sábado, 25 de março de 2017

Stars Wars e chumbo na cabeça

Quando lançaram no Brasil o primeiro filme (que era o IV) da série Guerra nas Estrelas, em 1978, fui uma das primeiras a correr para as salas de cinema. Saí maravilhada, encantada, seduzida e deslumbrada por aquela aventura cósmica estelar (e apaixonada por Hans Solo, por supuesto).

Eu era jornalista d'O Globo, fazia cobertura no Congresso e lembro-me de chegar à sala de Imprensa da Câmara dos Deputados contando e falando do filme. Ninguém vai acreditar: quem ousasse gostar de Star Wars era desprezado, discriminado e xingado, por gente da esquerda, de capacho do imperialismo hollywoodiano alienante e manipulador e fantoche do capitalismo fetichista desumano e opressor.



Os militantes revolucionários de esquerda - de que os jornalistas eram a face mais barulhenta e movimentada - olhavam com absoluto desprezo para a cultura pop americana e para a sociedade de massas. Para estes iluminados, filmes como Star Wars consolidavam todos os componentes da narrativa mitológica do Império para subjugar os povos do Terceiro Mundo e os deserdados da Terra.

No meu caso, para piorar eu tinha também assistido - e adorado - Superman - The Movie, com Christopher Reeves como Superman, Marlon Brando no papel de Jor-El, seu pai biológico e Gene Hackman como o vilão Lex Luthor.

Vendo de longe, aqueles foram Anos de Chumbo mental, isto sim.

sábado, 18 de março de 2017

Dória e Ciro: sorte nossa

      Eu não misturo muito as coisas. Ser prefeito não é o mesmo que ser Presidente da República. João Dória é o prefeito de São Paulo, e eu gosto. Quando falo que daria meu voto a João Doria para Presidente é mais para declarar a alegria de ver a minha cidade sendo cuidada, voltando a ser bem tratada por quem tem a obrigação de cuidar dela. 


      Eu, por vício de ofício, sou sempre do contra. Não existe jornalismo a favor; logo, sou crítica e fico com um pé atrás com as 'autoridades constituídas'. Mesmo votando em Dória, eu não esperava que ele fosse tão eficiente, dinâmico, criativo como tem demonstrado.
      Eu gosto dele. Ele é topetudo. Podia ter amarelado diante do bombardeio que sofreu por aumentar velocidade nas marginais e enquadrar os pichadores, por exemplo. Que nada, João Dória não se intimidou, bateu de frente com o 'povo do bem', e manteve a posição. E resolveu problemas sérios como exames de saúde atrasados etc.
      Só está há dois meses à frente da Prefeitura. Deixemo-lo prefeitar. Não sei em que ele é farsante ou papo furado.
     Sobre Ciro Gomes, eu presto atenção nele desde quando foi governador do Ceará, em 1990. Em 1998, ele disputou a eleição para Presidente da República e era meu candidato. às vezes, ele se mostra uma  pessoa preparada, lúcida, visão ampla, corajoso. Noutra ocasião, desata a dizer inconsistências, ofensas, idéias desamarradas, garganteios irresponsáveis. É muito complicado e faz o gênero tough guy (mas acho que é por isto que eu gosto dele hehe).
     Gostei que Doria respondeu de bate-pronto à pecha de 'farsante' e 'papo furado, não fez de conta que não foi com ele. E Ciro, claro, está batendo em Dória porque está de olho em 2018. Seria instigante e animador se os dois concorressem à Presidente da República. Eu, claro, votaria em João Dória Jr.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Feio não é bonito não.

      Quer saber? Vamos parar de endeusar grafiti. Tem é muita coisa medonha, feiúra explícita, monstruosidade estética. Arte no duro não deve passar de pouco mais de qualquer coisa. 
  
      Conheci na sola do pé mais de duzentas cidades da Europa em meados dos anos 80, quando não havia a infestação do grafiti e da pichação. Vi cidades deslumbrantes , maravilhosas, belíssimas. Algumas totalmente acinzentadas. Com mais de mil anos. Alguém jA imaginou a Umbria, a Toscana, a Andaluzia a Baviera 'enriquecidas' pela ação de grafiteiros e pichadores? 

       Claro que arte é arte na rua e no Prado, mas chega de folclore e ares de superioridade moral para falar e defender o que nem sempre é defensável. A feiúra de São Paulo não é falta de cor, é falta de coragem de todos nós para dar jeito nela.

(P)ARTE DA RUA

        É da natureza da street art não ser definitiva. Ela tem esta pegada da arte provisória, temporária, ocasional, que reflete o mo(vi)mento da cidade, as reivindicações de suas tribos, protestos, paixões, vibes. 

   Cada um pode chegar e apagar o que existia ali, pintar por cima, recriar, interferir, além de que um grafiti sofre a degradação e desgaste naturais pelas condições climáticas (mofo, lodo, chuva, poeira etc) e ação humana (pichações, riscos, perfurações). 

   Não é uma arte permanente, mantida em condições ideais de conservação, como num museu ou galeria. Além de que não se pode imaginar que uma cidade seja inteirinha coberta por desenhos e figuras de um mesmo estilo artístico e padrão gráfico, não sendo poupado um único centímetro, seja de espaço público ou privado. Nem se fosse Michelangelo. 

     Quem trabalha na área da cultura, em órgãos governamentais, sabe que 'interferir' numa obra de arte pública é crime, não apenas legal, mas cultural. É permitido pichar, fazer grafitis 'criativos' na Catedral de Brasilia, no Memorial de JK, no Teatro Nacional? Vamos liberar as cúpulas do Congresso Nacional para os 'artistas do povo' exprimirem suas idéias, expressarem seus devaneios? Não. 

   É má-fé acusar João Dória de querer sufocar, oprimir e calar 'o povo'. É obrigação de todo prefeito cuidar da cidade. Marilena Chaui foi Secretaria de Cultura de Luíza Erundina e combateu as pichações, preservando monumentos e espaços públicos. Haddad, o Tranquilão, fez o mesmo. E tinham de fazê-lo. 

      Claro que nesta ação de preservação e limpeza acabam sendo apagados grafitis de valor artístico, coisas que deveriam permanecer. Mas imagina: a cada desenho encontrado, chama-se o crítico de arte para avaliar se este ou aquele grafiti deve ser mantido ou apagado. 

       E muro particular, eu tenho o direito de impedir até Michelangelo de pintar nele o Juízo Final (eu fazia o BO, mas como a burocracia é lenta, quando fosse decidido que ele não podia pintar meu muro, o afresco estava pronto. Aí, eu, magnanimamente, deixava lá no muro. E construía uma museu, com o muro dentro).

terça-feira, 14 de março de 2017

Lula e o pão que FHC amargou

         FHC era Presidente da República e quase foi crucificado quando não soube responder quanto custava um pãozinho de padaria. 
Lula confessa que não sabe quanto ganha por mês, fala em seis mil, mais vinte mil ou trinta mil, em 'doação' (sic) dos filhos e, no final, chuta cinquenta mil reais. 


        Os petistas nem ruborizam. Antes, elevam o "torneiro mecânico" à imagem e semelhança de Deus-trabalhador honesto e probo, humilde e simples, um perseguido pelas elites que não aceitam que um pobre chegue aonde ele chegou.


        O que deve pensar um homem do povo, desempregado, ouvindo esta descuidada despreocupação que Lula demonstra com o que ele tem para gastar todo mês? É um escárnio.
Ah, mas FHC é que era sórdido elitista que não sabia nem quanto custava um pão.

Lula: grana no bolso

     Lula informou no depoimento hoje que recebe pouco mais de seis mil reais por mês de indenização, reconhecida pela Comissão da Anistia por ele ter passado 31 dias preso em 1979 (José Serra, ao contrário de Lula, não requereu indenização como 'perseguido político'. Como foi contemplado com a grana, à sua revelia, doou o que recebe para uma instituição de caridade). 


    A cana de Lula foi tão dura que ele teve permissão de sair da cadeia para ir ao enterro da mãe, ver jogo do Corinthians, ser atendido por um dentista quando teve forte dor de dente, ler jornais e comer saborosos sanduíches de mortadela providenciados pelo seu carcereiro, o delegado-chefe do DOPS, Romeu Tuma, a quem Lula sempre considerou pessoa íntegra e honrada .
    A isto, somem-se as regalias de que desfruta, como assessores e seguranças, que já custaram aos cofres públicos sete milhões de reais desde que o petista saiu da Presidência da república. Mais: só de palestras, Lula admite que recebeu mais de R$ 30 milhões de reais.
   E nem com esta grana preta na sua conta, ele abriu mão da indenização como perseguido político, nem como ex-presidente. E ele sabe que quem paga estes 'direitos' é o povo brasileiro. Viu, aí, petista indignado com aposentadorias especiais?

Ah, outra coisa: Lula recebe mais de seis mil reais de indenização como 'vítima da ditadura' porque ficou preso um mês no DOPS por conduzir greves no ABC. Ironia: Lula era informante do mesmo DOPS nesta época. Romeu Tuma Filho conta que Lula dormia no sofá na sala de seu pai, à época o todo-poderoso xerife do DOPS paulista, Romeu Tuma.