sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A Besta da UNE

 ----- Original Message -----
Sent: Friday, October 20, 2006 3:35 PM
Subject: Re: Melhor estudar mais

"hahahahahaha
que palhaçada! pois vai perder tudo, querida. a arrogância, a eleição, a direita, o alkimim e, se depender de mim, até seus livros e a limpeza nojenta dos seus filhinhos. toma cuidado...  nossa aliança com o Chávez e o Fidel vai chegar qualquer dia desses na sua casa feliz. e vai ser uma delícia.
Louise"                           

Email-resposta da vice-presidente da UNE, Louise Caroline, às vésperas da eleição presidencial de outubro de 2006, disputada por Geraldo Alckmin (PSDB) e Lula (PT). A virulência da fedelha levou  Olavo de Carvalho a comentar, em sua coluna no Diário do Comércio, reproduzida em seu blog:

"Uma estudante, Mirian Macedo, enviou a Louise Caroline, vice-presidente da UNE, uma carta contra o programa abortista do PT. Recebeu a seguinte resposta, que transcrevo na ortografia originária: ("...") Louise Caroline, cujo nível de instrução é mais ou menos o da mãe do Lula ao nascer, compensa esse handicap com sobra de truculência. É a universitária ideal criada pela educação petista.
Não quero me “alvorar” (falando presidencialmente) em profeta, mas acho que Louise, Lulinha e Lurian são o futuro deste país. Ou melhor: dêfte paíf.
                                             
                                                                *************

Tudo começou no dia 13 de outubro de 2006, quando mandei email a UNE comentando um manifesto da entidade contra a candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência da República. Peguei leve, só debochei da grafia errada do nome do candidato do PSDB. O 'assunto/subject era: "Melhor estudar mais".
 

      Louise, minha filha.
 Há 30 anos, na luta  para derrubar a ditadura, nós criticávamos os militares quando eles diziam que estudante devia estudar, e não se meter em política. Hoje, sou obrigada a lhes dar razão. Vocês não sabem nem escrever: É Alckmin, não Alkimin!

Mírian Macedo
São Paulo, capital
******************************
Ela respondeu no dia 19/10/2006:
"Mírian,
É uma pena que você tenha aderido ao discurso da ditadura.
Infelizmente isso aconteceu com muitos dos que militaram em 68 , revolucionários na juventude, bombeiros na velhice. O pior é que o "endireitamento" não se dê só no discurso oficial que você afirma mas também na capacidade de enxergar para além do óbvio.  A escrita "errada"do nome de Alckimim  é parte irônica do deboche do texto. Além de perder a combatividade, você perdeu o senso de humor, a capacidade de perceber as ironias. É a imbecilização e a tecnização sobre a qual eu falava no texto.
Se os correligionários do chuchu o chamam de Geraldo, porque eu não posso escrever seu pomposo nome da forma como eu quero? Ele tem o nome que lhe cabe, que representa bem sua origem, seus compromissos.- Um nome que 95% dos brasileiros jamais conseguirá escrever.
Mas o que eu queria te perguntar mesmo é em qual matéria da escola ensinam a escrever o nome dele? Agora virou tema educacional aprender o nome do picolé? Francamente...


Louise"
e  eu devolvi com os comentários em azul.   

 "Mírian,
É uma pena que você tenha aderido ao discurso da ditadura.(você fala este de estudante estudar? Plenamente.) Infelizmente (vírgula)isso aconteceu com muitos dos que militaram em 68 (no meu caso, foi um pouquinho mais tarde; em 68, eu tinha só quinze anos. Mas, com 19 anos, passei 11 dias no DOI-Codi, quer que eu te conte como foi?), revolucionários na juventude, bombeiros na velhice (a frase certa é" incendiários na juventude...." Quanto a alguns continuarem ateando fogo no mundo mesmo depois de velhos, infelizmente, é verdade. Para muita gente, vem a velhice e não vem a sabedoria. E continuam "revolucionários"). O pior é que o "endireitamento" não se dê (você queria escrever " o pior é o endireitamento não se dar..." ou "é pior que o endireitamento não se dê...?) só no discurso oficial que você afirma (afirmar discurso (sic) ?!) mas também na capacidade de enxergar para além do óbvio (não captei)A escrita "errada" (por que as aspas? A escrita errada não era intencional para efeito de humor? Logo, as aspas estão dispensadas) do nome de Alckimim  (as aspas caberiam aqui) é parte irônica do deboche ("parte irônica do deboche"?! Agora, você teve um acesso de crise) do texto. Além de perder a combatividade, você perdeu o senso de humor, a capacidade de perceber as ironias. É a imbecilização e a tecnização (você acabou de enriquecer o léxico pátrio  com a criação de uma palavra nova .A língua brasileira agradece. Esta 'tecnização' nem Houaiss nem o Aurélio conheciam. Imagine, eles só registram "tecnicismo" e "tecnicalidade". Limitados estes dois, não?).  sobre a qual eu falava no texto(troque " sobre a qual" por "de que", fica mais elegante e  sonoro).
Se os correligionários do chuchu (é o vegetal? Se não for e você estiver se referindo a Alckmin, é com maiúscula) o chamam de Geraldo, porque eu não posso escrever seu pomposo nome (você quer dizer sobrenome?) da forma como eu quero? Ele tem o nome que lhe cabe, que representa bem sua origem, seus compromissos. (É Alckmin ou Geraldo que tem todos estes atributos? Como assim 'o nome que lhe cabe'? que origem? E a gente conhece os compromissos de alguém pelo nome?)  - Um nome que 95% dos brasileiros jamais conseguirá escrever.  (A propósito, Luísa Carolina  - você é Luíze Queroláin ou Lûise Carrolíne?)Mas o que eu queria te perguntar mesmo é em qual matéria da escola ensinam a escrever o nome dele? (olha, a gente aprende a ler e a escrever na escola. Pode ser na aula de Português, de História etc. Pode também aprender lendo jornal, vendo noticiário de televisão, revista semanal. Não é difícil, não).Agora virou tema educacional aprender o nome do picolé? (Outra vez: se 'picolé' aqui se refere a Alckmin, tem de ser maiúscula). Francamente...
(Louise, só mesmo você, com um nome tão brasileirinho assim, para me dar esta lição de amor à lingua pátria e às legítimas raízes da brasilidade. Quanto ao humor, eu não percebi porque não apertei a tecla sap e também porque.... não li o texto. Era engraçado?
    Pois bem, brava ragazza, você acertou: eu sou direita. Larguei a maconha, o fuzil e o arroz integral e me dedico à conservação de meus 3 mil livros, minha casa, meu marido e meus filhos. Limpos, lindos, íntegros, nenhum esquerdejoso. Que Deus os mantenha assim.
    Quanto a Alckimin (é piada, viu?): eu sou contra Lula. Quero que ele perca a eleição, derrotá-lo é o que me ocupa atualmente. Precisamos nos livrar da tragédia que representa para o Brasil a reeleição deste precário e imoral bestalhão mal-educado: além de parceiro de Fidel, Chavez e das FARC e seus narcoguerrilheiros criminosos no Foro de São Paulo, de que é um dos fundadores, Lula defende descaradamente a legalização do aborto no País. Sou contra os dois, o aborto e o socialismo.
 Mirian

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----- Original Message -----
From: Louise Caroline
To: Mirian Macedo
Sent: Friday, October 20, 2006 3:35 PM
Subject: Re: Melhor estudar mais

hahahahahahaa... que palhaçada! pois vai perder tudo, querida. a arrogância, a eleição, a direita, o alkimim e, se depender de mim, até seus livros e a limpeza nojenta dos seus filhinhos.
toma cuidado... nossa aliança com o Chávez e o Fidel vai chegar qualquer dia desses na sua casa feliz. e vai ser uma delícia."

Vice-Presidente da UNE
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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Lá ou cá?

As pessoas que lutam pela legalização do aborto e pelo fim da violência contra a mulher ficam de que lado quando o bebê a ser abortado é do sexo feminino?

domingo, 21 de novembro de 2010

TV Brasil: Deus, pede para sair!

Este é o 'diálogo com as religiões'? Tirar do ar os programas católicos e evangélicos? 

FOLHA DE SÃO PAULO
   O Conselho Curador da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) deve tirar do ar os programas católicos e evangélicos hoje veiculados pela TV Brasil e pelas oito emissoras de rádio que compõem a rede pública criada pelo governo Lula.
Assim tendem a decidir os integrantes do conselho da EBC que analisarão a questão em 7 de dezembro.
   O tema religião, porém, não será banido. A ideia é que seja abordado de forma mais ampla, sem programa específico sobre uma ou outra crença. A proposta deve ser apresentada para votação do conselho sob a forma de uma minuta de resolução.
Está madura entre os conselheiros a ideia de que a rede pública deve aumentar o diálogo com as religiões.
   "Elas [as religiões] já possuem tempo em redes privadas para divulgar seu proselitismo. Dar espaço também na rede pública me parece antidemocrático", diz o conselheiro Daniel Aarão Reis.
Os programas que devem sair da grade são "Reencontro" (evangélico), "Santa Missa" e "Palavras da Vida" (católicos).
   Porém, uma consulta pública sobre o tema mostrou que, de 140 propostas apresentadas, 118 pediam a manutenção da programação.
Apenas 13 reivindicavam a exclusão dos programas com o argumento de que o Estado brasileiro é laico.


* Conselho Curador da EBC tende a vetar atrações que divulguem crença específica

http://bit.ly/cUdhzY

Coisa antiga

    É batata: a imprensa não consegue falar de religião - do catolicismo, em particular - sem escancarar a sua ignorância sobre o assunto. Ninguém conhece a doutrina, os fundamentos teológicos nem a história do cristianismo. Nem parece que a Igreja Católica tem dois mil anos e é pilar da civilização ocidental. É só abobrinha, recheada de total desconhecimento e franca hostilidade.
   Não, Bento XVI não disse que Igreja liberou a camisinha para que pessoas façam sexo seguro com quem quiser e quando quiser. Para a Igreja, sexo liberado é sexo banalizado, sexo desumanizado. Quando o Papa Ratzinger refere-se ao uso de preservativos "em certos casos", ele está apontando para questões que não podem ser consideradas de forma abstrata.
   O Papa cita o caso do prostituto (um garoto de programa) que, para a Igreja, está em pecado, mas revela indícios de senso moral ao usar o preservativo para não disseminar o vírus da AIDS entre a clientela que atende. Este pode ser, para Bento XVI, o primeiro passo para a moralização.
    Esta foi a primeira vez que um papa justificou publicamente o uso do preservativo 'em certos casos'. Mas a doutrina moral da Igreja já o admite nos casos em que um dos cônjuges tem o vírus da AIDS e a contaminação é fruto de vida desregrada e desordens sexuais anteriores ao casamento, a transfusões de sangue ou estupros. A Igreja pode ainda admitir o uso de preservativo entre casais que já têm muitos filhos. São pessoas que não conseguem superar as dificuldades da abstinência recomendada pela Igreja nem adaptar-se aos métodos naturais de contracepção, mas vivem a fidelidade, consideram o casamento sagrado e estão abertos à vida. O preservativo é "uma coisa", ele não pode ser mal ou imoral, em si,  apenas o comportamento sexual do homem pode ser imoral. O que a Igreja não aceita, por fundamento teólogico, é o sexo fora do casamento - a banalização e desumanização do sexo.
    No primeiro livro-entrevista do jornalista e escritor alemão Peter Seewald e o cardeal Ratzinger, "O Sal da Terra", publicado em 1996, ao abordar a questão da contracepção, Seewald diz ao futuro papa Bento XVI: "Resta a questão de saber se é possível acusar alguém ou um casal, por exemplo, que já tenha vários filhos de não ter uma atitude positiva em relação à criança". Ratzinger:"Não, com certeza não. E isso também não deve acontecer".
  Seewald: " Mas essas pessoas devem ter a idéia de que vivem numa espécie da pecado quando...".
  Ratzinger: "Diria que são questões que devem ser discutidas com o diretor espiritual, com o padre, que não podem ser consideradas de forma abstrata".
    A Folha de São Paulo informa: "Maior especialista do Vaticano em bioética e sexualidade, o cardeal dom Elio Sgreccia ressaltou que o uso da camisinha é justificado quando se trata da 'única maneira de salvar uma vida.Se Bento 16 levantou a questão das exceções, ela precisa ser aceita. Mas a necessidade extrema precisa ser demonstrada.'Para William Portier, teólogo católico da Universidade de Dayton, em Ohio, os comentários não representam necessariamente uma mudança fundamental".
   Assim, só a má-fé ou ignorância leva a imprensa a tratar o assunto como se o papa tivesse defendido a liberação geral do uso da camisinha. O barulho na imprensa pela afirmação de Bento XVI de que o uso de preservativos pode justificar-se 'em certos casos' é coisa de quem não sabe nem gosta da Igreja.
   Os falantes e escreventes esquecem que a Igreja tem dois mil anos e dela fazem parte santos pensadores e homens de grande brilho intelectual, como Santo Tomás de Aquino, São Alberto Magno, Santo Agostinho e, mais recentemente, téologos da grandeza de Henri de Lubac, Karl Rahner, Hurs von Balthasar, Romano Amerio e o próprio Joseph Ratzinger, que dirigiu por 25 anos a Congregação para a Doutrina da Fé. Ele foi indicado prefeito da Congregação, em 1981, por João Paulo II e deixou o cargo, em 2005, para assumir a cátedra de Pedro.
   Pergunta a estes luminares da imprensa se algum deles já leu um dos quase 200 livros e ensaios escritos pelo teólogo Joseph Ratzinger. Nas matérias que eu li, não há referência sequer ao livro "O Sal da Terra".

http://bit.ly/9yd9y6 (O que o Papa realmente disse)

http://bit.ly/hKW3iI (Em artigo, padre jesuíta explica a base da argumentação de Bento XVI sobre o preservativo)

sábado, 20 de novembro de 2010

Dilma tinha código de acesso a arsenal usado por guerrilha

FOLHA DE S. PAULO, 20 DE NOVEMBRO DE 2010

MATHEUS LEITÃO/LUCAS FERRAZ
DE BRASÍLIA 

A presidente eleita, Dilma Rousseff, zelava, junto com outros dois militantes, pelo arsenal da VAR-Palmares, organização que combateu a ditadura militar (1964-1985).Entre os armamentos, havia 58 fuzis Mauser, 4 metralhadoras Ina, 2 revólveres, 3 carabinas, 3 latas de pólvora, 10 bombas de efeito moral, 100 gramas de clorofórmio, 1 rojão de fabricação caseira, 4 latas de "dinamite granulada" e 30 frascos com substâncias para "confecção de matérias explosivas", como ácido nítrico. Além de caixas com centenas de munições.A descrição consta do processo que a ditadura abriu contra Dilma e seus colegas nos anos 70. A Folha teve acesso a uma cópia do documento. Com tarja de "reservado", até anteontem ele estava trancado nos cofres do Superior Tribunal Militar.Trata-se de depoimento dado em março de 1970 por João Batista de Sousa, militante do mesmo grupo de guerrilha do qual Dilma foi dirigente.Sob tortura, ele revelou detalhes do arsenal reunido para combater a repressão e disse que Dilma tinha recebido a senha para acessá-lo.Quarenta anos depois, Sousa confirmou à Folha o que havia dito aos policiais -e deu mais detalhes.Dilma já havia admitido, em entrevista à Folha em fevereiro, que na juventude fez treinamento com armas de fogo. O documento do STM, porém, é a primeira peça que a vincula diretamente à ação armada durante a ditadura.Procurada pela Folha, a presidente eleita não quis falar sobre o assunto.O armamento foi roubado do 10º Batalhão da Força Pública do Estado de São Paulo em São Caetano do Sul (SP), de acordo com o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social).A ação ocorreu em junho de 1969, mês em que as organizações VPR e Colina se fundiram na VAR-Palmares.Sousa disse que foi responsável por guardar o arsenal após a fusão. Com medo de ser preso, fez um "código" com o endereço do "aparelho" -como eram chamados os apartamentos onde militantes se escondiam.Para sua própria segurança e do arsenal, Sousa dividiu o endereço do "aparelho" em Santo André (SP) em duas partes.Assim, só duas pessoas juntas poderiam saber onde estavam as armas. Uma parte da informação foi entregue a Dilma, codinome "Luisa". A outra, passada a Antonio Carlos Melo Pereira, guerrilheiro anistiado pelo governo depois de morrer.O documento registra assim a informação: "Que, tal código, entregou a "Tadeu" e "Luisa", sendo que deu a cada um uma parte e apenas a junção das duas partes é que poderia o mencionado código ser decifrado"."Fiz isso para que Dilma, minha chefe na VAR, pudesse encontrar as armas", diz, hoje, Sousa.Tido pelos colegas como um dos mais corajosos da VAR-Palmares, Sousa afirma ter sido torturado por mais de 20 dias. Ficou quatro anos preso e, hoje, pede indenização ao governo federal.Aposentado, depois de trabalhar como relações públicas e com assistência técnica para carros no interior de São Paulo, ele diz ter votado em Dilma. Na entrevista, chamou a presidente eleita de "minha coordenadora".

"PONTOS"Sousa contou que tinha três "pontos" -como eram chamados os locais e horas de encontro na clandestinidade- com Dilma nos dias seguintes à sua prisão. Mas disse que não entregou as datas e endereços durante as sessões de tortura -inclusive com choques elétricos na "cadeira do dragão".Sousa participou de operações armadas, como assaltos a bancos e mercados. "Informava todas as ações para Dilma com três dias de antecedência", declarou.Com a "dinamite granulada", por exemplo, ele afirma ter feito bombas com canos de água "cortados no tamanho de quatro polegadas, com pregos dentro".Quando 18 militares à paisana cercaram seu "aparelho", Sousa os recebeu com rajadas de metralhadoras e com as bombas caseiras. Um militar ficou ferido.Os agentes conseguiram uma trégua após duas horas de intenso tiroteio.Sousa diz que, meses depois, Dilma contou a ele que, quando ele não apareceu nos encontros previstos, ela usou o código para pegar o arsenal: Dilma e Melo encontraram a casa perfurada de balas e a rua semelhante a uma trincheira de guerra, com enormes buracos.O depoimento registra 13 bombas jogadas contra os militares. Com um vizinho, Dilma e Melo descobriram que o companheiro esquerdista havia sido levado vivo pela repressão.

PS: Revelação foi feita em 1970 sob tortura por ex-colega da petista na luta armada e confirmada por ele em entrevista

Grupo VAR-Palmares guardava em imóvel 58 fuzis e 4 metralhadoras; armamento foi roubado de batalhão do ABC

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Contra o PT

      
       Eu votei em José Serra por falta de opção. Na eleição para Presidente da República, todos os candidatos eram de esquerda, não havia entre eles nenhum que defendesse explicitamente os ideais conservadores dos brasileiros. Estranho. Afinal, nós somos um povo religioso, nossa cultura é fortemente influenciada pelos valores morais do cristianismo, o brasileiro, em sua maioria, é contra aborto, contra legalização de droga e contra prostituição. 

      Pesquisas recentes revelam que a maioria esmagadora dos brasileiros rejeita ou tem restrições ao homossexualismo (é bom ressaltar que o brasileiro não aceita qualquer violência contra os homossexuais).
   
      Quer ver mais? Pergunte ao brasileiro se ele quer socialismo ou comunismo. Ele vai dizer que a propriedade privada é um direito, que ele não aceita invasão de terra nem de propriedade urbana; que ele quer democracia, liberdade de credo, de expressão e de ir e vir; que ele quer o direito de cuidar de seus filhos, de lhe dar palmadas, se for preciso. E não quer que lhe digam se ele pode fumar, comer carne, comer muito ou comer pouco. 
   
        Brasileiro quer trabalhar para ter vida boa, não para dar boa vida para os burocratas do governo, que lhe tiram quase metade do que ele ganha sem devolver-lhe nem uma décima parte do que ele tem direito. Brasileiro também não quer trabalhar para continuar engordando a república de sindicalistas e mensaleiros, nem contribuir com seu suor para ajudar 'aloprados' a empilhar dinheiro. Ora, se brasileiro é assim, por que só tem esquerdista falando em nome dele?  Por que não existe partido conservador, de direita, no Brasil?
   
        Falar em direita, hoje, no Brasil virou anátema. Parece que o único modelito que existe é a direita fisiológica, patrimonialista, chegada a maracutaias entre amigos, falsos moralismos, voto de cabresto e coronéis, representada por Malufs, Sarneys, Renans, Barbalhos, Collors, todos da base aliada do PT, por sinal.

     Não mesmo. Para me representar, e a milhões de brasileiros, eu quero um partido que defenda os valores da civilização a que pertenço, fruto da moral cristã, do direito romano e da filosofia grega.

   
     Et pour cause, eu luto contra o projeto de poder que o PT quer implantar e está em curso no Brasil. As Atas do Foro de São Paulo existem e revelam uma realidade: o plano de recuperar na América Latina o que foi perdido na URSS e no resto do Leste Europeu com a queda do Muro de Berlim, em 89. Isto não é minha opinião. São fatos e dados. 
     
       Tenho dedicado grande parte de meu tempo a muitas páginas de livros, aulas, vídeos, palestras e sites sobre o assunto. Que o PT é um partido revolucionário, marxista-leninista gramsciano só não vê quem não quer. O Partido dos Trabalhadores engana a muitos, mas não a todos.
   

       Sobre eleger Serra, fazia sentido. Primeiro, porque ninguém precisava provar que, para ocupar a Presidência da República, ele era muito mais qualificado que Dona Redonda. O caso não é de ver pra crer, tá na cara. Segundo, Serra representava um respiro e uma folga para que as forças conservadoras se reorganizassem e ocupassem o espaço que elas têm a obrigação de ocupar. Os conservadores e a direita têm  direito à existência, nas democracias eles devem existir.
   

       É de rir esta bobagem de que Serra é de direita; ele é, no máximo, a direita da esquerda. O PSDB é a esquerda social-democrata, de matriz européia, clientelista, que defende a distribuição de renda com Estado forte e alta taxação. A diferença com o PT é que o PSDB aceita a alternância de poder.
   

       O Partido dos Trabalhadores é outra coisa. O PT faz crer, através de camuflagens, volteios e dissimulações, que ele não é o que realmente é: um partido marxista-leninista, empenhado na implantação de um projeto totalitário de sociedade socialista. O PNDH-3 é uma pálida amostra de seus arreganhos ditatoriais.
   

       Para entender a via petista, basta‎ prestar atenção ao discurso do representante do Partido Comunista Cubano, na reunião do Foro de São Paulo, em 2007, em San Salvador/Nicarágua:
   

       "Aprovechar los espacios institucionales conquistados por medio de la lucha eleitoral puede, em las actuales condiciones, constituir un paso importante em el camino hacia la edificación de sociedades socialistas, si es que somos capaces de utilizarlos para la necessaria acumulación política que nos permita transformar el poder oligárquico en poder popular" Na novilíngua, 'poder popular' quer dizer 'Estado socialista'.  
   
        Mas - ninguém se iluda - a esquerda encarnada por alguns setores do PSDB não chega a ser exatamente coisa de sacristão. Ela flerta com a agenda globalista da ONUque visa enfraquecer dos Estados nacionais e a tradição cristã, que é o fundamento da civilização ocidental.

        É isto o que quer, no fundo, o politicamente correto, em que o cidadão, esquizofrenicamente, não decide nada - tudo é proibido (fumar, comer sal, açúcar, dar palmada, possuir armas) mas pode tudo (abortar, praticar eutanásia, casar com o poodle, fumar e cheirar, por aí).
  

        Eu quero o Estado mínimo, que cuide dos realmente pobres, mas estimule o empreendedorismo, a determinação das pessoas em cuidar de suas vidas e ser responsáveis pelo seu sustento e sucesso. Brasileiro é que tem de mandar no seu próprio nariz. 

        Esta horda de ONG's que defendem os "direituzumanos" e que nadam em dólares e dinheiro do governo (dizem ser organizações NÃO-governamentais, sei) estão enfiando na cabeça dos brasileiros a idéia de que todo mundo tem direito de viver à custa de Estado porque é pobre, porque é preto, porque é índio, porque é gordo, porque é homossexual, porque é zarolho, porque é coreano. Cazzo!
  

        O Estado tem de sair das costas e de cima da cabeça do indíviduo. Tem de respeitar a propriedade privada e as liberdades de expressão e de credo,  E mais: o Estado laico não deve ser confessional, mas o governo eleito tem de representar o povo. Se o povo brasileiro é majoritariamente cristão (95% é maioria), como é que o PT -  e, se deixar, também o PSDB - quer empurrar  o aborto goela abaixo? O povo não quer. Ponto final.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Ora, vá se queixar ao bispo!

Crime hediondo é protestar contra construção de mesquita no Marco Zero. Aí, os esquerdistas se assanham todos para acusar o Ocidente de preconceito contra o Islam. Alguém acusou o Islam de anti-cristão depois do ataque à Igreja de Bagdá? Que nada, ficam calados, como se invadir uma Igreja durante uma missa e matar gente rezando fosse, sei lá, 'uma resposta legítima à opressão e violência' que estes meigos fundamentalistas islâmicos sofrem no Ocidente, acusados que são, injustamente, de cometer crimes contra a humanidade.'
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2010/11/01/extremistas-islamicos-invadem-igreja-em-bagda-resgate-de-refens-deixa-mais-de-50-mortos-922919475.asp

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Aborto não mata mulheres, mata bebês.

       As clínicas de aborto não matam 'milhares de mulheres'. Matam milhares de crianças, fetos, bebês, ou embriões (estes últimos, a ciência não sabe dizer se são ou não são seres humanos; logo, podem ser. Todos nós sabemos que são). O aborto não pode ser escolha individual. Se há dúvida sobre ser o embrião vida humana, temos de contemplar a possibilidade de ser. Logo, não se pode abortá-lo.
    
     Todos sabem que um número expressivo de abortos são de bebês completamente fomados, e é por esta realidade chocante e indiscutível que os abortistas detestam quando se exibem fotos e vídeos de bebês perfeitos completamente estraçalhados, prontos para descarte, nas clínicas de aborto.

     
     Pelo menos, este consenso a civilização já atingiu: a lei, a moral, o senso comum não admitem e punem o assassinato de ser humano inocente. Quanto ao raciocínio torto - 'quem é contra o aborto é a favor de clínicas clandestinas' - , eu pergunto: quem é contra a impunidade de assaltantes, implicitamente é a favor da superlotação carcerária?
     

     A exibição propagandística de números astronômicos de' mulheres pobres que morrem por causa de abortos mal-feitos" só faz parte da má-fé e desonestidade de quem só quer matar. Dados oficiais do SUS, de 2002 a 2007, informam que, no período, morrerram 845 mulheres em decorrência de abortos, incluídos aí os abortos espontâneos, gravidez tubáreas e outras complicações. Logo, o número de mulheres mortas por causa de abortos mal feitos é muito abaixo das milhares que são acenadas por defensores do aborto.
     

    Quanto ao uso da camisinha, autoridades mundiais de saúde reconhecem que a ação da Igreja Católica de estimular a abstinência e a fidelidade tem sido a grande responsável pela redução dos alarmantes índices de doenças sexualmente transmissíveis (a pior delas, a AIDS) principalmente na África. Quanto ao cuidado com órfãos, doentes e desvalidos, a Igreja Católica faz isto há 2 mil anos. Usar ou não camisinha é orientação que a Igreja dá a quem é católico, Quem não é, não precisa nem prestar atenção.
    
    Sobre livre-arbítrio/escolha individual, dizer que, numa sociedade democrática, as pessoas são livres porque podem escolher o que lhes parece melhor é dizer que todos os atos, numa sociedade democrática, são passíveis de escolha livre: nenhum ato, por mais criminoso que seja, pode ser retirado à livre escolha de cada um. Mas, sabemos que não é bem assim. Há decisões que a sociedade deixa à livre escolha de cada um (por exemplo, ir à praia ou ao cinema) e há atos que a sociedade não deixa à livre escolha de cada um (por exemplo, matar o vizinho numa reunião de condomínio).
    

     No aborto, estão em causa os direitos de uma pessoa e os direitos de um feto (ou, como dizem alguns cientista e juristas, uma 'coisa', ou' um não se sabe bem o quê'). Já expliquei lá atrás: se a ciência não pode provar que o feto não é ser humano, o aborto não pode ser permitido. É crime.


     O aborto não deixa de ser imoral, inaceitável e vergonhoso só porque a 'civilização' decidiu legalizar o genocídio de seres humanos indefesos dentro da barriga da própria mãe. Quem defende o aborto quer liberdade para matar. Ponto.
     

      Em países democráticos como os EUA e o Brasil, a maioria da população, de formação cristã, é contra o aborto. O Brasil é cristão desde o seu surgimento, o país desaparece culturalmente se forem retiradas as bases e influências do cristianismo. A democracia americana é fruto essencialmente da formação cristã de seus fundadores e do fato de não ter se implantado ali uma 'Igreja de Estado', como ocorria com a igreja protestante/anglicana na Inglaterra. 

      Quanto ao laicismo, o Estado não pode ser confessional. E legisladores e governantes, sendo representantes do povo, não deveriam aprovar e defender leis contrárias à opinião e crenças da maioria que eles representam. A opinião da maioria da população destes países contra o aborto é fato documentado.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

'É a moral, estúpido' ou 'Mais isto muda mais isto é a mesma coisa'

                                  (Artigo escrito no dia 11 agosto de 2006, às vésperas da eleição para Presidente da República, com os candidatos Lula e Geraldo Alckmin. Basta trocar Lula por Dilma e Alckmin por Serra, continua atual)

"Lula mostrou na entrevista ao Jornal Nacional o que ele realmente é: Precário Imoral. O candidato Geraldo Alckmin esteja atento: a questão central desta eleição não é a economia, é a moral. Claro, há que se dar um jeito na economia; existem outras maneiras mais competentes, mais eficientes e mais experientes de se conduzir a política econômica, com resultados mais justos para os trabalhadores e produtores. Mas, numa economia globalizada como a de hoje, não é possível mudar rápido nem produzir resultados diferentes e assombrosos de uma administração para outra. Todos sabemos disto. Lula manteve, em linhas gerais, a política econômica de FHC, não foi?  Logo, o grande diferencial é no aspecto moral e ético.
    Antes de mais nada, a honestidade. É simples: não roubar e não deixar roubar”, aquela máxima que José Dirceu, na maior sem-vergonhice e cara-de-pau, ousou bradar como marca do governo Lula quando foi confrontado com as provas de que estava metido no 'valerioduto' e no esquema podre do mensalão.
    Chega de leniência e de flacidez moral com qualquer desonestidade, muito menos com "aquelas coisas" que os políticos e homens públicos sempre fazem: caixa dois, licitação viciada para favorecer financiadores de campanha, propinas y otras cositas más. Quando se toleram "estas coisas de sempre", chega a hora em que um sujeitinho sem escrúpulos como Lula rompe os limites e dá o salto qualitativo, partindo de vez para a obscenidade moral. Com Lula, foi demais. Foi além da conveniência. Paulo Honório, a personagem de São Bernardo, de Graciliano Ramos, dizia que tinha aprendido aritmética para não ser roubado além da conveniência. Pois é, Lula quis e deixou roubar além da conveniência.   
    Tem mais. Não adianta empurrar com a barriga e fazer de conta que "certos assuntos" serão discutidos "depois". Durante a campanha, Alckmin terá de assumir claramente o que pensa, por exemplo, sobre o aborto. Dizer que é contra o aborto, exceto "nos casos previstos pela lei" (estupro e risco para a vida da mãe) equivale a ser a favor! Não existe NENHUM caso em que o aborto seja admissível. É assassinato de um inocente, ponto final.
     Até aquela besta - o australiano Peter Singer, pai do 'especismo', que considera um tipo de 'racismo' afirmar que o homem é superior a outras espécies - não vê "nenhum problema em dizer que, a partir do momento da concepção, um embrião é um ser humano vivo. Singer pergunta:
     "O que mais poderia ser? O erro que muitas pessoas fazem é supor que 'porque' ele é um ser humano ele tem o direito à vida, ou que é errado destruí-lo".
    É com gente desta laia que Geraldo Alckmin vai se aliar?
    Li que, além dos "casos previstos", o candidato tucano acha possível estender a permissão do aborto para casos de anencefalia. Vai ser assim mesmo? Pouco a pouco? Até, quem sabe, chegarmos a permitir aborto porque a decoração da casa foi afetada pela colocação de um beliche no quarto para acomodar mais um filho. Sabem como é, Mulheres pelo Direito de Decidir! Se "elas" decidirem que a decoração da casa não deve mudar, o Estado tem de garantir o seu direito de abortar.
     Geraldo Alckim vive enfatizando que não é igual a Lula. Eu também acho que não é. Mas o candidato tem de mostrar que não é. Lula eu sei o que vai fazer. Basta ler documento do PT,  intitulado “Diretrizes para a Elaboração do Programa de Governo do Partido dos Trabalhadores (Eleição presidencial de 2006)”, aprovado no dia 22 de maio de 2005, em seu 13º Encontro Nacional. Trata-se de um documento oficial, e não apenas da opinião particular de um ou outro membro do Partido. Diz o documento:
    "O segundo Governo deve consolidar e avançar na implementação de políticas afirmativas e de combate aos preconceitos, à discriminação, ao machismo, racismo e homofobia. As políticas de igualdade racial e de gênero e de promoção dos direitos e cidadania de gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais receberão mais recursos. A Secretaria Especial de Mulheres, a Secretaria de Promoção de Políticas para a Igualdade Racial e o Programa Brasil sem Homofobia serão fortalecidos, influenciando e dialogando transversalmente com o conjunto das políticas públicas. O Governo Federal se empenhará na agenda legislativa que contemple as demandas desses segmentos da sociedade, como o Estatuto da Igualdade Racial, a descriminalização do aborto e a criminalização da homofobia" [destaque nosso].
Como afirma o Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz, em artigo intitulado a "A reeleição e o aborto", "o governo Lula compromete-se explicitamente, caso haja um segundo mandato, a descriminalizar o aborto. Aliás, trata-se do compromisso de dar continuidade àquilo que atualmente já tem feito, com esforço descomunal, desde janeiro de 2003. Nunca houve na história de nosso país um governo que tenha feito tanto para legalizar, oficializar  e favorecer a prática do aborto".
Outro assunto que não pode ser deixado para depois é a união civil de homossexuais, ou o 'casamento gay'. É preciso lembrar que, na Espanha, as mudanças na legislação já aboliram a família. Desapareceu juridicamente a figura do pai e da mãe. O casal não é mais "marido e  mulher". Tudo começa com um contrato, até chegar à abolição da família.
    Será que o católico Geraldo Alckmin vai subir em cima de trens elétricos em parada gay, imaginando que a família brasileira  acha "irrelevante" ter um filho homossexual? Ou pensando, por acaso, que os pais brasileiros darão "o maior apoio" à opção sexual de seus filhos por parceiros do mesmo sexo, sob a alegação que "o importante é o amor?" 
    Quanto à bandidagem, melhor reexaminar o Estatuto da Criança e do Adolescente, adequando as punições previstas à gravidade dos delitos cometidos pelos menores infratores. Outros Champinhas e Batorés? Never again, mai più, de novo, não! 
    Enfim, não adianta querer resolver a crise moral do Brasil decidindo se libera a taxa de juros ou controla a inflação. É só prestar atenção, a discussão da campanha presidencial é (quase) só essa. Papo de superavit, de meta inflacionária, número de dívida pública, taxa de juros, geração de emprego etc etc. Cá para nós, hoje o presidente da República é praticamente o ministro do dinheiro. Ele (ad)ministra um orçamento. O resto é mídia e metáfora.    
    Parafraseando a célebre frase "É a economia, estúpido!" da campanha vitoriosa de Clinton contra Bush pai, só nos resta bradar a plenos pulmões: "É a moral, estupido" 

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Cara feia, fala fina e lero-lero.

     O discurso de Osmarina Silva é recheado de 'veja bem', 'no que concerne', 'crise ambiental' e 'pensamento estratégico'. Puro lero-lero e conversa oca que não conseguem esconder o (des)preparo da candidata do PV para ocupar a Presidência da República. 

     É bom lembrar que Osmarina foi analfabeta até os 16 anos, quando fez o Mobral e dois supletivos, antes de entrar para a Universidade Federal do Acre. 
   
      O repórter Lúcio Flávio Pinto, do jornal O Estado de São Paulo, escreveu um artigo quando a senadorinha da fala fina foi escolhida por Lula para ocupar o Ministério do Meio Ambiente. Ele disse:
   
      "Para vários auditórios qualificados regionais, Marina Silva é uma referência distante. Mais ainda do que isso: em relação a diversas faces do caleidoscópio amazônico, não há uma manifestação da ministra que traduza um conhecimento de causa a respeito. Para uma região tão ampla e complexa, o saber de Marina pode estar perigosamente especializado em Acre. Ou estar enviesado, como se diz, pelo tipo de interlocução internacional que tem tido.
   
       "Ela passou a ser interlocutora freqüente de ONGs de amplitude mundial e de agências multilaterais, como o Banco Mundial e a ONU, ou mesmo de outros governos, como a Usaid, a agência de cooperação internacional dos Estados Unidos, de passado atribulado, que tem tido participação destacada no Acre. O Estado do Acre é pequeno e específico demais, e suas saídas precárias demais, para ser um modelo aplicável a toda a Amazônia."
   
       "O valor da nova ministra do Meio Ambiente deve ser relativizado por esse seu universo de experiência. Além do mais, ainda que a Amazônia seja item essencial na agenda do seu ministério, os temas que vão exigir a atenção da Marina possuem uma transcendência notavelmente maior do que a região, que ocupa 60% do território nacional, numa fronteira de biodiversidade natural que abriga pouco mais de 10% da população brasileira, hoje fortemente concentrada em cidades que se consolidam sobre a agressão ao ambiente em torno delas. Um dos terrenos pioneiros para a ministra será justamente o urbano, para o qual será pressionada a se interessar com atenção cada vez maior – e impaciência crescente".

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Gayzista não é gay

Gayzismo não é o mesmo que ser homossexual e ter o direito de decidir o que fazer na esfera privada da vida. Isto é assunto de cada um. Gayzismo é militância gay, é tornar a condição ou opção pelo homossexualismo uma fonte de direitos. O militante gay não se contenta em já ter a liberdade de ser homossexual e o direito à proteção e inviolabilidade de pessoa humana assegurados na Constituição. O gayzismo quer impor quase como 'dever' a toda a população do país a prática do homossexualismo como padrão 'normal e saudável'. Se a pessoa não se declarar pelo menos 'bissexual, ela é homofóbica. Já é mais ou menos assim. Nem todo homossexual é gayzista, nem todo gayzista é homossexual. Lula, por exemplo, é gayzista.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A fogueira de Galileu

 As bobagens sobre Galileu e a Inquisição são freqüentes e insistentes. Exemplo: 'todo mundo sabe' que Galileu morreu queimado numa fogueira, na Idade Média. Pura invenção. Ele morreu aos 78 anos, em 1642 (portanto, já na era Moderna), assistido por um sacerdote na casa de seu discípulo e admirador, o Arcebispo Piccolomini. Sobre a recusa da Igreja em aceitar a teoria heliocêntrica do universo, as coisas não foram bem assim: as divergências entre a Igreja e Galileu eram muito mais de natureza teológica que científica e diziam respeito à interpretação das Sagradas Escrituras. Enquanto a Igreja queria que Galileu considerasse suas conclusões como 'hipóteses', ele insistia em apresentá-las como 'verdades absolutas'. A Igreja estava certa. http://bit.ly/a7b9X2

O CASO GALILEU GALILEI

 
 
Joaquim Blessmann



1. O MITO

Três séculos e meio de uma publicidade distorcida e laicista fizeram nascer o mito de que Galileu foi um “mártir da ciência e da liberdade de pensamento e a Igreja a costumeira inimiga da liberdade e do progresso humano”, comenta Cintra (1). Também transcrevemos o seguinte trecho, retirado de obra de Massara (2), página 28: “Não se tratou de um conflito entre ciência e religião, entre razão e fé, como uma certa literatura laica, claramente interessada, tem feito crer; mas de uma crise interna do organismo eclesiástico”.

Aliás, não é a única distorção histórica. Há muitas. Monumental, é por exemplo, a que apresenta a Idade Média como uma época de obscurantismo e estagnação, o que não corresponde à realidade. Parece haver uma tendência de cada época denegrir a que veio imediatamente antes. Pense-se, por exemplo, na Renascença. Ou, atualmente, a atitude de muitos católicos, com suas críticas por vezes contundentes à Igreja de antes do Concílio Vaticano II. Parece que se baseiam em uma afirmação de Cristo, convenientemente deturpada: “Eu estarei convosco até a consumação dos séculos, porém só a partir do Concílio Vaticano II ...”

A seguir, reproduziremos afirmações errôneas sobre o caso Galileu, que conseguimos coletar. Algumas delas serão refutadas logo após serem enunciadas. As demais, no decorrer deste trabalho.

- “Galileu foi condenado na Idade Média.” Esta vai até meados do século XV. Ora, Galileu nasceu em 1564. Ou seja, cerca de um século após o término da Idade Média.

- “Galileu foi condenado por dizer que a Terra era redonda.” Ora, já na antiga Grécia isto era admitido por muitos. Por exemplo, Pitágoras (século VI a.C.) e seus discípulos falavam da esfericidade da Terra, da Lua e do Sol, bem como da rotação da Terra. E na Europa a esfericidade da Terra já tinha defensores quatro séculos antes de Galileu. Uma prova concreta já tinha sido dada pela expedição de circunavegação da Terra, comandada por Fernão de Magalhães, em 1521.

- “Galileu teve Copérnico como discípulo.” Ora, Copérnico faleceu em 1543. Galileu nasceu 21 anos depois, em 1564.

- “Galileu foi o autor da teoria heliocêntrica.” Ora, o sistema heliocêntrico deve-se a Aristarco de Samos, no século III a.C., cerca de 1.900 anos antes de Galileu publicar e defender suas concepções astronômicas.

- “Galileu foi condenado porque defendia o sistema heliocêntrico.” Não, ele foi condenado pelo modo como o defendia.

Outras afirmações errôneas, que tentaremos esclarecer neste trabalho, são as seguintes: Galileu foi torturado, cegado, aprisionado em uma masmorra, queimado vivo, condenado por heresia.

Se quisermos analisar corretamente, e com a máxima isenção de ânimo possível, fatos ocorridos em outra época, é necessário que nos ponhamos a pensar com a mentalidade, os costumes e, importante, com os conhecimentos e o “senso comum” daquela época. Por isto, o capítulo “O Ambiente”.
2. O AMBIENTE

2.1. A Filosofia


Eram, principalmente, as de: a) Aristóteles e b) São Tomás de Aquino.

a) Aristóteles

Partia da observação dos fatos naturais, e a partir daí raciocina e chega a um conjunto de princípios gerais que permitam a compreensão do mundo material. Adota a astronomia geocêntrica, com a Terra, esférica e imóvel, no centro do universo. No mundo celeste, separado da terra pela esfera lunar, reina a perfeição. Na Terra, a imperfeição, coma geração, alteração e corrupção dos corpos, formados por quatro elementos básicos: terra, água, ar e fogo.

Antes de Galileu, na Idade Média, muitos filósofos e teólogos admitiam as idéias físico-astronômicas de Aristóteles, porém sem vinculá-las diretamente à Filosofia. Infelizmente, os aristotélicos da Renascença confundiram Filosofia e ciência.

b) São Tomás de Aquino

Na Suma Teológica, São Tomás de Aquino deixa bem claro que a realidade física, o fenômeno observado, é uma coisa; e outra são as teorias científicas que tentam explicá-lo: “Uma teoria deve salvar as aparências sensíveis” (isto é, deve estar de acordo com o que aparece aos sentidos, com a realidade física). “Isto, entretanto, não constitui uma prova suficiente e decisiva, porque talvez pudéssemos salvar as aparências sensíveis com uma teoria diferente e mais simples”.

Em outras palavras, uma teoria científica não pretende corresponder à realidade, mas apenas explicá-la. Exemplifiquemos:

- A teoria do contínuo, na engenharia. Admite-se, na engenharia, que a matéria é contínua, sem falhas, fissuras, vazios, poros, espaços entres cristais ou moléculas. É mais do que evidente que isto não corresponde à realidade. Mas as teorias baseadas neste postulado explicam satisfatoriamente o comportamento dos materiais e facilitam enormemente os cálculos, quer se trate de uma ponte, torre, barragem ou outra estrutura qualquer, quer se trate do movimento e de forças existentes nos líquidos e gases, tais como: sustentação de um avião, bolas com “efeito” (futebol, tênis, ping-pong) e mesmo no movimento do sangue nas veias e artérias, etc.).

- Isaac Newton: “Tudo se passa como se a matéria atraísse a matéria na razão direta das massas e na razão inversa dos quadrados das distâncias” (gravitação universal). Note-se a modéstia do verdadeiro cientista. Não afirma, categórico: “a matéria atrai a matéria ...”, mas, modestamente, sugere que “tudo se passa como se ...”

- Oven Gingerich (Ref. 3 pág. 91), astrônomo de Harvard: “Os átomos, como os imaginamos, não podem ser comprovados de um modo absoluto. O máximo que podemos dizer, é que o universo age como se fosse feito de átomos”. Novamente, um modesto “como se”, indicando que se pretende explicar a realidade, sem a pretensão de afirmar que é assim e não pode ser diferente.

- O mesmo vale para o mundo psíquico: uma teoria pode explicar o comportamento humano, mas nada assegura que ela dê a razão real deste comportamento. E aqui penso nas teorias de Freud e de outros, conflitantes entre elas; cada autor rejeita explicações diferentes da sua, a qual, no seu entender, exprime a própria realidade.

2.2. A Astronomia

a – Sistema geocêntrico

É o sistema mais antigo, cuja origem é incerta. Na antigüidade apresentaram-no, entre outros, Hiparco (190 a 120 a.C.). No século II de nossa era, o grego Claudio Ptolomeu fez melhoramentos na hipótese de Hiparco, mostrando, por suas observações, que as órbitas dos planetas não podem ser circulares, como queriam Hiparco e Aristóteles, entre outros (o círculo era símbolo da perfeição). A Terra, imóvel, ocupa o centro do universo. Em torno dela giram, na seguinte ordem: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno.

Esta concepção perdurou não só na Antigüidade, mas também por toda a Idade Média, em parte pela adesão de Aristóteles ao geocentrismo, em parte pelas objeções postas ao heliocentrismo, como veremos mais adiante.

b - Sistema heliocêntrico

Aristarco de Samos (século III a.C.) foi o primeiro a adotar e ensinar o sistema heliocêntrico. De acordo com Aristarco, o Sol está imóvel no centro do universo, e à sua volta os planetas descrevem órbitas circulares; as estrelas fixas encontram-se em uma esfera cristalina. Avaliou que as distâncias entre as estrelas eram extraordinariamente superiores à distância entre Sol e Terra.

Não havia provas convincentes de que a realidade estivesse de acordo com esta teoria, mas ela justificava plenamente a regularidade do movimento dos planetas. Por outro lado, havia argumentos de peso contra ela, baseados nos conhecimentos e no “bom senso” da época, proveniente da observação de fenômenos naturais. O argumento de maior importância (creio que muitas pessoas, mesmo nos tempos atuais, não sabem como o refutar) é o seguinte:

Se a Terra gira em torno do Sol, é necessário que também gire em torno de si, para produzir o dia e a noite. Se ela gira em torno de si, deve haver um movimento relativo terra-ar e, portanto, para quem está parado na superfície da Terra, um vento com a mesma velocidade. Se estou andando a cavalo, pensavam, quanto mais rápido andar o cavalo, mais veloz o vento que sentirei, devido ao movimento relativo cavalo-ar. Se estou parado, não sobre o cavalo, mas sim na superfície da Terra, e ela está “correndo” em sua rotação, deverei sentir um vento correspondente. E qual a velocidade deste vento? Os gregos já tinham feito o cálculo. Mais precisamente, Eratóstenes, medindo a diferença de latitude entre Siena (atualmente, Assuan) e Alexandria, e medindo a distância entre estas duas cidades, determinou a circunferência da Terra, no Equador. Foi concluído que, se a Terra girasse sobre si mesma, a velocidade no Equador seria de cerca de 400 m/s (1.440 km/h). E esta seria a velocidade do vento causado pela rotação da terra, velocidade essa suficiente para destruir florestas, veículos, construções, etc. (Na realidade, a velocidade é ainda maior: 1.670 km/h.) Este vento não existe. Logo: a Terra não pode ter o movimento de rotação requerido pelo sistema heliocêntrico para formar dias e noites.

Outro argumento contra o sistema heliocêntrico exporemos a seguir:

Se uma pedra for atirada verticalmente para cima, enquanto ela sobe e desce, a Terra se desloca e a pedra chocar-se-á com o terreno em um ponto afastado do ponto de lançamento. Se, após seu lançamento, a pedra levar dez segundos para chocar-se com o terreno, no Equador ela estaria a quatro quilômetros a oeste de seu ponto de lançamento! Repito o comentário feito acima: hoje em dia, quantos saberão explicar por que isto não acontece?

Por estas e outras dificuldades, a teoria heliocêntrica foi abandonada, voltando a ser apresentada muitos séculos depois por Nicolaus Copérnico, nascido em Toruñ, Polônia, em 14/02/1493, e falecido em Frauenburg, Polônia, em 24/05/1543.

Copérnico estudou astronomia e matemática na Universidade de Cracóvia e, por três anos, Direito Canônico em Bolonha, Itália. Também freqüentou as Universidades de Roma, Pádua e Ferrara. Em 1501 aceitou o posto de cônego da Catedral de Frauenburg, cidade onde fez suas observações astrônomicas.

Reintroduziu o sistema heliocêntrico de Aristarco, com modificações, em dois trabalhos:

- em 1530: “Comentários sobre as Hipóteses da Constituição do Movimento Celeste”;

- em 1543: “Sobre a Revolução dos Corpos Celestes”.

Este último trabalho foi dedicado ao Papa Paulo III, que aceitou a dedicatória, sem problemas. E, mais ainda, o sistema proposto por Copérnico foi usado pela Igreja para reformar o calendário litúrgico, permitindo prever a data da Páscoa e, a partir dela, as demais datas do ano litúrgico. O sistema geocêntrico de Ptolomeu havia levado a erros cumulativos importantes. Os cálculos para definir as datas litúrgicas foram enormemente simplificados com o sistema heliocêntrico. Estes cálculos foram feitos pelo jesuíta e matemático Clavius.

Segundo Copérnico, o Sol ocupa o centro do sistema planetário. Em torno dele os planetas giram em órbitas circulares, na seguinte ordem: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno.

c – Sistema misto

Proposto por Tucho Brahe (1571 – 1630), astrônomo dinamarquês. Tornou-se conhecido e admirado pelas medidas precisas que realizou, com instrumentos adequados, construídos por ele mesmo com muita perfeição.

O seu sistema é considerado por alguns autores como um sistema “conciliatório”. No centro do universo, a Terra, imóvel. À sua volta giram a Lua e o Sol. Os demais planetas giram em torno do Sol, acompanhando-o em seu movimento em torno da Terra. À distância, a esfera das estrelas.

2.3. Os Eclesiásticos e a Astronomia

Embora a maioria dos eclesiásticos estivesse de acordo com a teoria geogêntrica, havia Cardeais e outros eclesiásticos adeptos do sistema de Copérnico ou defensores de Galileu. Citamos uns poucos:

- O beneditino Castelli (filósofo e teólogo) diz, referindo-se ao sistema geocêntrico, defendido por Aristóteles: “Aristóteles errou nessa, como em muitas outras coisas” (Ref. 4, pág. 24).

- O Cardeal Maffeo Barberini opôs-se a que Galileu fosse declarado herético, bem como o Cardeal Caetani (ref. 4, pág. 24).

- O mesmo Barberini, como Papa Urbano VIII, declarou ao Cardeal Zoller que a Igreja não tinha condenado, nem estava por condenar, a teoria heliocêntrica como herética, mas apenas como temerária (Ref. 4, pág. 24).

- Riccardi, Mestre do S. Palácio, está convencido de que o heliocentrismo não é matéria de fé e de que, de forma alguma, convém comprometer nele as Escrituras (Ref. 4, pág. 24).

- Em 1632, na iminência do segundo processo, Castelli professa sua fé copernicana a V. Maculano, Mestre do S. Palácio e Comissário do S. Ofício (Ref. 4, pág. 24).

- Relembramos que o sistema heliocêntrico foi usado para a reforma do calendário litúrgico.

2.4. A Interpretação da Bíblia

Desde os Santos Padres dos primeiros séculos do Cristianismo, já eram conhecidos outros sentidos, além do estritamente literal, ao ser interpretada a Bíblia. Henri de Lubac (“Exégèse médiévale, Aubier, Paris, 1962, conforme Ref. 1, pág. 18) destaca que na exegese medieval se procedia à leitura da Sagrada Escritura segundo os quatro sentidos: literal, histórico, alegórico e moral.

Entretanto, no tempo de Galileu a interpretação da Bíblia era feita de modo mais rígido e, em geral, atendo-se exageradamente ao sentido literal do texto. Como causa principal desse modo de proceder, está o protestantismo, que, desde o manifesto de Lutero, em 1517, vinha promulgando a livre interpretação da Bíblia. Para evitar os males que estavam sendo causados à fé cristã por este modo de proceder, a Igreja passou a se fixar mais no sentido literal das palavras, enquanto não houvesse motivos fortes que desaconselhassem tal proceder.

Lembramos aqui o princípio da consciência possível, da sociologia: “Todo pensamento é socialmente condicionado e limitado. Devido aos condicionamentos que limitam a visão da realidade, há um limite máximo que o conhecimento ou a compreensão de um indivíduo, um grupo, uma classe social ou toda uma época pode atingir ... Outros fatores condicionantes que integram o conceito de consciência possível são a religião, o pensamento científico, as ideologias, as solidariedades étnicas e nacionais, o gosto artístico, etc., que limitam o campo da consciência para toda uma comunidades humana e até mesmo para uma época. Cada época possui paradigmas que condicionam sua cosmovisão científica e sua práxis concreta” (Ref. 5, pág. 19-20).

Naquela época, com o exíguo desenvolvimento das ciências naturais, as Escrituras eram usadas também para explicações científicas. Sem o conhecimento dos gêneros literários dos antigos orientais, do sentido correto de certas palavras, os teólogos interpretavam a Bíblia literalmente, o que, aliás, é um princípio da hermenêutica: “Não é lícito abandonar o sentido literal de um texto, sem que haja evidentes indícios de que é metafórico” (Ref. 6, pág. 268). Por exemplo, no caso de existirem argumentos de peso a favor de uma hipótese científica.

Além do quê, a interpretação literal de certos trechos da Bíblia (que apontavam para o geocentrismo) estava de acordo com o bom senso geral da época, que via o movimento do Sol e da Lua, bem como com os filósofos aristotélicos e com a quase totalidade dos astrônomos. Antes de Galileu, Aristarco e Copérnico já haviam lançado a hipótese do heliocentrismo, mas sem qualquer argumento convincente. E sem que alguém tivesse refutado o forte argumento contrário à rotação da Terra: “e o vento, senhores, o vento de 1.440 km/h oriundo da rotação da terra?”.

Citamos aqui D. Estêvão Bettencourt (Ref. 6, pág. 270): “Para estabelecer a atual teoria planetária, milhares de sábios e estudiosos contribuíram; assim as hipóteses de Copernicus, as medidas científicas de Tycho, as observações de Galileu, as leis formuladas por Kepler ... Ainda durante cerca de cem anos depois de Galileu os argumentos antigos em favor do geocentrismo continuaram a Ter peso mais forte na opinião pública do que as razões aduzidas por Copérnico e Galileu em favor do heliocentrismo”.

Continuamos citando D. Estêvão Bettencourt (Ref. 6, pág. 271 ou Ref. 7, pág. 428):

“A fim de ilustrar quão árduo devia ser a um cristão imbuído da mentalidade dos séculos XVI/XVII admitir o heliocentrismo, seja aqui observada a atitude dos autores protestantes diante do novo sistema:

Lutero (+ 1546) julgava que as idéias de Copérnico eram idéias de louco, que tornavam confusa a astronomia.

Melancton, companheiro de Lutero, declarava que tal sistema era fantasmagoria e significava a rebordosa das ciências.

Kepler (1571–1530), astrônomo protestante contemporâneo de Galileu, teve que deixar sua terra, o Wurttemberg, por causa de suas idéias copernicanas.

Em 1659, o Superintendente Geral de Wittemberg, Calovius, proclamava altamente que a razão se deve calar quando a Escritura falou; verificava com prazer que os teólogos protestantes, até o último, rejeitavam a teoria de que a Terra se move.

Em 1662, a Faculdade de Teologia protestante da Universidade de Estrasburgo afirmou estar o sistema de Copérnico em contradição com a S. Escritura.

Em 1679, a Faculdade de Teologia protestante de Upsala (Suécia) condenou Nils Celsius por ter defendido o sistema de Copérnicus.

Ainda no século XVIII, a oposição luterana contra o sistema de Copérnicus era forte: em 1774 o pastor Kohlreiff, de Ratzeburg, pregava energicamente que “a teoria do heliocentrismo era abominável invenção do diabo”.

2.5. A Inquisição

Só a leitura desta palavra já costuma causar mal-estar, por ser geralmente associada a terror, tortura, fogueira, morte. Nem tanto assim, embora não se possa dizer que a Inquisição tratava de amenidades.

Houve excessos, e graves, principalmente nos países onde o poder civil passou a comandar. Nem tudo é justificável, mesmo sem a intromissão do poder civil, que transformava a Inquisição em um órgão de interesse político, principalmente na Espanha e Portugal, a partir do século XVI.

Entretanto, procuremos entender os fatos e pensar com a mentalidade época, de acordo com o princípio da consciência possível, que comentamos anteriormente. Na época feudal, profano e sagrado eram muito unidos; por assim dizer, as duas faces de uma mesma moeda. Desvios doutrinários afetavam a vida social. “De certa forma”, diz Cintra (1), “a Inquisição foi a reação de defesa de uma sociedade para a qual a preservação da fé era tão importante como a saúde ou os direitos humanos para a sociedade atual ... Embora tenha havido episódios deploráveis, a Inquisição representou um claro progresso com relação aos tribunais e julgamentos da época, como reconhecem muitos juristas atuais: era o tribunal mais justo e brando do seu tempo” (o grifo é nosso). “Ela introduziu a justiça regular, evitando que a justiça leiga ou mesmo a revolta popular infligissem os piores castigos aos suspeitos de heresia. Muitas vezes foi a autoridade eclesiástica quem interveio para subtrair à fúria da multidão os que esta considerava heréticos, embora nem sempre conseguisse evitar que condenados à prisão fossem retirados e conduzidos à fogueira pela população furiosa e amotinada, que se queixava da “fraqueza e excessiva brandura” do bispo. Todos esses aspectos ajudam-nos a não julgar com tanta severidade instituições de outras épocas e mentalidades, ao mesmo tempo que nos levam a considerar que o nosso tempo também não está isento de coisas piores: guerras, campos de concentração, gulags, racismos, colonialismos, explorações, etc.”

Faremos outras citações, que confirmam as palavras de Cintra:

- Revista Crítica Histórica (Ref. 8, pág. 68): “Com o passar dos anos e com a multiplicação das pesquisas de arquivo, foram aparecendo cada vez mais elogios à racionalidade dos procedimentos e à brandura dos tribunais da Inquisição, que se revela não mais como uma entidade demoníaca, mas como uma instituição dotada de regras racionais e capaz de moderar o uso da tortura e desencorajar a denúncia e a delação”.

- Luigi Firpo, historiador laicista, com acesso aos tribunais do Santo Ofício (Ref. 8, pág. 68): “Compareceram diante daquele tribunal mais delinqüentes comuns, pessoas culpadas de atos que o direito moderno considera crimes, do que acusados de crimes de opinião e paladinos da liberdade de pensamento. As prisões de hoje são verdadeiros infernos se comparadas com as tão difamadas celas da Inquisição. Naturalmente, a Inquisição não era um agradável clube para conversas amenas, mas fornecia garantias jurídicas inexistentes nos tribunais civis daquela época” (O grifo é nosso).

- Gustav Henningsen, historiador dinamarquês (Ref. 8, pág. 70): “Ao contrário de todas as instituições da época, a Inquisição não recorria normalmente à tortura.” ... “A Inquisição introduziu um princípio de transparência, de moderação e de direito onde o poder político e o povo queriam proceder à justiça sumária e exemplar.” ... “A população católica não temia o Santo Ofício, como muitos historiadores quiseram demonstrar. Os inquisidores não era monstros nem torturadores, mas teólogos e juristas respeitados e estimados”.

“Nas igrejas protestantes predominava um zelo intransigente, reforçado pelo fundamentalismo bíblico que as caracterizava.” ... “Os protestantes criticavam a moderação do Santo Ofício.” Aliás, diga-se de passagem, a Igreja foi responsabilizada por grande parte dos crimes e fogueiras perpetuados pelos protestantes.

- D. Estêvão Bettencourt (Ref. 9, pág. 498): “Mais de uma vez a Santa Sé interveio para moderar o zelo e punir os excessos dos inquisidores. Todo inquisidor que abusasse comprovadamente do seu ministério era deposto do cargo”.

- Boulanger (Ref. 10, pág. 515): “Foi sobretudo na Espanha que a Inquisição deixou as mais profundas e tristes recordações. Instituída no século XIII, segundo as formas canônicas, foi modificada no fim do século XV por Fernando V e Isabel. Sob seu influxo a Inquisição converteu-se, por assim dizer, numa instituição do Estado, onde entreva mais política que religião”. Destacou-se, por sua excessiva severidade, o inquisidor dominicano Tomás de Torquemada.

- Boulanger (Ref. 10, pág. 519): “O código penal da Idade Média era em geral muito mais rigoroso que o da Inquisição. As atrocidades (torturas e morte pelo fogo) da legislação criminal da época tinham por finalidade impedir a repetição dos crimes, incutindo o terror com exemplos espantosos àqueles povos difíceis de governar e de costumes violentos”.

Lembremos, outrossim, que modos de agir de épocas passadas parecem, no presente, atrocidades ou vinganças, mas foram, dentro do ambiente então vigente, melhoramentos para a sociedade, abrandamentos de costumes bárbaros. Por exemplo, a conhecida "lei do talião", que transportou para o domínio da punição uma exigência de justiça, graduando a pena de acordo com o dano produzido (“olho por olho, dente por dente”). Antes dela, a vingança dependia da ira do vingador: a um dente arrancado poderia corresponder uma cabeça arrancada ...

2.6. O Index

Era uma lista de publicações que continham doutrinas errôneas, contrárias à fé e à moral cristãs. Por essa razão, as publicações contidas no Index não podiam ser lidas pelos católicos.

Houve exageros e excessos de rigor, mas o princípio é perfeitamente válido, e aplicado ainda hoje em dia em muitos países civilizados, nos quais há censura de programas de TV, peças de teatro, publicações, filmes, etc., tendo em vista a salvaguarda de princípios éticos e de respeito a convicções religiosas. Não são, por exemplo, os filmes classificados por idade, para evitar deformações no desenvolvimento psíquico e moral das pessoas?

Porventura deixaria uma mãe veneno ao alcance de seus filhos? Poderia então a Igreja, como mãe que é dos católicos, deixar ao alcance de seus filhos publicações que fossem nocivas à sua saúde espiritual?

Está a maioria da população brasileira, atualmente, satisfeita com Deseducação promovida pela televisão? Não está desprezando e agredindo as mais caras tradições da família brasileira, os bons costumes, a moralidade, os princípios éticos? Não está minando o caráter de nossa juventude? Não se pedem medidas que proíbam programas que levam à dissolução dos valores morais, éticos e religiosos?

Acrescente-se ainda que pessoas de sólida formação espiritual tinham permissão para ler publicações no Index.

Atualmente não temos o Index, mas temos publicações sérias, como Pergunte e Responderemos, que analisam e recomendam ou desaconselham a leitura de certas publicações, as quais nada de útil apresentam e podem causar confusão e desvios de fé e Moral em pessoas com deficiências em sua formação espiritual.

3. OS PROCESSOS

3.1. O primeiro Processo (1616)

Galileu soube de um aparelho inventado por um holandês que permitia ver objetos afastados com nitidez (telescópio). A partir dessas informações construiu um telescópio com melhores características e com ele fez muitas descobertas, tais como:

- as manchas do Sol (que não é, pois, o corpo perfeito descrito por Aristóteles);

- as crateras da Lua (que, portanto, não é a esfera lisa, perfeita, admitida por Aristóteles);

- a Via Láctea é constituída por um grande número de estrelas;

- Júpiter possui Luas (Galileu descobriu quatro), o que demonstrava que a Terra não era o centro de tudo;

- Vênus tem fases como a Lua; pelo que, muito provavelmente, deveria girar em torno do Sol.

Estas descobertas foram publicadas em 1610 e trouxeram uma grande popularidade a Galileu. Entre os que o cumprimentaram e admiravam seu trabalho, estavam o astrônomo Kepler e o matemático jesuíta Clavius (já citado em 2.2.b).

Por outro lado, os aristotélicos reagiram violentamente, inclusive duvidando da competência de Galileu como pesquisador: manchas solares e relevo da Lua dever-se-iam a sujeira nas Lentes do telescópio; outras descobertas não passariam de ilusões de ótica.

Em 1611 Galileu esteve em Roma e foi muito homenageado por cientistas e nobres. Foi recebido como membro da Academia dei Lincei. Os jesuítas (muitos dos quais eram professores e astrônomos) dedicaram-lhe uma festa acadêmica no Colégio Romano, com a presença de condes, duques, muitos prelados e alguns Cardeais. O próprio Papa Paulo V concedeu-lhe audiência.

Os problemas começaram com a publicação do livro “Contro il moto della terra” (Contra o movimento da Terra), do teólogo Ludovico delle Colombe, neste mesmo ano (1611). Ludovico elogiava Galileu, mas citava trechos da Bíblia e argumentos dos Santos Padres para demonstrar a tese geocêntrica. Eis algumas das citações: Salmo 103,5 – “Fundaste a terra em bases sólidas, que são eternamente inabaláveis”; Eclesiastes 1, 4-5 – “Uma geração passa, outra vem; mas a Terra sempre subsiste. O sol se levanta, o sol se põe; apressa-se a voltar ao seu lugar”.

O problema é que Galileu, em vez de responder com argumentos físicos, usou argumentos bíblicos, citando outro trecho que parece defender a tese contrária: Salmo 95,9 – “Diante d’Ele estremece a terra inteira”.

E assim a disputa, que deveria ser de caráter científico, passou para a exegese e a teologia. Os debates se multiplicaram. O beneditino Castelli, professor na Universidade de Pisa, defendia a opinião de Galileu. Este escreveu diversas cartas, dirigidas, entre outros, ao próprio Castelli, a Clavius e ao Cardeal Belarmino, defendendo-se. Da carta a Castelli transcrevemos um trecho, pela posição correta assumida por Galileu, no que diz respeito à interpretação da Bíblia (Ref. 2, pág. 111):

“A Escritura não se engana, mas sim os seus intérpretes e comentadores, de várias maneiras, entre as quais uma gravíssima e freqüentíssima, quando querem fixar-se sempre no puro sentido literal, pois assim aparecerão não só diversas contradições, mas também graves erros e heresias; seria necessário dar a Deus pés e mãos, e olhos, e também coisas corpóreas e humanas, como cólera, arrependimento, ódio, esquecimento do passado e ignorância do futuro. Donde, assim como na Escritura se encontram muitas proposições falsas quanto ao sentido nu das palavras, mas assim postas para se acomodarem ao numeroso vulgo, assim ... é necessário que os sábios comentadores apresentem o verdadeiro sentido.”

O dominicano Lorino enviou à Sagrada Congregação do Index (Inquisição Romana) uma cópia dessa carta, que tinha sido difundida por meio de cópias. A carta foi examinada, qualificada favoravelmente e o caso encerrado.

Entretanto, Galileu insistia em debater no terreno exegético-escriturístico, abandonando as razões científicas do sistema astronômico que defendia. Queria forçar uma decisão urgente da Sagrada Congregação para que certas passagens da Escritura fossem interpretadas de modo diferente do usual havia séculos.

Foi advertido para que deixasse o lado teológico da questão e usasse apenas argumentos das ciências naturais para justificar o sistema heliocêntrico.

Foscarini (Carmelita, Provincial da Calábria) publicada em 1615 obra em que defende a opinião de Copérnico.

O Cardeal Belarmino recomenda prudência a Galileu e a Foscarini: que não apresentassem o sistema heliocêntrico como verdade definitiva (o que não existe na ciência; nesta, nada é definitivo) e que não forçassem reinterpretações da Sagrada Escritura, enquanto não houvesse provas demonstrativas do novo sistema. Eis trechos de sua carta (Ref. 2, pág. 163 a 165):

“Uma coisa é sustentar o movimento da Terra e a estabilidade do Sol como hipótese, e isso está muito bem dito e não tem perigo algum ..., e é tudo quanto deveria bastar ao matemático.”

E mais adiante, na mesma carta:

“Quando fosse verdadeiramente demonstrado que o Sol está no centro do mundo e a Terra no terceiro céu, e que o Sol não circunda a Terra, mas sim a Terra circunda o Sol, então seria necessário com muitas considerações, pelo contrário, que são coisas que não podemos entender. Por mim, não acreditarei que seja possível tal demonstração, até que me seja apresentada.”

O fato é que Galileu não dispunha de alguma prova concreta ou convincente. A prova em que insistia, do fluxo e refluxo das marés, estava errada. As marés são causadas pela força gravitacional da Lua e do Sol. Ademais, se fossem causadas pela rotação da Terra, deveria haver só uma maré por dia, e não duas.

Acenou, como prova, para os ventos alísios, mas não pôde quantifificar o fenômeno. E aí estava certo, pois o desvio para o Oeste dos ventos que sopram para o Equador em ambos os hemisférios é causado pela rotação da Terra.

Em conclusão: não tinha provas científicas. Como vimos, tentou provar suas idéias por meio da Bíblia. Somente muito mais tarde, em 1851, é que Foucault conseguiu provar o movimento de rotação da Terra, com um pêndulo dependurado do teto do Panteon de Paris, que oscila em um plano fixo enquanto a Terra gira.

Entrementes, o padre dominicano Caccini fazia vários ataques aos matemáticos e aos adeptos de Galileu. O primeiro destes ataques aconteceu por ocasião de um sermão sobre o milagre de Josué (em que o Sol teria parado); ver Js 10, 7-15. Caccini foi chamado a Roma para explicar os ataques a Galileu. Caccini aproveita a ocasião para, junto com outros, pressionar o Santo Ofício, para que Galileu fosse condenado.

Galileu continua, com seu estilo polêmico, a discutir. Diz a Enciclopédia Mirador Internacional (verbete Galileu) que Galileu era “de um estilo de grande vivacidade, freqüentemente irônico e mordaz, pois era um temperamento polêmico”. Eis exemplos (de outras fontes, citadas neste trabalho) de seu estilo de argumentar, nada científico: recorria aos vocábulos “idiotas, bufos, hipócritas, impostores, ignorantes, estúpidos, animais”.

Em 24/01/1616, em sessão do Santo Ofício, os consultores apresentam seu parecer sobre a controvérsia. Qualificam duas proposições:

1.º - Sol fixo. É considerada falsa e absurda do ponto de vista filosófico e formalmente herética, por estar em contradição com várias passagens da Sagrada Escritura, de acordo com o sentido literal e a interpretação corrente dos Padres da Igreja.

2.º - Rotação da Terra e translação em torno do Sol. Falsa e absurda, do ponto de vista filosófico, e errônea na fé.

No dia seguinte, há uma reunião dos Cardeais, sob a presidência do Papa Paulo V, para avaliar o parecer dos consultores e pronunciar uma decisão. Foram tomadas duas medidas:

1.º - Cardeal Belarmino é encarregado de, em audiência particular, convenceu Galileu de abandonar a teoria copernicana. Galileu nega-se a tal. Recebe, então, de Belarmino, diante de um comissário da Inquisição e de outras pessoas, o preceito formal de não sustentar, ensinar ou defender. Galileu promete obediência. Não houve processo formal, nem sentença, abjuração ou penitência.

2.º - Por decreto da Sagrada Congregação do Index, foram proibidos os livros de Copérnico, de Foscarini e, de forma geral, dos que defendiam o sistema heliocêntrico. Nenhuma referência nem à obra nem ao nome de Galileu.

Observe-se que a obra de Copérnico, já com 80 anos, até então tinha sido deixada pela Igreja Católica à livre discussão, e havia eclesiásticos que a defendiam. E nela baseou-se a reforma do calendário, já referida.

O que provocou, depois de tanto tempo, sua proibição, foi a atitude de Galileu, querendo impor como certa, verdadeira, uma teoria para a qual não tinha provas objetivas. Pelo contrário, insistia em uma prova falsa, a das marés. E jamais ele ou outro contemporâneo conseguiu explicar o paradoxo do vento de 1.440 km/h, na linha do Equador, que “deveria” existir em virtude da rotação da Terra. Galileu, lançado mão de razões exegéticas e insistindo em uma reinterpretação da Bíblia, acabou forçando uma decisão imatura e lamentável da Sagrada Congregação do Index.

É de destacar que, em 11/03/1616, Paulo V recebeu Galileu em audiência particular. Considera-o um verdadeiro filho da Igreja e reconhece a retidão das intenções de Galileu, dizendo-lhe que nada temesse de seus caluniadores.

3.2. O Segundo Processo (1633)

Em novembro de 1618 apareceram três cometas na Europa. Foi o estopim para recomeçarem as discussões, com Galileu violento no falar como antes.

Entre 1624 e 1630 Galileu escreve um novo livro, “Diálogo sobre os dois Sistemas Máximos de Mundo, o Ptolomaico e o Copernicano”. Galileu comunicara ao Papa Urbano VIII que pretendia escrever esse livro. O Papa o apoiara, aconselhando-o, porém, a não entrar em conflito com o Santo Ofício e a tratar o sistema de Copérnico como hipótese. Uma recomendação perfeitamente correta para os dias atuais, pois agora é ponto pacífico que em ciência nada é definitivo.

Em maio de 1630 Galileu vai a Roma para obter o necessário “Imprimatur”. O encarregado de examinar seu livro, Pe. Riccardi, era amigo pessoal de Galileu. Conclui que eram necessárias algumas correções:

1.º - Mudar o título, que era “Diálogo sobre as marés”, porque destacava muito o único argumento (e errado) de Galileu para provar o sistema copernicano.

2.º - Alterar algumas passagens.

3.º - Alterar o prefácio, de modo a não apresentar o sistema heliocêntrico como verdade segura, mas sim como hipótese.

Diante disso, Galileu resolveu imprimir o livro em Florença. Riccardi concordou, desde que Galileu lhe trouxesse o primeiro exemplar da obra, com as devidas correções, para receber o “Imprimatur”. Galileu argumenta com a peste, que dificultava a comunicação entre as duas cidades. Mais uma vez, cede Riccardi, concordando com o exame da obra em Florença, bastando enviar a Roma o título e o Prefácio.

Em Florença, Galileu consegue que o revisor seja outro amigo seu, Stefani, que foi induzido a pensar que a obra já tinha sido aprovada em Roma. Stefani concedeu a autorização. O título e o prefácio foram enviados para aprovação e o livro foi publicado em 1631.

Quando Riccardi recebeu um exemplar da obra completa, viu com surpresa que, antes da aprovação florentina, figurava a sua. E sem nenhuma correção no corpo do livro: o sistema copernicano era apresentado em toda a obra, exceto no Prefácio, como verdade incontroversa.

Urbano VIII, pressionado pelos inimigos de Galileu, e considerando a desobediência formal à proibição de 1616, passou o assunto à Inquisição.

A comissão encarregada de examinar a obra grupou a censura em oito pontos, esclarecendo nas conclusões que todos eles podiam ser corrigidos (as marés como falsa prova, apresentar o sistema copernicano apenas como hipótese, etc.). Mas, acrescentava, a desobediência era um agravante bastante sério (o grifo é nosso, pois as conclusões da comissão mostram que o problema era, basicamente, disciplinar).

Galileu, chamado a Roma para julgamento, depois de vários adiamentos (doença, velhice, peste, inundações, foram os motivos alegados), lá chega em 12/02/1633. Hospedou-se inicialmente no palácio do Embaixador de Florença; depois passou a residir no edifício da Inquisição, em aposentos do Fiscal da Inquisição, “cômodos e abertos” (nada de aprisionamento em masmorras, “a pão e água”, como diz uma das lendas).

Foi submetido a quatro interrogatórios:

- No primeiro negou que houvesse defendido o sistema heliocêntrico em seu livro.

- No segundo declarou que, relendo o livro, reparara que em alguns trechos o leitor podia realmente pensar que ele defendia tal sistema.

- No terceiro desculpou-se por desobedecer à proibição de 1616, afirmando que a advertência tinha sido verbal e que não se recordava de uma ordem para ele em particular.

- No quarto e último interrogatório (em 21/06/1633), quando lhe perguntaram solenemente se defendia o sistema copernicano, respondeu negativamente.

No dia seguinte, em Decreto do Santo Ofício, é publicada a sentença, na qual consta:” ... é absolvido da suspeição de heresia, desde que abjure, maldiga e deteste ditos erros e heresias ...”. Galileu ouviu de pé e com a cabeça descoberta a leitura de sua condenação (três anos de prisão; recitação semanal dos sete salmos penitenciais, por três anos). Depois, de joelhos e com uma mão sobre os Evangelhos, assinou um ato de abjuração, no qual declarava que era “justamente suspeito de heresia”.

Nesta ocasião, Galileu teria exclamado, batendo com o pé no chão: “e pure si muove” (e todavia se move). Lenda inverossímil, dadas as circunstâncias (estava de joelhos). É uma fantasia que apareceu pela primeira vez em 1757 (mais de um século depois), em obra de Baretti.

Além das penas pessoais, também foi proibido o livro de Galileu.

No dia seguinte, a sentença é comutada pelo Papa. Galileu vai viver no palácio do Embaixador de Florença e depois passa para a casa do Arcebispo Piccolomini, seu discípulo e admirador, em uma espécie de prisão domiciliar. Foi-lhe permitido voltar a Florença em 10/12/1633, cinco meses e oito dias depois da condenação.

Como se vê, nada de condenação por heresia, torturas, fogueira, etc. É verdade que durante o processo, em virtude de suas evasivas, foi ameaçado de tortura, de acordo com os trâmites processuais. Por outra, a tortura nunca era infligida a pessoas idosas ou enfermas. Galileu estaria isento por ambas as condições.

Da Referência 11, página 284, citamos: “Embora reconheçamos que o segundo processo teve, como gravame, a vaidade e a insinceridade de Galileu, devemos todavia lamentar profundamente a primeira condenação de 1616 como inquietante erro judicial, e como abuso de poder diretamente catastrófico em suas conseqüências” (proibição das obras de Copérnico).

Em 1637 fica cego. Em 1638 publica o livro “Diálogo das duas novas ciências”, que são a Resistência dos Materiais e a Mecânica Racional, básicas para vários ramos da engenharia.

Morre em 08/01/1642, assistido por um sacerdote, como bom católico.

4. COMENTÁRIOS

a – Muitos dos comentários a seguir são retirados da obra de Cintra (1).

- O episódio de Galileu é lamentável, mas compreensível, se levarmos em consideração o ambiente, costumes e mentalidades vigentes naquela época.

- A imagem Galileu versus Igreja, ou ciência versus Igreja, foi criada por pensadores anti-católicos dos séculos XVIII e XIX, para apresentar a Igreja como inimiga da ciência, do progresso e da razão. Muitos eclesiásticos estudavam sistematicamente astronomia e vários deles vinham defendendo o sistema heliocêntrico mesmo antes de Galileu, como o próprio Copérnico, que era cônego.

- A Igreja não queria proibir que se discutisse o sistema de Copérnico, mas apenas solicitava que não fosse apresentado como incontestável, enquanto não houvesse provas decisivas. O argumento das marés, que Galileu apresentou como prova máxima, era falso.

- Aliás, como já tínhamos comentado, pela atual filosofia da ciência, nada é definitivo em ciência; mesmo as teorias mais “badaladas” podem cair. Um exemplo é a famosa teoria do evolucionismo, de Darwin. Pelos conhecimentos atuais, não há “elos perdidos”. O que aconteceu foram mutações fortes, mudanças bruscas que geraram novas espécies, cuja estabilidade está cada vez mais comprovada. Uma espécie aparece “subitamente” e se mantém praticamente inalterada, até desaparecer. Sobre evolucionismo recomendamos a obra de Cintra (12), uma excelente e resumida apresentação do tema.

Outros exemplos temos na própria astronomia, com as diversas teorias sobre a formação dos planetas, sobre o universo em expansão, em contração, pulsante, etc.

- Parte do acontecido deve-se ao caráter de Galileu, polêmico, ríspido, agressivo, e ao fato de ter difundido prematuramente suas conclusões científicas, sem provas suficientes.

- Houve também um erro grave por parte de representantes da Igreja, que se intrometeram em matéria exclusivamente científica e condenaram um sistema astronômico, no processo de 1616.

b – Do filósofo cético-agnóstico Paul Feyerabend citamos (Ref. 13, pág. 64): “No tempo de Galileu, a Igreja se manteve mais fiel à razão do que o próprio Galileu e levou em consideração também as conseqüências éticas e sociais da doutrina de Galileu. O processo contra Galileu era justo e racional”.

c - Palavras do físico Nicola Cabibbo, presidente do Instituto Nacional de Física Nuclear da Itália (Ref. 14, pág. 29): “Se examinarmos o processo, vemos que Galileu não foi condenado pelas suas teses científicas, mas porque tentava fazer teologia. O próprio Galileu afirmava, errando: visto que a Terra gira em torno do Sol, devemos mudar a Sagrada Escritura. Nesse caso, quando Newton descobriu a gravitação universal e Einstein a relatividade, deveríamos ter mudado de novo os textos sagrados”.

d - Filósofo laico Emanuele Severino, falando sobre a reabilitação de Galileu pela Igreja (Ref. 15, pág. 33): “recitando o “mea culpa” sobre Galileu, a Igreja atribui à ciência um valor absoluto justamente hoje, quando a ciência reconhece que não tem verdades absolutas e indiscutíveis. É estranho que não levem em conta as considerações do Cardeal Belarmini, que aconselhou Galileu a expor as suas teorias em forma de hipótese e não de verdades absolutas. A postura de Belarmino era muito mais moderna, com uma consciência crítica do saber científico superior à de Galileu”.

e – Em 03/07/1981, o Papa João Paulo II nomeou uma comissão de teólogos, cientistas e historiadores, a fim de aprofundarem o exame do caso Galileu. Os resultados foram apresentados após onze anos, em 31/10/1992. Neste mesmo dia, 350.º aniversário da morte de Galileu, realizou-se sessão solene da Pontifícia Academia de Ciências. Do discurso que então proferiu João Paulo II extraímos os seguintes trechos (16):

“Galileu rejeitou a sugestão de apresentar o sistema de Copérnico como uma hipótese, até ser confirmado por provas irrefutáveis. Tratava-se de uma exigência do método experimental, do qual ele foi o iniciador genial.” (Isto é, Galileu errou em seu próprio terreno.)

“O problema que os teólogos da época se puseram era o da compatibilidade do heliocentrismo e da Escritura. A ciência nova, com os seus métodos e a liberdade de investigação que eles supõem, obrigava os teólogos a interrogarem-se sobre os seus próprios critérios de interpretação da Escritura. A maioria não o soube fazer. Paradoxalmente, Galileu, fiel sincero, mostrou-se sobre este ponto mais perspicaz do que os seus adversários teólogos. Se a Escritura não pode errar, escreve ele a Benedetto Castelli (em 1613), alguns dos seus intérpretes e comentaristas o podem e de muitas maneiras. Também é conhecida a sua carta à Cristina de Lorena (em 1615), que é como que um pequeno tratado de hermenêutica bíblica.”

“A maioria dos teólogos não percebia a distinção formal entre a Escritura Sagrada e a sua interpretação, o que os levou a transpor indevidamente para o campo da doutrina da fé uma questão, de fato relevante, da investigação científica.”

“Recordemos a frase célebre atribuída a Baronio: O Espírito Santo quer nos dizer como se vai para o céu; não como vai o céu.”

“Belarmino, que tinha percebido o que estava realmente em jogo no debate, considerava que, diante de eventuais provas científicas do movimento orbital da Terra ao redor do Sol, devíamos interpretar, com uma grande circunspecção, toda a passagem da Bíblia que parece afirmar que a Terra é imóvel, e “dizer que não o compreendemos, antes de afirmar que é falso o que se demonstra” (Carta ao Pe. ª Foscarini, 12/04/1615)”.

f – João Paulo II recordou um fato histórico pouco conhecido: Galileu já tinha sido reabilitado por Bento XIV em 1741, com a concessão do “Imprimatur” à primeira edição das obras completas de Galileu. Em 1757, as obras científicas favoráveis à teoria heliocêntrica foram retiradas do Index de livros proibidos. Em 1822, Pio VII determinou que o “Imprimatur” podia ser dado também aos estudos que apresentavam a teoria copernicana como tese.

g – Destacando alguns pontos do que foi apresentado neste trabalho, diremos que a condenação de Galileu foi devida ao modo como ele defendeu o sistema heliocêntrico. Quis prová-lo com argumentos bíblicos (incidindo no erro que condenava em seus oponentes, ele, o criador da experiência científica), errou no argumento das marés e insistiu na necessidade de uma pronta reinterpretação de certos trechos da Bíblia. A condenação de 1633 deveu-se à desobediência de Galileu ao compromisso assumido em 1616. Neste processo, sim, os representantes da Igreja cometeram um grave erro, opinando em matéria de interesse exclusivo da ciência, ao declararem um sistema astronômico contrário à fé.

Houve acertos de ambos os lados no campo oposto. Galileu com seus comentários sobre a correta interpretação da Bíblia (“um pequeno tratado de hermenêutica bíblica”, no dizer de João Paulo II). Belarmino e outros eclesiásticos apregoando o que hoje é um princípio fundamental da ciência: nela, nada é definitivo (o heliocentrismo devia ser apresentado como hipótese, não como verdade incontestável). Eles tiveram uma concepção dos fundamentos do saber científico superior à de Galileu, cientista renomado e criador da experiência cientificamente conduzida.
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BIBLIOGRAFIA

1 – Jorge Pimentel Cintra – “Galileu”. Ed. Quadrante, São Paulo, SP, 1987.

2 - Franco Massara – “Os grandes julgamentos da história – Galileu Galilei”. Otto Pierre Editores Ltda., São Paulo, SP.

3 - Estêvão Bettencourt – “O caso Galileu Galilei”. Pergunte e Responderemos, Rio de Janeiro, RJ, Ano XXIV, n.º 267, março-abril 1983, p. 90-97.

4 – Mário Viganó – “Algumas considerações sobre o caso Galileu”. Cultura e Fé, Porto Alegre, RS, nº. 32, janeiro-março 1986, p. 11-26.

5 - D. João Evangelista Martins Terra, SJ – “O Negro e a Igreja”. Ed. Loyola, São Paulo, SP, 2ª. ed., 1988.

6 - Estêvão Bettencourt – “História do Cristianismo”. Pergunte e Responderemos, Rio de Janeiro, RJ, Ano X, n.º 114, junho 1969, p. 261-272.

7 - Estêvão Bettencourt – “No caso Galileu Galilei: que houve?”. Pergunte e Responderemos, Rio de Janeiro, RJ, ANO XXI, n.º 250, outubro 1980, p. 420-428.

8 - Antonio Socci – “Iluminados e caçadores de bruxas”. 30 dias, São Paulo, SP, Ano V, n.º 6, junho 1990, p. 68-71.

9 - Estêvão Bettencourt – “O martelo das feiticeiras”. Pergunte e Responderemos, Rio de Janeiro, RJ, Ano XXXII, n.º 354, novembro 1991, p. 495-508.

10 – Boulanger – “Manual de Apologética”. Livraria Apostolado da Imprensa. Porto, Portugal.

11 – Tüchle e Bouman – “Nova história da Igreja. III – Reforma e Contra-Reforma”. Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 2ª. ed., 1983.

12 – Jorge Pimentel Cintra – “Evolucionismo. Mito e realidade”. Ed. Quadrante, São Paulo, SP. 1988.

13 – Joseph Ratzinger – “O desafio da homologação religiosa”. 30 Dias, São Paulo, SP, Ano V nº. 5, maio 1990, p. 62-67.

14 – Lucio Brunelli – “Galileu, o teólogo”. 30 Dias, São Paulo, SP, Ano VI, nº. 10, novembro 1992, p. 29.

15 – Antonio Socci – “Academia ou política?”. 30 Dias, São Paulo, SP, Ano VII, nº. 1, janeiro 1993, p. 32-35.

16 – L’Osservatore Romano, edição portuguesa, nº. 45 (1.098), 08/11/1992, p. 554-555.


*Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb.
Nº 382 – Ano 1994 – Pág. 107
Em síntese: Apresentamos um artigo do Prof. Dr. Joaquim Blessmann sobre o caso Galileu. Revê a história; recoloca os dois processos contra Galileu em seu contexto próprio; refere pormenores importantes, que são geralmente desconhecidos, e assim, numa visão imparcial, possibilita ao leitor melhor entendimento do famoso episódio. Na verdade, para compreender fatos pretéritos, não há melhor alvitre do que a reconstituição dos parâmetros ou do senso comum que norteavam as concepções dos homens da respectiva época.

Agradecemos cordialmente ao Prof. Joaquim Blessmann a sua valiosa colaboração. O autor é Engenheiro Civil; Professor Adjunto Aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Mestre e Doutor em Ciências pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA); Membro da Academia Nacional de Engenharia do Brasil; Membro Correspondente da congênere Academia da Argentina. – Endereço: R. Gabriel Mascarelo, 85 – 90840-740 begin_of_the_skype_highlighting              85 – 90840-740      end_of_the_skype_highlighting – Porto Alegre (RS) – Fone: (051) 249-2738.