terça-feira, 20 de maio de 2014

COF: o outro Marx

        Parodiando Groucho Marx  ("Eu nunca faria parte de um clube que me aceitasse como sócio"), eu diria que o COF (Curso Online de Filosofia, de Olavo de Carvalho) não pode ser um curso sério, porque eu estava matriculada lá. E era uma aluna que fazia perguntas que Olavo respondia! 

        Como é possível ver seriedade num curso de filosofia em que alunos como eu, sem base ou conhecimento filosófico algum, fiquem a acompanhar aulas e a enviar perguntas, algumas sem qualquer relação com o assunto tratado, para serem respondidas ao vivo, em dois ou três minutos? 

        Pior: hoje, cinco anos depois do início do COF, qualquer pessoa, sem cumprir qualquer exigência mínima além do pagamento da inscrição, pode matricular-se, acompanhar as aulas e participar com perguntas e dúvidas, sem nenhum problema. 

        O conselho de Olavo: a pessoa entra e vai vendo as primeiras aulas, ao mesmo tempo em que assiste às atuais. Resultado: chegando quase já à aula de número 300 (em cinco anos de curso, iniciado em 2009), é comum aparecer aluno perguntando sobre questões da aula número 3! 

        Este mesmo aluno, recém-ingressado no COF e ainda às voltas com os primeiros rudimentos da técnica filosófica, no momento seguinte, está acompanhando pensações de Olavo às Meditações sobre a Filosofia Primeira, de René Descartes ou o Tratactus Logico-Philosophicus de Wittgenstein! Pode?!

      
         Nos últimos tempos, de certa forma, o estilo vulgar facebuquiano de Olavo de Carvalho já começava a contaminar o curso, que, no início, tinha aulas muito interessantes, tudo era novidade. Ele nunca usou aquele linguajar de sarjeta no COF, mas os assuntos das discussões do Facebook estavam, aos poucos, entrando na pauta do curso. 

         Adesso che ci ripenso, acho que o jeito ameno, educado, simpático e bem-humorado de OdeC nas aulas do curso de filosofia é ainda mais perigoso que seu histrionismo pornográfico do TrueOutpeak e do Facebook.

         É com esta fala mansa que ele encanta a audiência para as idéias de gente como René Guénon e Frithjof Schuon (com críticas, claro! que ele não é trouxa), enquanto desanca a hierarquia católica e dá sempre um jeito de expor o seu modo particular de interpretar a doutrina da Igreja, com a ressalva enfática de que não é teólogo. Ele é, em suas próprias palavras, um filósofo católico, não um católico filósofo. Então, tá.

        Quem já o ouviu afirmar (sem provar) que René Guénon influenciou os seis últimos papas, e que João Paulo II rasgou a fantasia e confessou que os sacramentos cristão são iniciáticos (sic), sabe que Olavo de Carvalho até pode levar alguns alunos de volta à Igreja. O problema é que religião é para levar para o céu.


        Enquanto isto,  o mantra de que brasileiro é lixo é martelado do início ao fim do curso(ele é sempre o bambambam, mas modesto e humilde, que estudou tudo durante 40 anos - quem quiser abrir a boca tem que estudar as mesmas quatro décadas sobre qualquer assunto).

        Ou seja, aquela fachada de 'eu sou simples e acessível' é isto: fachada. Ouvindo Olavo falar, temos a certeza de que seu interlocutor não pode ser menos que um Aristóteles, que - é bom não esquecer - ele deu uma melhoradinha.



Olavo de Carvalho deveria fazer o que ele sabe fazer: uma boa crítica cultural. Tem faro afiado, escreve bem e tem humor ácido e leggero, na medida certa. Também se lhe deve reconhecer mérito em orientar bibliografia e revelar bons autores desconhecidos ou relegados ao esquecimento, é gente que sabe muito mais que eu que o diz.
Mas, para prejuízo geral, Olavo de Carvalho derrapa para o delírio de onipotência, quer abarcar tudo. É tigre de papel, bufão, fraco intelectualmente. Ele monta um edifício de palavras, arruma o discurso direitinho, mas este não fecha, não se sustenta, no final. 

A ditadura comunista debaixo de cada cama, o poder divino onipresente do Foro de São Paulo, a ida para os Estados Unidos como única alternativa para os brasileiros, a invasão duguinista e (é bom não esquecer) análises do tipo da que fala de 500 mil agentes da KGB na Ucrânia - dão uma palhinha do aparato intelectual do 'maior analista, filósofo, gênio, mestre e salvador do Brasil". E é mentiroso.
  

4 comentários:

  1. Acho tão triste ver alguém destilando ódio. Desculpa a expressão que acho tão feia, mas que não encontrei melhor: "cuspir no prato que comeu". Não entendo esse prazer de criticar os outros sendo maior que a vontade de mostrar algo que valha a pena de si proprio. Atenciosamente

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  2. Faço minhas as palavras de Andrea Gaucha. Esse seu post é triste, é tristíssimo. Se vê logo por que você entrou no COF. Não com intenção de aprender coisa alguma, mas de observar e depois salientar tudo o que NÃO GOSTOU.
    Naturalmente, você deve fazer parte daquelas pessoas que odeiam Olavo porque ele é inteligente demais para o seu gosto... Ah, e claro, é uma infiltrada da esquerda, hahahahaha! Sim, senhora. Você é esquerdista, como 90% da politicada e da mídia brasileira.

    Mas, como diz o ditado: Os cães latem, mas a caravana passa!
    #OlavoTemRazão!

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  3. Parabéns pela lucidez. Crítica clara, fundamentada, sem os histrionismos de que OdC tanto gosta. Haters gonna hate, mas fazer o quê?

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  4. Esse seu testemunho Mirian não é sem razão. Tem boa parcela de veracidade, anos depois. Os sequazes olavéticos embasbacados obviamente vendados debocharão ou ridicularzão ao molde do "Magister". Um relato expressivo de valor. Obrigado.

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