Porque, digamos claramente: são bem poucos os que acompanham o Magistério. Quem lê todos os discursos do Papa são um restrita minoria de entusiastas, os roadies papais, os verdadeiros aficcionados. Não estou pensando de maneira alguma em todos os católicos, nem em todos os padres.
Certamente, nem em todos os jornalistas, visto os erros típicos, de quem matou aula de catecismo desde o primeiro dia, que deles se podem ouvir. Meus bons amigos, quantos aqui leram o discurso de Papa Francisco aos médicos católicos? Um, dois, pode abaixar a mão, já contei você... E, agora, quem leu a última entrevista dada a Scalfari? Taí.
Tomam-se os discursos do papa por uma frase ou duas, se tanto. Frase meio aleijada, e apenas se interessa ao redator. Eles não interessam. São chatos. Melhor: são considerados chatos. Prova dos nove? Olhem quantos deles Bento XVI fez. Alguns são verdadeiras explosões, maravilhosos. Apesar disto, de todos qual é o de que se lembram mais? Daquele "escandaloso' de Ratisbona, mal compreendido e instrumentalizado, como é de dever. Menos mal.
Porque aquele texto esplêndido, por causa disto mesmo, foi lido por todo mundo. Ou, se não por todos, por muitos mais de quantos que, de qualquer modo, o teriam levado em consideração. O Papa que fala aos alunos de uma faculdade de teologia? Bleah. O Papa que ataca o Islã? Ei, dá aqui, deixa ver.
Por muito tempo foi assim. O título, decidir o que dizer ou não dizer da Igreja, isto estava mãos mãos dos mestres do pensamento que dirigiam as redações, aos seus amigos de salões. A Igreja foi obrigada a jogar na defesa, esclarecendo tintim por tintim, esperando que se dignassem a escrever aquilo que ela dizia e não aquilo que escolhiam fazê-la dizer. Aquilo que escolhiam publicar.
Uma espécie de fortaleza, sempre mais e mais isolada. As suas únicas testemunhas universalmente escutadas e convidadas em toda parte (são) aqueles padres e teólogos do dissenso, cujo único mérito é destruir aquilo que eles dizem ser. A beleza da floresta contada por piromaníacos.
De repente, mudou tudo. Não mais paparazzi que com suas teleobjetivas procuram captar uma imagem fora de foco. Não, o Papa passou ao contra-ataque. Aproveitando-se exatamente da debilidade, o limite intrínseco desta Kultura do Nada que quer apagar o cristianismo.
Tu não falas de mim? Eu falo contigo. Não escreves aquilo que eu digo? Bem, eu ajo de maneira que vire notícia. De um jeito que tu não possas não publicá-la. Satisfaço o seu apetite por gossips, fuxicos, fofocas, sensacionalismo. Porque assim não podes relegar-me à irrelevância, por bem ou por mal escreverás aquilo que eu disser. Aquilo que diz a Igreja, As palavras do Papa. A qualquer custo.
Do tipo confiar o que se diz à memoria de um laicista monomaníaco octogenário. Sim, porque parece que o bom Scalfari, diferente do que ensinam aos cronistas novatos, ao falar com Francisco, não gravou nem anotou nada. Logo, não se pode confiar demais naquelas frases entre aspas, não o bastante para revolucionar um dogma.
Porque o dogma permanece, o Magistério permanece. Mas milhões de pessoas leram palavras que, de outra maneira, não chegariam jamais aos seus ouvidos. Que talvez as tenham enchido de curiosidade. Pessoas que talvez sentirão o impulso de se aprofundar.
Nenhum ateu egocêntrico se negará a publicar o diálogo do Papa, o Papa! com ele. Nenhum orgulho desmesurado pode deixar de sucumbir à tentação da vaidade. Nem mesmo quando fica evidente que a tua idéia de Deus mataria um eletricista de tanto rir. Nem mesmo quando estás dando voz a quem é teu inimigo desde sempre.
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