quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Viva o pixo.

  "Xô, Figueiredo". Brasília lavou a alma quando leu a frase pichada num paredão da Rodoviária da cidade, lá pelo início de 81. Aquelas duas palavras decretaram o fim da ditadura . A Gloriosa acabou ali. 

      Imagina, em pleno regime militar, na cidade mais policiada do Brasil, alguém ter a coragem de cravar aquele grito preso na garganta dos brasileiros num muro branco, em pleno Eixo Monumental, a apenas poucos quilômetros do temido Forte Apache, apelido com que é conhecido o Quartel-General do Comando do Exército Brasileiro, em Brasília. 

        O protesto durou pouco, a pichação sumiu, a parede foi limpa rapidamente, mas quem viu, sorriu. Eu vi. Não existia celular naquela época, mas deve existir uma fotografia daquele "Xô, Figueiredo". Aquilo sim, era protesto. E transgressão.

Bandido não é juiz

       Eu não dou a bandido o direito de fazer justiça. Se os presos que foram decapitados e esquartejados eram criminosos violentos e cruéis, não é outro criminoso igualmente violento e cruel que vai lhes dar o 'castigo merecido'. Que um e outro cumpram a pena que a lei estabeleceu. 

       As cadeias brasileiras são desumanas, nós o sabemos, mas elas são umbrais do inferno também porque a sua clientela é gente que não teme a Deus, para além da desigualdade e injustiça que imperam na sociedade. Gente que acha que quem esquarteja e arranca coração só precisa de oficina de artesanato na cadeia, para a sua 'recuperação', bem merecia uma 'visita' de umas destas 'vítimas da sociedade' à sua casa numa noite em que estivesse sozinha.

PS: não desejo a ninguém, de coração, que receba este tipo de visita, É força de expressão, figura de linguagem.

Dirceu e Marcola são letrados

        Eu prefiro escola a presídio. Mas a oposição não é esta. Marcola leu mais de três mil livros, Nietszche é seu preferido. Por que não largou o crime? Sabe como ele(s) se refere(m) a quem trabalha honestamente? Otário. 

       Não é (falta de) escola que faz alguém optar pelo crime. As razões podem ser enumeradas, não estudar, não frequentar os bancos escolares, tem influência, mas não explica. Quer ver? Pensa em José Dirceu, só para citar um exemplo paradigmático. Virou criminoso porque não estudou? O seu crime não é só colarinho branco e corrupção, seu nome está envolvido, junto a Lula e Gilberto Carvalho, ao assassinato de Celso Daniel. Crime torpe, cruel, premeditado. Celso Daniel foi torturado antes de morrer, sem direito de defesa. Faltou escola para Zé Dirceu?

Vale quanto pesa

          A moda agora é dizer que mulher gorda é fetiche sexual. O foco é o fim da ditadura estética opressora que impõe a magreza curvilínea como padrão de beleza. O combate ao preconceito é radical, ele não se limita à exaltação das gordinhas gostosinhas, plus size, cheias de curvas e recheios e já tem quem garante que obesidade mórbida também é bonito e seduz. Pelo novo padrão, a mulher bonita e sensual vale quanto pesa. 

         O mais engraçado é que a mulherada que combate a coisificação da mulher e denuncia a submissão ao padrão fitness das coxas e peitos perfeitos, barriguinha chapada e bundinha empinada, curte adivinha o quê? Homens sarados que exibem invejáveis abdomens tanquinho, coxas e bíceps rijos e volumosos e tórax musculosos. Mas isto não é coisificar o homem? Manda esta mulherada escolher entre Jô Soares de terno  e David Beckham de cueca. Aí, eu quero ver convicção.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

A lésbica anti-gay: Camille Paglia e a coragem da liberdade.

Giampaolo Rossi (Il Giornale)

         Camille Paglia é uma das pensadoras mais originais do nosso tempo. Americana de ascendência italiana, representa uma das inteligências mais livres, contraditórias e desmistificadoras  da cultura contemporânea

         É feminista, mas despreza o feminismo contemporâneo, que define como "doente, indiscriminado e neurótico" e o persegue com implacável  ironia: "Deixar o sexo para as feministas é como sair de férias deixando o seu cão com  um taxidermista".
Admira as mulheres emancipadas dos anos 20 e 30 dos Novecentos  (como é chamado o século XX)  "porque elas não atacavam os homens, não os insultavam, nem os consideravam a fonte de todos os seus problemas, enquanto que, hoje em dia, as feministas culpam os homens por tudo" .

DE ESQUERDA

        Camille Paglia é de esquerda  mas reconhece que "Democratas, que têm a pretensão de falar em nome dos pobres e desfavorecidos, são sempre cada vez mais o partido de uma elite de intelectuais e acadêmicos."
Ela, ícone de uma cultura radical-chic que vai ao fundo em 68, explica a inutilidade de intelectuais que, "com todas as suas fantasias de esquerda, têm pouco conhecimento prático da vida americana."

ATÉIA
    
        Camille Paglia é atéia, mas ai de quem tocar no papel histórico da religião, especialmente do cristianismo: "Eu tenho um enorme respeito pela religião, que eu considero uma fonte de valor psicológico infinitamente mais rica, ética e cultural que o tolo e mortífero pós-estruturalismo , que foi transformado numa religião secular. "

LÉSBICA

          Camille Paglia é lésbica e, em muitas entrevistas, ela fala de seu comportamento juvenil transexual; no entanto, ela admite que "os códigos morais são a civilização. Sem eles, ela seria esmagada pela barbárie caótica do sexo, da tirania da natureza ".

          Detesta a estupidez das mobilizações gays e a intolerância dos homossexuais, e quando lhe perguntamos "por que nos últimos anos não surgiu nenhum líder gay remotamente semelhante à estatura de Martin Luther King", ela responde: "Porque o ativismo negro inspirou-se nas profundas tradições espirituais da igreja a que a retórica política gay sempre foi hostil de maneira infantil. Estridente, egoísta e doutrinário, o ativismo gay é completamente desprovido de perspectiva filosófica ".
Ela, que afirma ter sido a primeiro estudante lésbica a se assumir como tal na Universidade de Yale, reconhece que "a homossexualidade não é normal; ao contrário, é um desafio à norma".

          E sobre as novas fronteiras da procriação assistida, diz que está "preocupado com a mistura perniciosa entre ativismo gay e ciência que produz mais propaganda do que verdade."

          Ela reconhece que a sua homossexualidade e suas tendências transexuais são uma "disfunção de gênero", porque na natureza "há apenas dois sexos determinados biologicamente", e os casos de androginia efetiva são muito raros ", o resto é fruto de propaganda."

          Quanto àqueles pais que, graças a médicos condescendentes, mudam o sexo das crianças em face de comportamentos aparentemente transexuais, Camille Paglia não admite justificativas: "É uma forma de abuso infantil."

           Fique claro: para Camille Paglia, não está em questão o direito de qualquer homem ou mulher adultos viver a sua sexualidade com liberdade e amor; nem o dever de um Estado de reconhecer os direitos fundamentais de cada indivíduo para alcançar a sua própria auto-realização, mesmo no campo da afetividade e sexualidade; o que está em discussão é pacto mefistofélico que o Ocidente está fazendo com a Técnica para romper a ordem natural: "A natureza existe, goste-se ou não; e na natureza, a procriação é uma regra única e implacável. "

TRANSGÊNEROS E O DECLÍNIO DO OCIDENTE 

           Alguns meses atrás, diante das câmeras dO Roda Viva, o famoso programa de entrevista da emissora  brasileira TV Cultura, ela foi ainda mais clara: "o aumento da homossexualidade e do transexualismo são um sinal do declínio de uma civilização."

           Não há qualquer julgamento moral nesta afirmação (e como poderia haver?), mas uma análise histórica sobre o Ocidente, e que interpreta os sinais do seu  tempo; "Ao contrário das pessoas que elogiam o liberalismo humanitário que permite e incentiva todas estas possibilidades transgêneros, eu estou preocupado sobre como a cultura ocidental é definida no mundo, porque este fenômeno na verdade incentiva os irracionais, eu diria, os psicóticos opositores do Ocidente, como os jihadistas do Isis"

"Nada define melhor a decadência do Ocidente de que a nossa tolerância com a homossexualidade declarada e com o transexualismo".


Palavras de uma  extraordinária e corajosa pensadora lésbica.

http://blog.ilgiornale.it/rossi/2016/01/27/la-lesbica-anti-gay-camille-paglia-e-il-coraggio-della-liberta/

PS: (aqui abaixo, a entrevista no original, em italiano)

La lesbica anti-gay: Camille Paglia e il coraggio della libertà


Camille Paglia è una delle più originali pensatrici del nostro tempo. Americana di origini italiane, rappresenta una delle intelligenze più libere, contraddittorie e dissacranti della cultura contemporanea.


È femminista ma disprezza il femminismo contemporaneo che definisce “malato, indiscriminato e nevrotico” e lo rincorre con spietata ironia: “lasciare il sesso alle femministe è come andare in vacanza lasciando il tuo cane ad un impagliatore”.
Ammira le donne emancipate degli anni ’20 e ’30 del ‘900 “perché non attaccavano gli uomini, non li insultavano, non li ritenevano la fonte di tutti i loro problemi, mentre al giorno d’oggi le femministe incolpano gli uomini di tutto”.

DI SINISTRA
Camille Paglia è di sinistra ma riconosce che “i Democratici che pretendono di parlare ai poveri e ai diseredati, sono sempre più il partito di un’élite fatta d’intellettuali e accademici”.
Lei, icona di una cultura radical-chic che affonda nel ’68, spiega l’inutilità degli intellettuali che “con tutte le loro fantasie di sinistra, hanno poca conoscenza diretta della vita americana”.

ATEA
Camille Paglia è atea ma guai a chi le tocca il ruolo storico della religione e sopratutto del cristianesimo: “ho un rispetto enorme per la religione, che considero una fonte di valore psicologico, etico e culturale infinitamente più ricca dello sciocco e mortifero post-strutturalismo, che è diventato una religione secolarizzata”.

LESBICA
Camille Paglia è lesbica ed in molte interviste ricorda la sua attitudine giovanile transessuale, eppure ammette che “i codici morali sono la civiltà. Senza di essi saremmo sopraffatti dalla caotica barbarie del sesso, dalla tirannia della natura”.

Detesta la stupidità delle mobilitazioni gay e l’intolleranza degli omosessuali e quando le si domanda: “Perché in questi anni non c’è stato nessun leader gay lontanamente vicino alla statura di Martin Luther King?” Lei risponde: “Perché l’attivismo nero si è ispirato alla profonde tradizioni spirituali della chiesa a cui la retorica politica gay è stata ostile in maniera infantile. Stridulo, egoista e dottrinario, l’attivismo gay è completamente privo di prospettiva filosofica”.
Lei, che rivendica di essere stata la prima studentessa lesbica a fare outing all’università di Yale, riconosce che “l’omosessualità non è normale; al contrario si tratta di una sfida alla norma”.

E sulle nuove frontiere della procreazione assistita, si dice “preoccupata dalla mescolanza perniciosa tra attivismo gay e scienza che produce più propaganda che verità”.

Riconosce che la sua omosessualità e le sue tendenze transgender sono una “forma di disfunzione di genere” perché in natura “ci sono solo due sessi determinati biologicamente”; e i casi di effettiva androginia sono rarissimi, “il resto è frutto di propaganda”.

Verso quei genitori che, grazie a medici compiacenti, cambiano il sesso dei figli a fronte di comportamenti apparentemente transessuali, Camille Paglia non ammette giustificazioni: “È una forma di abuso di minori”.

Sia chiaro: per Camille Paglia, in ballo non c’è il diritto di ogni uomo o donna adulti di vivere la propria sessualità con libertà e amore; né il dovere di uno Stato di riconoscere fondamentali diritti di ogni individuo a raggiungere la propria realizzazione di sé, anche in campo affettivo o sessuale; in ballo c’è il patto mefistofelico che l’Occidente sta facendo con la Tecnica per disarticolare l’ordine naturale: “La natura esiste, piaccia o no; e nella natura, la procreazione è una sola,  regola implacabile”.

TRANSGENDER E DECLINO DELL’OCCIDENTE
Qualche mese fa, davanti alle telecamere di Roda Viva, il famoso format televisivo brasiliano di Tv Cultura, è stata ancora più chiara:  “l’aumento dell’omosessualità e del transessualismo sono un segnale del declino di una civiltà”.

Non c’è alcun giudizio morale in questa affermazione (e come potrebbe esserci?) ma un’analisi storica sull’Occidente che interpreta i segni del tempo; “a differenza delle persone che lodano il liberalismo umanitario che permette e incoraggia tutte queste possibilità transgender, io sono preoccupata di come la cultura occidentale viene definita nel mondo, perché questo fenomeno in realtà incoraggia gli irrazionali e, direi, psicotici oppositori dell’Occidente come i jihadisti dell’Isis”.

“Nulla definisce meglio la decadenza dell’Occidente che la nostra tolleranza dell’omosessualità aperta e del transessualismo”.
Parole di una straordinaria e coraggiosa pensatrice lesbica.