quinta-feira, 31 de julho de 2014

Olavo de Carvalho mentiu à Polícia?

          Em 1989, Olavo de Carvalho disse à Polícia Civil que ele tinha grau educacional 'superior', ao prestar informações sobre sua vida pregressa, no processo que lhe moveu Liana Dines, por apropriação indébita. Em 2012, ele confessou ter saído da escola no quarto ano de ginásio, PARA NUNCA MAIS VOLTAR'. 

        Olavo de Carvalho mentiu à Polícia?




Não em meu nome (Marcelo Gruman)



                 Na minha adolescência, tive a oportunidade de visitar Israel por duas vezes, ambas na primeira metade da década de 1990. Era estudante de uma escola judaica da zona sul da cidade do Rio de Janeiro. As viagens foram organizadas por instituições sionistas, e tinham por intuito apresentar à juventude diaspórica a realidade daquele Estado formado após o holocausto judaico da Segunda Guerra Mundial, e para o qual todo e qualquer judeu tem o direito de “retornar” caso assim o deseje. Voltar à terra ancestral. 

               Para as organizações sionistas, ainda que não disposto a deixar a diáspora, todo e qualquer judeu ao redor do mundo deve conhecer a “terra prometida”, prestar-lhe solidariedade material ou simbólica, assim como todo muçulmano deve fazer, pelo menos uma vez na vida, a peregrinação a Meca. Para muitos jovens judeus, a visita a Israel é um rito de passagem, assim como para outros o destino é a Disneylândia.

                    A equivalência de Israel e Disneylândia tem um motivo. A grande maioria dos jovens não religiosos e sem interesse por questões políticas realizam a viagem apenas para se divertir. O roteiro é basicamente o mesmo: visita ao Muro das Lamentações, com direito a fotos em posição hipócrita de reza (já viram ateu rezando?), ao Museu da Diáspora, ao Museu do Holocausto, às Colinas do Golan, ao Deserto do Neguev e a experiência de tomar um chá com os beduínos, ir ao Mar Morto e boiar na água sem fazer esforço por conta da altíssima concentração de sal, a “vivência” de alguns dias num dos kibutzim ainda existentes em Israel e uma semana num acampamento militar, onde se tem a oportunidade de atirar com uma arma de verdade. 
                 Além, é claro, da interação com jovens de outros países hospedados no mesmo local. Para variar, brasileiros e argentinos, esquecendo sua identidade étnica comum, atualizavam a rivalidade futebolística e travavam uma guerra particular pelas meninas. Neste quesito, os argentinos davam de goleada, e os brasileiros ficavam a ver navios.
                 Minha memória afetiva das duas viagens não é das mais significativas. Aparte ter conhecido parentes por parte de mãe, a “terra prometida” me frustrou quando o assunto é a construção de minha identidade judaica. Achei os israelenses meio grosseiros (dizem que o “sabra”, o israelense “da gema”, é duro por natureza), a comida é medíocre (o melhor falafel que comi até hoje foi em Paris...), é tudo muito árido, a sociedade é militarizada, o serviço militar é compulsório, não existe “excesso de contingente”. A memória construída apenas sobre o sofrimento começava a me incomodar.
                   Nossos guias, jovens talvez dez anos mais velhos do que nós, andavam armados, o motorista do ônibus andava armado. Um dos nossos passeios foi em Hebron, cidade da Cisjordânia, em que a estrada era rodeada por telas para contenção das pedras atiradas pelos palestinos. Em momento algum os guias se referiram àquele território como “ocupado”, e hoje me envergonho de ter feito parte, ainda que por poucas horas, deste “finca pé” em território ilegalmente ocupado. Para piorar, na segunda viagem quebrei a perna jogando basquete e tive de engessá-la, o que, por outro lado, me liberou da experiência desagradável de ter de apertar o gatilho de uma arma, exatamente naquela semana íamos acampar com o exército israelense.
                  Sei lá, não me senti tocado por esta realidade, minha fantasia era outra. Não encontrei minhas raízes no solo desértico do Negev, tampouco na neve das colinas do Golan. Apesar disso, trouxe na bagagem uma bandeira de Israel, que coloquei no meu quarto. Muitas vezes meu pai, judeu ateu, não sionista, me perguntou o porquê daquela bandeira estar ali, e eu não sabia responder. 
                  Hoje eu sei por que ela NÃO DEVERIA estar ali, porque minha identidade judaica passa pela Europa, pelos vilarejos judaicos descritos nos contos de Scholem Aleichem, pelo humor judaico característico daquela parte do mundo, pela comida judaica daquela parte do mundo, pela música klezmer que os judeus criaram naquela parte do mundo, pelas estórias que meus avós judeus da Polônia contavam ao redor da mesa da sala nos incontáveis lanches nas tardes de domingo.
                   Sou um judeu da diáspora, com muito orgulho. Na verdade, questiono mesmo este conceito de “diáspora”. Como bem coloca o antropólogo norte-americano James Clifford, as culturas diaspóricas não necessitam de uma representação exclusiva e permanente de um “lar original”. Privilegia-se a multilocalidade dos laços sociais. Diz ele:

               As conexões transnacionais que ligam as diásporas não precisam estar articuladas primariamente através de um lar ancestral real ou simbólico (...). Descentradas, as conexões laterais [transnacionais] podem ser tão importantes quanto aquelas formadas ao redor de uma teleologia da origem/retorno. E a história compartilhada de um deslocamento contínuo, do sofrimento, adaptação e resistência pode ser tão importante quanto a projeção de uma origem específica.

             Há muita confusão quando se trata de definir o que é judaísmo, ou melhor, o que é a identidade judaica. A partir da criação do Estado de Israel, a identidade judaica em qualquer parte do mundo passou a associar-se, geográfica e simbolicamente, àquele território. A diversidade cultural interna ao judaísmo foi reduzida a um espaço físico que é possível percorrer em algumas horas. 
             A submissão a um lugar físico é a subestimação da capacidade humana de produzir cultura; o mesmo ocorre, analogamente, aos que defendem a relação inexorável de negros fora do continente africano com este continente, como se a cultura passasse literalmente pelo sangue. O que, diga-se de passagem, só serve aos racialistas e, por tabela, racistas de plantão. Prefiro a lateralidade de que nos fala Clifford.
              Ser judeu não é o mesmo que ser israelense, e nem todo israelense é judeu, a despeito da cidadania de segunda classe exercida por árabes-israelenses ou por judeus de pele negra discriminados por seus pares originários da Europa Central, de pele e olhos claros. Daí que o exercício da identidade judaica não implica, necessariamente, o exercício de defesa de toda e qualquer posição do Estado de Israel, seja em que campo for.
                  Muito desta falsa equivalência é culpa dos próprios judeus da “diáspora”, que se alinham imediatamente aos ditames das políticas interna e externa israelense, acríticos, crentes de que tudo que parta do Knesset (o parlamento israelense) é “bom para os judeus”, amém. Muitos judeus diaspóricos se interessam mais pelo que acontece no Oriente Médio do que no seu cotidiano. Veja-se, por exemplo, o número ínfimo de cartas de leitores judeus em jornais de grande circulação, como O Globo, quando o assunto tratado é a corrupção ou violência endêmica em nosso país, em comparação às indefectíveis cartas de leitores judeus em defesa das ações militaristas israelenses nos territórios ocupados. Seria o complexo de gueto falando mais alto? 
                   Não preciso de Israel para ser judeu e não acredito que a existência no presente e no futuro de nós, judeus, dependa da existência de um Estado judeu, argumento utilizado por muitos que defendem a defesa militar israelense por quaisquer meios, que justificam o fim. Não aceito a justificativa de que o holocausto judaico na Segunda Guerra Mundial é o exemplo claro de que apenas um lar nacional única e exclusivamente judaico seja capaz de proteger a etnia da extinção.
                     A dor vivida pelos judeus, na visão etnocêntrica, reproduzida nas gerações futuras através de narrativas e monumentos, é incomensurável e acima de qualquer dor que outro grupo étnico possa ter sofrido, e justifica qualquer ação que sirva para protegê-los de uma nova tragédia. Certa vez, ouvi de um sobrevivente de campo de concentração que não há comparação entre o genocídio judaico e os genocídios praticados atualmente nos países africanos, por exemplo, em Ruanda, onde tutsis e hutus se digladiaram sob as vistas grossas das ex-potências coloniais. Como este senhor ousa qualificar o sofrimento alheio? Será pelo número mágico? Seis milhões? O genial Woody Allen coloca bem a questão, num diálogo de Desconstruindo Harry (tradução livre):
                  - Você se importa com o Holocausto ou acha que ele não existiu?
                - Não, só eu sei que perdemos seis milhões, mas o mais apavorante é saber que recordes são feitos para serem quebrados.
                 O holocausto judaico não é inexplicável, e não é explicável pela maldade latente dos alemães. Sem dúvida, o componente antissemita estava presente, mas, conforme demonstrado por diversos pensadores contemporâneos, dentre os quais insuspeitos judeus (seriam judeus antissemitas Hannah Arendt, Raul Hilberg e Zygmunt Bauman?), uma série de características do massacre está relacionada à Modernidade, à burocratização do Estado e à “industrialização da morte”, sofrida também por dirigentes políticos, doentes mentais, ciganos, eslavos, “subversivos” de um modo geral. 
               Práticas sociais genocidas, conforme descritas pelo sociólogo argentino Daniel Feierstein (outro judeu antissemita?), estão presentes tanto na Segunda Guerra Mundial quanto durante o Processo de Reorganização Nacional imposto pela ditadura argentina a partir de 1976. Genocídio é genocídio, e ponto final.
                A sacralização do genocídio judaico permite ações que vemos atualmente na televisão, o esmagamento da população palestina em Gaza, transformada em campo de concentração, isolada do resto do mundo. Destruição da infraestrutura, de milhares de casas, a morte de centenas de civis, famílias destroçadas, crianças torturadas em interrogatórios ilegais conforme descrito por advogados israelenses. Não, não são a exceção, não são o efeito colateral de uma guerra suja. São vítimas, sim, de práticas sociais genocidas, que visam, no final do processo, ao aniquilamento físico do grupo.
              Recuso-me a acumpliciar-me com esta agressão. O exército israelense não me representa, o governo ultranacionalista não me representa. Os assentados ilegalmente são meus inimigos.
Eu, judeu brasileiro, digo: ACABEM COM A OCUPAÇÃO!!!
(*) Marcelo Gruman é antropólogo.

Referências bibliográficas:
CLIFFORD, James. (1997). Diasporas, in Montserrat Guibernau and John Rex (Eds.) The Ethnicity Reader: Nationalism, Multiculturalism and Migration, Polity Press, Oxford.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Tal pai, Tales Filho (Caio Rossi)





terça-feira, 29 de julho de 2014


Tal pai, Tales filho


Recentemente, andei postando em um grupo fechado no Facebook uma parte ínfima do resultado das minhas pesquisas sobre o perenialismo, e afirmei que, além disso, havia as minhas memórias, que fiquei de publicar neste blog.

Talvez em reação a essas postagens, recebi, há três dias, este e-mail de Tales de Carvalho, com quem convivi em uma tariqa por algum tempo:



Segundo o tradutor do Google, a mensagem, em árabe, diz algo próximo de:

Não tenha medo do que você pode controlar. Seja razoável e viver em paz. Não trair seus amigos, ser fiel e Deus irá recompensá-lo.


Ou, em inglês, para comparar:
Do not be afraid of what you can control. Be reasonable and to live in peace. Do not betray their friends, be faithful and God will reward you. 

Eu compreendi imediatamente o tom ameaçador da mensagem, mas fingi ser tão estúpido quanto ele e respondi:


Recebi esta resposta:




E retornei:



Foi então que comecei a receber e-mails cada vez mais reveladores:






Aqui cabe um esclarecimento: muitas pessoas que estão nessa cruzada pela Verdade (ou que já se opuseram a certas figuras envolvidas) têm sofrido "acidentes" estranhos, o que justifica esse trecho de um post anterior aqui:

"
Quanto aos seus ataques em outro plano, tampouco os temo, pois contra as suas hostes demoníacas há também o exército espiritual a serviço da Verdade".

Para nos protegermos, além de outros apoios, consegui, através de um jovem católico no Facebook, uma remessa de "sal exorcizado", um rosário e um crucifixo também benzidos. 


Essa informação, no entanto, era privada, e a ironia no final de sua mensagem revelou que ele sabia mais do que eu pensava. Respondi novamente, fingindo-me de idiota para extrair mais informações do imbecil:


E o "gênio" prontamente satisfez minha curiosidade:


Esses "penduricalhos bentos" a que ele se refere são certamente o rosário e o crucifixo benzidos que o jovem católico me enviou. Curioso que lembro-me de que seu irmão postou recentemente que, apesar do Tales ser muçulmano, ele não tenta converter ninguém e respeita tanto o Catolicismo que pretende até construir um pequeno santuário católico na sede do novo Instituto. Santuário esse que, creio eu, ele preencherá de objetos sacros que chamará de "bugigangas bentas".

Ele de fato respeita muito a fé católica!

Mas o mais grave não é isso, mas o fato de que a conta do rapaz foi realmente hackeada! Logo após receber esse e-mail, ajudei-o a identificar se havia algum outro computador acessando sua conta no Facebook e ele, apesar de morar em outro estado, disse que havia um acesso móvel na cidade de São Paulo ao mesmo tempo em sua conta. Revelou também que, inadvertidamente, havia clicado recentemente em uma mensagem "suspeita" identificada como sendo um link para o arquivo "alunosdocof" no 4shared.

Ou seja, temos, nesse e-mail, todas as indicações da confissão de um crime digital! Deve ter feito isso para demonstrar não só poderes "mágicos" mas também tecnológicos e me deixar totalmente paralizado. 


Sinto muito, mas não funcionou. Respondi ironicamente:


E, em resposta, ele me enviou mais uma mensagem com referências a magia com intenção de me assustar:


Ao que respondi com nova ironia:



Então, como, desde o início, eu já havia checado a fonte do e-mail e sabia que não se tratava de um fake (o remetente estava na cidade de Curitiba, utilizando uma conexão da GVT com o I.P. de número 201.22.57.93, e a mensagem original partiu realmente do e-mail que aparecia na mensagem), decidi mostrar ao semi-analfabeto que ele não estava tão escondido quanto imaginava:



Ele então tentou sua última e mais patética cartada para tentar me calar:



Ao que respondi:


Eu não sei ainda como ele pode ter achado que iria me chantagear com a ameaça de uma campanha - criminosa, diga-se de passagem - de desmoralização na internet! Se quiser fotos para ilustrar, é só pedir que eu envio. Só que, diferentemente do seu amigo, não vou ter poses de lingerie. 

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Conta tudo, Olavo de Carvalho

      O professor Carlos Ramalhete, respeitado por suas credenciais morais e intelectuais e amigo de Olavo de Carvalho, a quem conhece há muitos anos, deu-lhe uma sugestão que, fosse eu, topava na hora: escrever a autobiografia. 

     Assim, com fidelidade e seriedade, Olavo de Carvalho nos contaria tudo. Como ele não mente, a quem foi testemunha ocular dos fatos nada restaria senão confirmá-los.

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Estou lendo a biografia de José Ortega y Gasset por Jordi Gracia. Uma beleza. Quanto senso historiográfico, quanto domínio dos debates da época, quanta penetração psicológica!
Já os meus biógrafos catam um fato aqui, uma fofoca ali, um documento anônimo mais adiante, ficam numa confusão dos diabos, escandalizados com o que não entendem, e projetam a sua confusão em mim, como se fosse obra minha e EU tivesse a obrigação de esclarecê-la. Pior: no mesmo instante em que me exigem o esclarecimento, fogem dele, já que nunca tentam me entrevistar e se limitam a colher, à máxima distância possível, "testemunhos" de meus desafetos.
https://www.facebook.com/olavo.decarvalho/posts/10152532311282192