou contra. Aliás, a proibição já está na lei, existem punições previstas para os casos em que fique provado que houve abuso.
     O que não faz sentido é defender a proibição do uso de cobaias pelo fato de que animais são eventualmente maltratados. Isto equivale a pedir a extinção das prisões e delegacias porque existe abuso e violência policial nestes locais.       
     Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. No caso dos presídios, o que  precisa ser combatido é o desrespeito aos direitos humanos. Manter bandidos na cadeia  é dever de justiça.
     Vamos deixar claro: o uso de cobaias não é, como se quer fazer crer, um  "assunto polêmico". Seria polêmico se os que defendem e os que combatem o uso das cobaias tivessem argumentos igualmente sólidos e bem fundamentados. Não é o caso.
    O homem usa cobaias não para fazer o animal sofrer, mas para salvar a vida de outros homens e - por que não? - para embelezar a mulher.
    Alguém pode imaginar o empobrecimento das artes cênicas (teatro,  ópera, balé, circo), do cinema, TV, a fotografia e da vida social, sem os recursos da cosmética e sem o efeito transformador e mágico da maquiagem? E a  a importância da aparência para a auto-estima e 
o desempenho de funções sociais?
   É bom lembrar que as descobertas científicas que levaram ao aprimoramento dos produtos de beleza são as mesmas que possibilitaram a fabricação dos medicamentos para a cura de doenças graves como a AIDS.
    O sofrimento do animal, no caso, é um mal relativo, equivalente ao sofrimento a que o próprio ser humano se submete para salvar, aperfeiçoar e embelezar o bem maior, que é a sua vida. Décadas atrás, o tratamento com a quimioterapia era, na maioria das vezes, tão letal quanto o próprio câncer, e os pacientes, ainda assim, se submetiam a ele. 
    Quando tomamos um antibiótico também nos prejudicamos, destruindo parte de nossas defesas imunológicas. Fazemos isto, e isto não é imoral. É necessário. A mãe de uma criança que a castiga, batendo em sua mão, por ter roubado um doce, sem pagar, no supermercado, faz um ato de ódio relativo (faz doer a mão do filho) com amor absoluto, porque deseja para ele a virtude da honestidade.
    Também fazer uma operação do coração é algo terrivelmente ruim se comparado com a saúde. Mas a morte é um mal pior ainda que a operação do coração. A operação do coração pode ser um mal necessário. Comparado com a saúde, a operação é um mal. Comparada com a morte, a operação é um bem. Assim também a guerra: ela é, por vezes, um mal necessário, para evitar um mal ainda maior. Eu me alistaria para lutar contra Hitler.
    A propósito da 'maldade' dos pesquisadores com os pobres bichinhos, cabe a pergunta: não é contraditório que seres humanos tão malvados tenham criado a veterinária, que é precisamente o ramo da ciência que visa melhorar a qualidade de vida dos animais? E como é que se testam os tratamentos e medicamentos destinados aos animais? Usando os próprios animais como cobaias. 
     
    Ora, se é lícito e legítimo usar animais em pesquisas que buscam salvar as suas vidas, não seria lícito e legítimo usar cobaias para salvar vidas humanas? Ou deveríamos utilizar cobaias humanas para testar também remédios de uso veterinário? Vai ver aqueles que combatem o uso de animais como cobaias acham que sim.
     Aliás, ninguém se lembrou de perguntar a estes seres humanos tão bonzinhos se eles acham injusto matar ratos para livrar a humanidade da peste bubônica. Afinal, o rato sofrerá, em decorrência da ação do veneno sobre o seu organismo.
    Equiparar homens a ratos é uma das sandices defendidas por gente da laia do australiano Peter Singer. Este 'animal' (isto, sim, é o que ele é!) afirma que considerar o homem uma espécie superior às outras  equivale a uma raça se considerar superior a outra, o que seria uma espécie de  racismo.  Daí, o especismo, que ele combate. 
    O que Singer não diz é que  ratos e gatos não são pessoas.  Pessoa é "uma substância individual de natureza racional", na definição de Boécio. O Aurélio assim define pessoa: "ser ao qual se atribuem direitos e obrigações". No reino animal, só o homem é pessoa. Ele é o único animal que possui razão e vontade. Com a razão, ele conhece o certo e o errado. Com a vontade, ele escolhe um dos lados. Por isto, o homem é o único ser que é livre.
    Um repórter perguntou a Peter Singer:
O sr. cria muita polêmica por defender o direito dos animais à vida ao mesmo tempo em que defende a eutanásia em bebês com problemas graves. A vida de um animal saudável vale mais que a de um recém-nascido com graves danos cerebrais?
    Resposta de Peter Singer: "Eu não acho que a espécie seja um aspecto determinante, se temos um humano com danos cerebrais tão severos a ponto de ele ser incapaz de sentir qualquer coisa ou reconhecer sua mãe — o caso de anencefalia [ausência de cérebro], por exemplo. Quando o animal pode fazer essas coisas — sentir dor, andar por aí, reconhecer outros, sentir ligações emocionais com outros seres – eu acho que sua vida é mais preciosa e deve ser mais protegida do que a vida de um ser humano que está em um nível mental inferior.
    (...) Não tenho nenhum problema em dizer que, a partir do momento da concepção, um embrião é um ser humano vivo. O que mais poderia ser? O erro que muitas pessoas fazem  é supor que 'porque' ele é um ser humano ele tem o direito à vida, ou que é errado destruí-lo. Eu não acho que ele é um ser com um status moral, que requer proteção, pelo menos até que ele possa sentir dor ou alguma coisa. Obviamente, os embriões em laboratórios de que falamos há pouco não estão nesse estágio. Se você quer saber quando isso acontece, não sei ser preciso, mas é nas primeiras 20 semanas [de gestação]".

*bestia, em italiano, significa 'animal'. **http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2012/04/mulher-e-maltratada-em-campanha-favor-dos-animais.html

Um comentário:

  1. Acho eessa estória toda uma verdadeira palhaçada!Essa gente não tem agurmentos. Pode me chamar do que for, mas eu não mudo a minha opinião de que os animais podem sim, ser cobaias. Por que não?
    Tem gente que bate no peito e diz que é 'contra', porém na hora do almoço, tem uma carne em seu prato. Então pra mim, isso tudo é mais um discurso de hipócritas.

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