sábado, 14 de julho de 2012

Reclamando ao cardeal


Cardeal Antonio Cañizares Llovera é prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Mandei-lhe este email, em agosto de 2009:
    


  "Dirijo-me respeitosamente à Vossa Eminência para informar que em minha paróquia - a São Bento, no bairro do Morumbi, em São Paulo, capital - fui submetida duas vezes ao constrangimento de ter negada a comunhão na boca quando já me encontrava na fila diante do diácono encarregado de distribuir a Sagrada Eucaristia, sob alegação de que a hóstia consagrada deveria ser recebida na mão como medida de prevenção à gripe suína. 

   Diante da minha negativa em receber a comunhão na mão, o diácono obrigou-me a solicitar ao abade que dirige aquela paróquia permissão para receber a Santa Eucaristia na boca. O abade deu a permissão a contragosto, lembrando que eu deveria obedecer a Igreja.
    
   Uma semana depois, este mesmo diácono voltou a negar-me a comunhão na boca, dirigindo-me desta vez palavras grosseiras _"A senhora de novo? Saia da fila e aguarde". Como eu me mantivesse imóvel, à sua frente, ele virou-se para trás para solicitar a aprovação do abade que encontrava-se no altar durante a distribuição da comunhão. O abade, com um gesto impaciente de mão, a significar  "sim", permitiu que eu recebesse a comunhão na boca.
    
   Fui procurada por este diácono depois das missas em que estes incidentes aconteceram. Na primeira vez, ele me disse que estava cumprindo ordens do abade e que a proibição se justificava por causa da gripe. Eu argumentei que se podia prevenir os riscos de contaminação, não com a probição, mas com cuidados redobrados no momento de dar ao fiel a comunhão na boca. O diácono não quis nem ouvir, alegando estar apressado enquanto se afastava.
   
    Da segunda vez, veio me perguntar se eu receberia a hóstia na mão se fosse Jesus Cristo a distribuí-la. Eu lhe respondi que, se fosse Jesus Cristo, eu receberia. O diácono respondeu, como se eu tivesse caído numa armadilha, que "era o mesmo Corpo" e que a Igreja tinha mudado a forma de distribuir a comunhão: agora era na mão. E me admoestou, perguntando:" Por que só a senhora quer receber na boca?". 

   Eu lhe disse que a comunhão na boca era a forma aprovada e recomendada pela Igreja, como mais adequada para demonstrar a reverência pela sacralidade da Santa Eucaristia. O diácono brandiu seus conhecimentos profundos em Teologia para encerrar a conversa e, de novo, se afastar.
   
   Ao chegar em casa, decidi conversar com um padre recém-chegado à minha paróquia, com quem eu já tinha mantido contato num encontro por mim solicitado, porque sou interessada em teologia e história da Igreja Católica e ele tinha estudado em Roma onde foi, como ele se apresentava, "coroinha do Papa João Paulo II". 

   Era especialista em Direito Canônico. Comecei por expor o constrangimento a que tinha sido submetida e lhe perguntei se, pelos documentos e instruções da Igreja, não era garantido a todo católico o direito de escolher a forma de receber a comunhão. 

   Ainda ressaltei que não tinha intenção de desobedecer a Igreja, apenas queria comungar da forma que a própria Igreja recomendava como mais apropriada e reverente. E repeti: para evitar contágio e propagação do vírus da gripe suína, os cuidados deveriam ser redobrados na hora de receber a comunhão na boca.
   
    O que ouvi do padre deixou-me absolutamente atônita. Ele enfatizou que havia um decreto episcopal proibindo a comunhão na boca e que o bispo podia legislar em matéria litúrgica e que esta probição se enquadrava nesta rubrica. Não havendo ilegalidade, a proibição era legítima. 

   Quando me referi a documentos como Redemptionis Sacramentum, Memoriale Domini, Cena Domini, Eclasia de Eucharistia e o Missal Romano, o padre me disse que "isto não tem  nada a ver". Que o bispo tinha proibido comungar na boca e cabia a mim obedecer. Que eu era 'tradicionalista e reacionária' e que a forma de comungar "era secundário".
    
   Eu, por exemplo - disse  o padre - prefiro comungar na boca. É secundário se a comunhão é na mão, na boca, em pé, sentado, deitado ou de joelho. É questão de gosto pessoal. Tem uns que gostam de macarrão, outros de outra coisa".
    
   Quando eu  ponderei que se tratava da Sagrada Eucaristia e que eu gostaria de continuar recebendo a comunhão na boca, o padre me perguntou o que eu tinha de diferente, e arrematou: "A minha mãe comunga na mão". Agradeci, pedi a sua benção e desliguei.
    
   Peço a Vossa Eminência que me oriente. O que devo fazer? Comungar na mão, para mim, é fora de questão, eu me recuso. Cheguei a mandar meu protesto ao Cardeal Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, por ter recomendado, numa carta circular, que fosse dada a comunhão preferencialmente na mão, como medida de prevenção à gripe suína. Não recebi resposta. 

   Sinto um clima de hostilidade muito grande em relação a mim em minha paróquia, principalmente da parte de certos ministros leigos, como se eu quisesse afrontar a autoridade dos superiores eclesiásticos.  Do fundo de meu coração, não é a vaidade, a soberba, o orgulho ou a falta de caridade que me movem. Mas só e tão tão somente o desejo de honrar o Santíssimo Sacramento.
    Peço a vossa benção.
    Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Mírian Macedo

São Paulo, capital
Brasil

Um comentário:

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    Por azar sou paroquiano da mesma paróquia, mas quase nunca frequento as Missas de lá. Embora o magnífico mural de CLAUDIO PASTRO domine todo o altar reservou-se para o SSmmo. Sacramento um reles nicho na parede, descentralizado.
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    E apesar da PROIBIÇÂO do Vaticano para que haja MINISTRAS extraordinárias da Comunhão (MINISTRO DA EUCARISTIA, nome incorreto, é somente o Padre) e da exigência que os ministros (homens) só distribuam a Comunhão quando houver número excessivo de pessoas no Templo, de modo que a administração da Comunhão pelo Sacerdote pudesse levar tempo excessivo, em todas as Missas o sacerdote se "enpáixa" (neologismo relativo a Paxá!)no seu assento e os ditos ministro(as) é que distribuem a comunhão.
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    Tudo com certa irreverência, fazendo depois até a limpeza dos vasos sagrados, que é reservada exclusivamente ao Sacerdote também!
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    É a "Missa do Homem e para o Homem" (antropocêntrica) e não em Deus e para Deus!
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    Então, como gosto de comungar de joelhos e na boca, procuro ir na Paróquia de São Gabriel Arcanjo, na avenida de mesmo nome, no Itaim.

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