quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Lixo humano

A militância vegan compara o extermínio de seis milhões de seres humanos à morte de galinhas e vacas. Estes seres desprezíveis usam a palavra 'holocausto' para falar do departamento de abate dos aviários e frigoríficos! Gente nojenta e psicopata, isto é o que é um militante revolucionário das causas 'nobres'.


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Vegan: nem para sabão
























   Os animais que invadem as ruas em passeatas 'vegan' (o que quer que signifique esta coisa) falam em 'holocausto', referindo-se à morte de galinhas! Remetem ao Decálogo ("Não matarás") para protestar contra a fabricação de lingüiça de porco. 

    Será que dá para fazer pelo menos sabão desta raça de idiotas? Ou, então, poderíamos soltá-los em parques e reservas onde vivem animais selvagens, como 'ração". Que tal?

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Embrião é semente



    Se matar, a semente não vira árvore. Se abortar, o embrião não vira gente. Apesar disto, tem muito defensor do 'verde' que é a favor do aborto. 

    Confere aí: loucos por mato costumam ser abortistas. Os assassinos não vêm nenhuma contradição nesta loucura. É que abortista gosta de matar, só isto.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Caetano Gonçalves de Macedo, meu avô.



     Vovô Caetano era um homem de inteligência exuberante. Seu raciocínio para a matemática impressionava, ele tinha uma capacidade inigualável para empreender.


    Nasceu pobre, tornou-se um grande fazendeiro e foi prefeito de Coração de Jesus/
MG por nove anos. Modernizou a cidade, construindo, na década de 50, até um campo de pouso para aviões (que as línguas ferinas e maledicentes apelidaram de 'campo de futebol' hehe).


    Mamãe conta que, certa vez, lá pousou um avião com belos pilotos americanos, as mães da cidade ficaram encantadas com a possibilidade de arranjar um casamento para as filhas e garantir herdeiros louros de olhos azuis que falavam inglês.


       Refinado, meu avô nada tinha em comum com coronéis toscos e endinheirados. Ele andava sempre de terno de linho branco (Montes Claros, onde ele veio morar no final da década de 50, é muito quente) e chapéu panamá. 


       Morreu dormindo em sua cadeira de balanço ao lado da janela que dava para uma videira enorme, no jardim da casa. Ele também gostava de rapé e colecionava moedas de ouro.






    A família de meu pai era a coisa mais próxima dos Kennedy que eu conheci. Caetano Gonçalves de Macedo era o chefe do clã, o patriarca.

* Meu pai é o último à direita na foto; atrás, minha mãe, de cabeça baixa (ela justifica o gesto por sua preocupação com um filho que estava doente. Mas poderia ter levantado a cabeça, a foto é para sempre
.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O Tráfico Negro no Brasil e a Igreja


O Tráfico Negro no Brasil e a Igreja
(D. Estevão Tavares Bettencourt, OSB)

As tribos da África Ocidental praticavam a venda de homens negros como escravos. Procuravam assim os vencedores na guerra retirar algum lucro da vitória: trocavam por dinheiro ou mercadorias os adversários prisioneiros; para estes, era preferível ser vendidos como escravos a permanecer sob o domínio de africanos vencedores; estes tratavam ignominiosamente os vencidos.

No Brasil, a exploração das minas e demais riquezas naturais sugeriu aos portugueses a procura de escravos na África - coisa, aliás, que já outros povos (como, por exemplo, os árabes da península ibérica) praticavam, para atender aos serviços da agricultura e da indústria. 

Principalmente após D. Afonso, que reinou até 1453, os reis de Portugal perderam o controle sobre a importação de escravos, de modo que os colonos portugueses levaram multidões de africanos para a Europa. Consequentemente também os trouxeram para o Brasil, fazendo negócios altamente lucrativos tanto para quem vendia como para quem comprava os negros.

 A Igreja não se calou diante de tais costumes. Entre os documentos que o atestam, existe uma carta do Papa João VIII, datada de setembro de 873 e dirigida aos Príncipes da Sardenha, que diz:

-Há uma coisa a respeito da qual desejamos admoestar-vos em tom paterno; se não vos emendardes, cometereis grande pecado, e, em vez do lucro que esperais, vereis multiplicadas as vossas desgraças. Com efeito,- por instituição dos gregos, muitos homens feitos cativos pelos pagãos são vendidos nas vossas terras e comprados por vossos cidadãos que os mantêm em servidão. 

Ora consta ser piedoso e santo, como convém a cristãos, que, uma vez comprados, esses escravos sejam postos em liberdade por amor a Cristo,- a quem assim proceda, a recompensa será dada não pelos homens, mas pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isto exortamo-vos e com paterno amor vos mandamos que compreis dos pagãos alguns cativos e os deixeis partir para o bem de vossas almas (Denzinger-Sch'ánmetzer, Enquirídio dos Símbolos e Def inições nº 668).

0 Papa Pio II, em 7 de outubro de 1462, condenou o comércio de escravos como magnum scelus (grande crime).

Em 1571 Tomás de Mercado, teólogo de Sevilha, declarava desumana a traficância de escravos, tanto mais que instaurava uma luta fratricida entre os próprios africanos. Em sua Summa de Tratos y Contratos, este autor afirmava não haver justificativa para negócio tão infame.

Houve mesmo sacerdotes que se sacrificaram, tanto no Brasil como fora, em favor dos escravos. Sejam citados, entre outros, os Padres Afonso Sandoval S.J. e Pedro Claver. 0 primeiro foi o pioneiro do trabalho em prol dos negros em Cartagena das Índias, porto de tráfico no Mar das Antilhas.

Com grande coragem denunciou os maus tratos de muitos traficantes; através de seus escritos, tentou suscitar uma mentalidade antiescravagista; para melhor trabalhar, procurou conhecer a cultura africana a fim de entender mais perspicazmente aqueles pobres seres humanos que ele defendia.

Quanto a Pedro Claver, em 1610 chegou de Sevilha a Cartagena das Indias, onde o Pe. Sandoval lhe ensinou o amor aos negros. Na Colômbia foi ordenado sacerdote e passou a trabalhar com o Pe. Sandoval junto aos negros. No ano seguinte, foi para o Peru; retornou depois a Cartagena e assumiu também as missões entre os escravos das fazendas do interior. 

Durante toda a sua vida, cuidou de cerca de trezentos mil escravos. Em 1639, quando o Papa Urbano Vil 1 publicou um documento em favor dos escravos, viveu dias felizes. Todavia esse servidor dos escravos morreu paralítico, de doença contraída nas missões da região pantanosa de Tolu e Finu, aos 8 de setembro de 1654.

As Constituiçoens primeyras do Arcebispado da Bahia (1707) mais de uma vez se voltaram para a sorte dos escravos, procurando fazer que os senhores lhes propiciassem ou facilitassem os bens espirituais. Assim, por exemplo, no tocante ao sacramento do matrimônio, rezavam as Constituições:

-Conforme o direito divino e humano, os escravos e escravas podem casar com outras pessoas cativas ou livres e seus senhores lhes não podem impedir o matrimônio nem o uso dele em tempo e lugar conveniente, nem por esse respeito os podem tratar pior, nem vender para outros lugares remotos, para onde o outro, por ser cativo ou por ter outro justo impedimento, o não possa seguir, e, fazendo o contrário, pecam mortalmente e tomam sobre suas consciências culpas de seus escravos, que por este temor se deixam muitas vezes estar e permanecer em estado de condenação- (D. Sebastião Monteiro de Vide, Constituiçoens, titulo 71).

Os sacramentos da Eucaristia e da Penitência eram de fácil acesso aos escravos, principalmente na Quaresma, em vista do cumprimento do preceito pascal.

No concernente ao sacramento da Ordem, o impedimento para os escravos não era racial, mas provinha da própria condição de escravos. Regozijavam-se, porém, quando entravam em contatos com sacerdotes negros, que vinham da Costa de Angola ou da ilha de São Tomé, onde havia um cabido de cônegos todos negros.

 Deve-se notar também o papel benéfico desempenhado pelas Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, cujas igrejas eram pontos de encontro de escravos e livres; aí cultuavam a Deus e faziam suas devoções como também exprimiam suas aspirações e deixavam vir à tona seus íntimos sentimentos.

Dentre os Estatutos dessas Confrarias merecem destaque alguns tópicos como os seguintes:
-Toda pessoa, preta ou branca, de um ou outro sexo, forro ou cativo, de qualquer nação que seja, que quiser ser Irmão desta Irmandade, irá à mesa ou à casa do Escrivão da Irmandade pedír-lhe faça assento de Irmandade--- (Cap. 1 do Compromisso da Irmandade da Paróquia do Pilar de Ouro Preto).

0 capítulo 11 do mesmo Compromisso reza:
-Haverá nesta Irmandade um Rei e uma Rainha, ambos pretos, de qualquer nação que sejam, os quais serão eleitos todos os anos em mesa a mais votos e serão obrigados assistir com o seu estado as festividades de Nossa Senhora e mais Santos, acompanhando no último dia atrás do pálio".

Vê-se que nestes textos desaparecem as diferenças raciais; além do que, escravos e livres são equiparados entre si.

 Descendo através dos tempos, temos uma Carta do Papa Pio VII enviada ao Imperador Napoleão Bonaparte da França, em protesto contra os maus tratos infligidos a homens vendidos como animais; ao que acrescentava: "Proibimos a todo eclesiástico ou leigo ousar apoiar como legítimo, sob qualquer pretexto, este comércio de negros ou pregar ou ensinar em público ou em particular, de qualquer forma, algo contrário a esta Carta Apostólica" (citado por L. Conti, A Igreja Católica e o Tráfico Negreiro, em 0 Tráfico dos Escravos Negros nos séculos XV-XIX. Lisboa 1979, p. 337).

0 mesmo Sumo Pontífice se dirigiu a D. João Vi de Portugal nos seguintes termos:
Dirigimos este ofício paterno à Vossa Majestade, cuja boa vontade nos é plenamente conhecida, e de coração a exortamos e solicitamos no Senhor, para que, conforme o conselho de sua prudência, não poupe esforços para que... o vergonhoso comércio de negros seja extirpado para o bem da religião e do gênero humano

Pio VII também muito se empenhou para que no Congresso Internacional de Viena (1814-15) a instituição da escravatura fosse condenada e abolida.

 Quanto à travessia do Oceano Atlântico por parte dos escravos trazidos em navios negreiros, verifica-se hoje que descrições de Castro Alves e outros autores são hiperbólicas e poéticas, fugindo à realidade histórica. Os brancos tinham interesse em prover à conservação da vida de seus escravos em condições tão boas quanto possível, visto que os negros deviam ser oferecidos aos colonos do Brasil, que os examinariam de perto antes de os comprar. Julga-se até que os traficantes contratavam médicos que acompanhavam a população dos navios negreiros.

 Alforrias e "Mão Posta”

A alforria é ato de libertar um escravo. Tal prática foi notável no Brasil colonial não só em favor dos inválidos (como erroneamente já se disse).

Havia ocasiões propícias à concessão de alforria por parte dos senhores: festas familiares, confecção de testamento, visitas episcopais. A alforria podia ser concedida também como recompensa à lealdade no serviço.

Além disto, registram-se os vários casos de escravos que compravam a sua liberdade ou a conseguiam através de padrinhos e madrinhas benfeitores. Os libertos ajudavam os ex-companheiros de serviço a conseguirem a sua libertação. As próprias Irmandades emprestavam dinheiro para que o escravo se tornasse forro.

Podia outrossim ocorrer a chamada "coartação": o escravo e o patrão estipulavam o preço do resgate, que o servo ia pagando aos poucos; entrementes, o cativo já gozava de vários direitos do homem livre. Mais: os escravos que denunciassem um contrabando, eram libertados pelo Estado. Aqueles que encontrassem diamantes acima de vinte quilates, eram alforriados.

Na Bahia, os negros organizaram "fundos de empréstimos" para facilitar a compra da alforria; essas organizações foram-se convertendo em sociedades emancipacionistas. A eficácia de tais instituições pode-se avaliar pelo seguinte depoimento de Herbert S. Klein, doutor pela Universidade de Chicago e autor do livro African Slavery in Latin America and the Caribibean, onde assevera:

-Na época do primeiro censo nacional brasileiro, em 1872, havia 4,2 milhões de pessoas de cor livres e 1,5 milhão de escravos. As pessoas de cor livres não apenas ultrapassavam em número os 3,8 milhões de brancos, mas também representavam 43%dà população brasileira, de 10 milhões de habitantes. Tudo isto mais de uma década antes da abolição da escravatura(pp. 241-X.

A Igreja incentivou as formas de libertação dos cativos, como bem dizia D. Pedro Maria de Lacerda, bispo do Rio de Janeiro:

-Provemos que os aplausos tantas vezes dados a quem dava alforria, eram aplausos sinceros, nascidos de um coração ansioso de ver a liberdade refulgir mais e mais entre os homens à sombra da Cruz- (Carta Pastoral anunciando a Lei nº 2040 de 

A Manu posita (Mão posta) era a prática de angariar recursos para redimir cativos por parte de pessoas caridosas; estas eram chamadas "manuposteiros". Constituiam associações com seu Regimento; os membros dessas entidades tinham cada qual a sua função: ora a de esmolér, que pedia donativos.por ocasião das festas ou nas fazendas, nas igrejas, nas ermidas, ora a de escriturar as receitas (escrivães), ora a de guardá-las e distribui-ias na qualidade de tesoureiro. . .

Aliás, existiam na Igreja a Ordem da SS. Trindade, desde 1198, e a dos Mercedários ou Nolascos desde 1222, destinadas a redimir os cativos detidos pelos sarracenos. A existência dessas Ordens era, por si mesma, uma réplica à prática da escravatura: como explicar a arrecadação de elevadas somas para pôr em liberdade cativos, se, de outro lado, os próprios portugueses aprisionavam africanos e os reduziam à escravidão? Os Trinitários e os Mercedários suscitaram, por seu trabalho, uma mentalidade anticativeiro, que se exprimiu no Brasil através dos manuposteiros. Assim descreve o historiador Vítor Ribeiro a solenidade do resgate realizada pelas Ordens Religiosas:

Era revestida de pompas estranhas a expedição de resgates. Os redentores, depois de terem recolhido as esmolas em cofre especial, despediam-se de El-Rey e do seu convento, deixavam crescer longas barbas, embarcavam com o cofre, e iam à Mauritânia expor-se a mil perigos, vexames e emboscadas com a cautela que a experiência lhes ia aconselhando; negociavam os resgates por intermédio do governo de Bey ou das autoridades e, por fim, conseguindo libertar os cativos, reconduziam-nos ao reino, onde faziam e publicavam longas listas de resgates, com os nomes, idades, naturalidades, condições de cativeiro e libertação e custo dos resgates... Depois, em dia aprazado, fazia-se em Lisboa solene procissão em que entravam várias Ordens e Confrarias, especialmente a da Misericórdia e a de Nossa Senhora do Resgate, a qual dava volta à igreja velha da Misericórdia e regressava ao convento (cf. História de Portugal, vol. IV, Damião Peres (Dir.) Barcellos, Portucalense Editora 1932, p. 565).

0 Bispo do Rio de Janeiro, D. Pedro Maria de Lacerda, em 1871 escrevia na sua Carta Pastoral referente à Lei do Ventre Livre:

A Igreja Católica alegra-se imensamente à vista do que acaba de realizar-se entre nós. E como não? Por ventura não é a Igreja Católica que deu ao mundo São João da Mata e que aprovou a Ordem dos seus Religiosos da Santíssima Trindade, cujo fim principal foi resgatar os que gemiam cativos em poder dos Sarracenos? 

Não foi a Igreja Católica que aprovou a Ordem dos Religiosos das Mercês, instituída por São Pedro Nolasco com o fim de resgatar os cativos que viviam sob o poder dos infiéis, obrigando-os a um heroismo assombroso de caridade, ligando-os com um solene voto a se deixarem eles mesmos em ferros como penhora e reféns, se tanto fosse preciso para o resgate dos Cristãos?

 E a Igreja Católica não celebra há tantos séculos a 24 de setembro de cada ano a instituição dessa heróica Ordem Relígiosa, criada por inspiração de Maria Santíssima, a quem a Igreja reconhece tanti operis Institutricem? E graças a Deus, no quinto dia dentro do oitavário desta festa é que a nova lei brasileira foi sancionada pela Augusta Princesa Imperial Reqente---.

Os frutos da mentalidade humanitária despertada pelo Cristianismo são atestados por vários relatos de viajantes e cronistas que passaram pelo Brasil. Entre outros, merece atenção Henry Koster. Filho de ingleses, nascido em Portugal, chegou ao Brasil em 1809. No seu livro Travels in Brazil relata viagens ao Nordeste e refere-se à condição dos escravos:

Atesta Koster: 'Os escravos no Brasil gozam de maiores vantagens que seus irmãos nas colônias britânicas. Os numerosos dias santos para os quais a Religião Católica exige observância, dão ao escravo muitos dias de repouso ou tempo para trabalhar em seu proveito próprio. Em trinta e cinco desses dias e mais nos domingos é-lhes permitido empregar seu tempo como lhes agradar' ' Atribui à opinião pública força suficiente para obstar que os senhores diminuíssem o número destes dias, o que revela uma mentalidade altamente humanitária da sociedade de então.

Desce Koster a detalhes sobre as alforrias, porta aberta para a libertação dos cativos, destacando o papel não relevante das associações religiosas:

'Os escravos possuem sua Irmandade como as pessoas livres, e a ambição que empolga geralmente o escravo é ser admitido numa dessas confrarias, e ser um dos oficiais ou diretores do conselho da sociedade'.
          
  Focaliza a tema devoção dos cativos a Nossa Senhora do Rosário, algumas vezes, pintada com a face e as mãos negras. Ressalta que 'os reis do Congo brasileiro invocam a Nossa Senhora do Rosário e são vestidos como vestem os brancos. Conservam, é verdade, a dança do seu país, mas nessas festas são admitidos pretos africanos de outras nações'. É que tribos de diversas regiões africanas, muitas até rivais na África, aqui se irmanavam sob o signo da Mãe comum, a Virgem Maria, que tanto amavam e veneravam.

Que os escravos eram respeitados se deduz deste assento: 'Os escravos no Brasil são regularmente casados de acordo com as fórmulas da Igreja Católíca. Os proclamas são publicados como se fossem para pessoas livres. Tenho visto vários casais felizes (tão felizes quanto podem ser os escravos), com grande número de filhos crescendo ao redor deles'.

Nota ainda Koster que era permitido que os escravos se casassem com pessoas livres. Se a mulher era escrava, o filho permanecia cativo; mas se o homem era escravo e a mulher forra, o filho era também livre.

'Aos escravos pertencem os sábados de cada semana para providenciar sua própria subsistência, além dos domingos e dias santificados. Os que são diligentes raramente deixam de comprar sua liberdade. Os monges não guardam interferência alguma quanto às roçarias dadas aos escravos, e quando um desses morre ou obtém sua alforria, permitem que leguem seu pedaço de terra a qualquer companheiro de sua escolha. Os escravos alquebrados são carinhosamente providos de alimento e roupa'

Testemunha ainda que muitos agricultores tratavam sua escravaria com carinho. Aliás, alega textualmente: 'Embora os negros sejam sustentados por seus amos, existindo terras com abundância, permitem aos escravos plantar o que quiserem e vender as colheitas a quem lhes aprouver. Muitos criam galinhas e porcos e, ocasionalmente, um cavalo para alugar e possuir o dinheiro assim obtido(transcrito do livro de J. Balmes: A Igreja Católica em face da Escravidão, pp. 108-110).

São estes alguns aspectos da história da escravidão no Brasil que devem ser postos em relevo para que se tenha uma visão tão objetiva e fiei quanto possível do período analisado.


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Padre Salmito: a perdição de Genoíno. (2)

Reportagens28/07/2003
  
 
  
Fotos: Reprodução
‘Naquela hora eu pensava na minha família, que esperava ter um filho doutor para ajudá-los’ José Genoino,
sobre o momento
da prisão em Xambioá
 
  
Fotos: Reprodução
Os pais Maria Laís e Sebastião Guimarães
Gente Fora de SérieJosé Genoino
Capítulo 1
Da infância pobre à guerrilha
continuação
 
– Consegui com as freiras Filhas de Santa Tereza que o Genoino estude lá sem pagar – disse a Sebastião.
– Não, padre. Filho de pobre que nasce na roça tem que trabalhar é na roça mesmo – respondeu o pai de Genoino.
– Mas seu filho é esperto, inteligente, não dá para perder essa oportunidade – retrucou o padre, diante do olhar arregalado de Genoino, que escutava a conversa dos adultos calado, num canto da sala.
– Deixe, Sebastião, é melhor para ele ir estudar. Deixe ele ter um futuro melhor do que esse da roça – interveio a mãe.
A conversa durou mais de meia hora. Contrariado, Sebastião cedeu. Genoino vibrou quieto, para não provocar o pai. E sua vida mudou com a ajuda do padre.
Aos 14 anos, deixou para trás a enxada, a casinha de tijolo, os pais e os, àquela altura, oito irmãos (no total são 12) para seguir padre Salmito. Foi morar na casa paroquial, ajudava a rezar as missas, fazia hóstias, cuidava da administração da casa e do salão da igreja, enquanto ia à escola. Teve que superar dificuldades. “Nunca tinha colocado sapato nos pés. Andava torto, mancando”, lembra. Também agüentou calado o incômodo apelido de “filho do padre”. A amizade entre o jovem e o religioso cresceu. Padre Salmito sabia dos flertes do rapaz na escola e até achou graça de sua paixão platônica por uma freira. “Conversávamos sobre tudo e foi com ele que comecei a entender a política”, lembra Genoino.
Foi também com o padre que Genoino entrou pela primeira vez num prostíbulo. “Fomos dar a extrema-unção para a
dona da casa, que estava doente”, conta. “Achei tudo estranho, aquelas mulheres tão maquiadas, corpo à mos-
tra, casa cheia de enfeites.” Entrou e saiu mudo. Bem diferente da atitude que tomou quando o dono do cinema
de Senador Pompeu decidiu acabar com a meia-entrada
para estudantes. Revoltados, quebraram tudo a pedradas. Foi seu primeiro ato de rebeldia.

Genoino começou a descobrir um novo mundo nas pregações esquerdistas do padre que ajudava trabalhadores a se organizarem em sindicatos e cooperativas. Participou dos encontros do Grupo de Estudantes Católicos (GEC) em Recife, Maceió e Campina Grande, onde conheceu Frei Betto, na época, o dirigente nacional do GEC. “Passamos vários dias juntos discutindo questões sociais. Era um grupo imenso e foi um encontro muito produtivo”, relembra Frei Betto, hoje assessor especial do presidente Lula.
Fotos: Reprodução
Com os irmãos Laíde, Giovani,
Guimarães e Vagner no ano passado
Após concluir o Ensino Fundamental, Senador Pompeu se tornou pequena para as aspirações do rapaz que pensava em ganhar dinheiro e ajudar a família. Para cursar o Ensino Médio, teria de se mudar para a capital. De novo, não tinha condições. Padre Salmito o ajudou. Arranjou
uma família amiga para abrigá-lo em Fortaleza, onde
Genoino chegou meses antes do golpe militar de 1964.
Fez exames do MEC e conseguiu terminar em um os
três anos do Ensino Médio.

Falante e animado, logo fez amigos na capital. Conver-
sava cada vez mais com uma vizinha, professora universitária, 15 anos mais velha, que certa vez o con-
vidou para ir ao cinema. Estava para completar 18 anos.
A caminho do encontro, nervoso, pressentiu: sua vida
estava para mudar radicalmente outra vez. Mas agora,
pelas mãos de uma mulher.

1 | 2

Padre Salmito: a perdição de Genoíno. (1)

(Esta matéria antiga da Istoé parece que veio de encomenda, em resposta à pergunta "Onde estão os padres bons?". Eu mesma não sabia destes fatos. E, claro, não podia faltar a mãozinha de Frei Betto).

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Reportagens28/07/2003
  
 
Fotos: Reprodução
Genoino em 1966,
como funcionário
da IBM no Ceará: rara foto sem a barba
  
Fotos: Reprodução
‘Dividíamos o parco caldo de feijão com farinha ou a farinha com rapadura, que era barata’
José Genoino, sobre a infância pobre
  
Fotos: Reprodução
‘Queria ler mais e mais para poder ir embora, então comecei a me esforçar para ser o primeiro da classe’
José Genoino
  
Fotos: Reprodução
A carteirinha do centro acadêmico, em 1968, e
a Carteira de Trabalho
Gente Fora de SérieJosé Genoino
Capítulo 1
Da infância pobre à guerrilha O presidente do PT se alistou numa frente de trabalho contra a seca com apenas 11 anos, aos 14 calçou seu primeiro sapato e foi empregado de multinacionais antes de virar guerrilheiro
Cecília Maia
 
Ele entrou pela primeira vez num
prostíbulo com um padre, para dar
a extrema-unção para a cafetina
Manhã do dia 18 de abril de 1972, um dos anos de chumbo da ditadura militar. Como de costume, o lavrador José Geraldo andava na mata da região de Xambioá, no Araguaia. De repente, surgiu a polícia, que estava à procura de um grupo suspeito de organizar uma guerrilha para derrubar o governo. Desconfiados do lavrador, o algemaram junto a uma árvore. José Geraldo era, na verdade, codinome do guerrilheiro José Genoino Neto, hoje presidente do PT. Naquela hora, ele jurava inocência. A polícia fotografou a cena. Sem saber, congelou um momento importante da história do País – e o mais difícil dos 26 anos de vida do guerrilheiro. Foi um dos poucos registros da sua juventude. Na infância, não teve a sorte de posar para
um retratista. “Ali eu pensava na minha família, que es-
perava ter um filho doutor para ajudá-los”, conta. Genoino sentira a incômoda certeza de que estava muito distante
do futuro imaginado quando criança.

Ele era o filho mais velho do agricultor Sebastião Genoino Guimarães e da professora Maria Laís Nobre Guimarães. Ainda contava a idade nos dedos de uma mão e já sabia usar a enxada para arar a terra na zona rural do pequeno e pobre Encantado, distrito da cidade cearense de Quixeramobim. A família plantava mandioca, feijão e arroz. Eram meeiros, pois a colheita era dividida com o dono da terra, a “meia”. Não viam dinheiro. A labuta diária rendia alimentos, quando o clima do semi-árido permitia. Em tempos de seca, Sebastião ouvia o ronco da barriga vazia dos filhos. “Dividíamos o parco caldo de feijão com farinha ou a farinha com rapadura, que era barata”, lembra o ex-deputado.
Nada, porém, havia sido pior do que o ano de 1958. Nem a novena de Laís, que reuniu a vizinhança para uma interminável reza no dia de São José, evitou a seca. Com apenas 11 anos, José Genoino seguiu para uma frente de trabalho para não ver seus seis irmãos sem comida. A barragem de Quixeramobim tem o seu suor. Ele carregava pedras num carrinho para ajudar na construção. Ao final do dia, ganhava pontos no cartão da frente e assim podia pegar alimentos no armazém. Testemunha da vida dura do filho, Laís insistia na vida escolar. “Aprenda, meu filho. Se você souber ler pode ir embora e ganhar dinheiro para ajudar a gente”, repetia como uma ladainha.
Laís ensinava o be-a-bá em casa para as crianças da região. Genoino aprendeu a escrever o nome e sabia juntar as letras, mas só entrou numa escola após a seca de 1958. Foi matriculado no grupo escolar do Encantado. O distrito se resumia a uma praça, uma igreja e uma estrada de terra batida, ladeada por 20 casas. Estranhou no início os colegas e a professora, mas estava determinado. “Queria ler mais e mais para poder ir embora, então comecei a me esforçar para ser o primeiro da classe.” Conseguiu. Pesarosa por ver aquele esforço desperdiçado na pobreza, a professora decidiu lhe ensinar os ofícios de coroinha. Assim, ele poderia ajudar padre Salmito, que duas vezes por mês aparecia para rezar missa, fazer casamentos e batizados.
Fotos: Reprodução
Em 1968, com grupo de amigos
alunos do primeiro ano de Direito
Dividindo o tempo entre a igreja, a roça e a escola, o menino chegou à quarta série do Ensino Fundamental. Para continuar os estudos, teria de se mudar para Senador Pompeu, a maior cidade da região. Lá, não havia escola pública, só colégios particulares ligados à Igreja, mas a família não podia pagá-los. Até que um dia padre Salmito, que é amigo de Genoino até hoje, chegou com boas novas:
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