terça-feira, 31 de julho de 2012

Futebol é coisa de macho



          Eu tenho paixão por futebol, acho Marta craque (ela é do Santos, e eu sou santista), mas não tenho qualquer interesse em ver jogo de futebol feminino. Futebol é coisa de macho, de homem viril, másculo, é jogo de força, de músculos, de se jogar contra o outro, entrar com tudo, nas divididas. 


    Resultado: ou as mulheres se tornam meio machos (e são, algumas são homens brutos) ou terão que jogar como mulherzinha, com delicadeza e cuidado. Aí, não é futebol, melhor mudar de esporte, futebol rosa shock não existe. Se é para ver força, músculo e jogo viril, eu vejo futebol jogado por homens de verdade, ora.


    Minha filha gosta muito de praticar esportes e começou a fazer pólo aquático no Clube Payneiras, aqui em São Paulo. Logo, estava na seleção, disputando campeonatos. Com os exercícios que o esporte exige ela começou a ficar com as costas e os músculos das pernas e braços maiores do que o próprio pai (um homenzarão forte e musculoso). 


    E mais: só andava vestida com uniformes esportivos, cabelos molhados, carregando mochilas imensas e pesadas para lá e pará cá. As amigas e colegas do pólo também só andavam assim, desleixadas, mal vestidas e carregando peso. Não tinham delicadeza nem graça feminina. 



    Opa, rodei a baiana. Mandei parar com aquele esporte. Minha filha protestou dizendo que, por causa do esporte, ela convivia com os gatinhos do pólo masculino, todos deuses apolíneos. 


    Ao que eu observei: "Os rapazes do polo namoram as gatinhas do balé". Pressionei tanto que ela largou. Hoje, ela agradece a mim. Pólo aquático, como o futebol,  é esporte de homem, alguma dúvida?

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Convite ao estupro?


   
   Deixemos claro: um homem de princípios, decente e bem formado, mesmo que fique excitado ao ver um decote ousado, não saltará sobre a mulher, obrigando-a a fazer sexo com ele, contra a sua vontade. 

   Já o estuprador, seja por ser doente mental ou doente moral, enxergará no decote ou vestimenta sensual um desafio, um convite e um estímulo à satisfação de todos os seus baixos instintos. Ele não vai deixar de estuprar pelo fato de não ter o direito de fazer isto. 

   Ao contrário: é porque ele não tem o direito de ser violento para obter sexo que ele o é. É o fato de subjugar a mulher mais fraca, fazendo sexo com violência, que o excita. Se ela ainda exibe o corpo de forma exacerbada e alardeia que tem o direito de se vestir como quer (e tem!), exercendo este direito, ao usar o que lhe apetece, para o estuprador tanto melhor. A violência será maior, e para ele, quanto mais violência maior o prazer.

   Resumo: será que, em vez de alertar para o horror da violência, a 'vadia' não está, no final das contas, instigando e provocando os estupradores a violentá-la? 

sábado, 28 de julho de 2012

Escravidão Islâmica


       "Sandice é dizer que a Igreja legitimou a escravidão. A Igreja sempre condenou a escravidão, embora fosse obrigada a aceitá-la quando não tinha forças para mudar a situação. Em Roma, logo que a população do Império Romano converteu-se ao cristianismo, acabou a escravidão, não sendo sequer necessária uma lei de libertação dos escravos. 

      Durante os mil anos da Idade Média, a escravidão desapareceu na Europa. Continuou sempre a existir entre os árabes e na África, não entre os cristãos. No Renascimento, com o poder declinante da Igreja na Idade Moderna, voltaram o paganismo e a escravidão, herdados da cultura greco-romana. 
      
     Ao contrário dos cristãos,  os muçulmanos sempre praticaram a escravização, pois, para o Islã, o que não crê, o ímpio, pode ser escravizado. Os negros que vinham para o Brasil,  atender à necessidade de mão-de-obra crescente da economia mercantil colonial, eram comprados de comerciantes árabes muçulmanos e dos próprios negros africanos, convertidos ao Islã.  

    Para cá, vieram muitos reis e nobres africanos, vendidos por seus desafetos como escravos. Segundo o historiador Alberto da Costa e Silva , "a presença européia na África era, portanto, muito limitada. Discreta. Não se comparava à do Islam, que desde o século IX, atravessara o deserto e se fora lentamente derramando pelo Sael e a savana. 

    Nos começos do século XI, os reis de Gaô e do Tacrur já eram muçulmanos e, na segunda metade do XIII, um mansa, ou soberano do Mali fazia a peregrinação a Meca.(...) Reinos, como Daomé (ou Danxomé), negreiro quase que desde o seu início, tomaram forma e força sob o estímulo do tráfico de escravos".  

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Cotas Raciais - Uma Idéia Elitista


Percival Puggina


A Universidade Federal do Rio Grande do Sul avaliou o desempenho acadêmico dos alunos cotistas e não cotistas e concluiu, segundo matéria de Zero Hora em 25 deste mês, que "os cotistas negros apresentam índices consideravelmente piores". Para cada aluno admitido pelo ingresso universal em 2008, com desempenho insuficiente, há 2,4 cotistas negros na mesma situação. Em percentuais, o mau desempenho é de 14,8% no sistema geral e de 34,8% entre os autodeclarados negros.

Tal informação contradiz o que ouvi em sucessivos debates ao longo dos últimos anos, segundo os quais tudo ia muito bem, graças a Deus. Não havia diferença entre cotistas e não cotistas. Sabe-se agora que há, sim, como seria previsível. A universidade não serve - e não deve, mesmo, servir - para suprir deficiências na escolaridade anterior de seus alunos.

As desigualdades sociais em meio às quais vivemos excedem, em muito, o tolerável, mesmo se considerarmos que há uma efetiva desigualdade natural entre os indivíduos. Nosso índice Gini (que mede a distribuição da renda nos países) é comparável ao das sociedades com desenvolvimento mais retardado. Chega a ser um disparate alguém observar o Brasil nessa perspectiva e deduzir que o mal está no acesso às universidades públicas. Não está! É na base do sistema de ensino, no bê-á-bá da cadeia produtiva da Educação, que ele se aloja e opera.

Só os gênios que comandam a Educação nacional não sabem que na vida real, na vida do mau emprego, do subemprego e do desemprego, no mundo do trabalho árduo e do salário baixo, para cada graduado de cor negra que recebe seu diploma no último andar do sistema, dezenas de crianças estão entrando pelo térreo para padecer as mesmas deficiências que inspiraram a ideia das cotas. Atrás do conta-gotas racial percebido nos atos de formatura, há uma hidrelétrica de alunos negros e pobres, recebendo o precário tipo de educação que a nação fornece a seus alunos pobres e negros. E ninguém vê isso? De nada nos servem os tantos bons exemplos de outros povos que superaram desigualdades internas maiores do que as nossas e emergiram como potências no cenário industrial e tecnológico, através de um bom sistema de ensino, do trabalho e do mérito?

Ademais, o próprio STF, ao contrário do que vem sendo repetido equivocadamente, deixou implícito que o sistema de cotas raciais é inconstitucional. "O quê?" perguntará espantado o leitor. "Mas não foi exatamente o contrário?". Estive bem atento durante toda a sessão em que o STF admitiu o sistema. Percebi que os ministros falaram muito mais sobre Sociologia, História do Brasil, Antropologia e Política do que sobre a Constituição. Nesse particular, nesse pequeno detalhe, seguiram o voto do relator, ministro Lewandowski. 


Quanto a este, era inevitável que, em algum momento, abrisse a Carta da República e topasse ali com coisas como a igualdade de todos perante a lei e com o preceito (quase universal no mundo civilizado) de que ninguém será discriminado, entre outras coisas, por motivo de raça. Como saiu o ministro dessa enrascada? Afirmou que um sistema de cotas raciais precisa ser transitório, temporário, devendo viger até que desapareça a situação que lhe deu causa. Não sendo assim, seria inconstitucional. 

Ora, isso significa que o conta-gotas funcionará até que se esvazie a hidrelétrica. O preceito da não discriminação persiste, mas perde vigência por prazo impreciso, embora não infinito. Ah! Se isso não é um truque na cartola do politicamente correto, então vou ter que pedir para voltar à universidade por um sistema de cotas para deficientes mentais. E mais: doravante, pelas letras da mesma oratória, todo concurso para magistratura, todo certame intelectual ou cultural, toda prova de habilitação, que não previr cotas raciais será provisoriamente inconstitucional. Arre, STF!

O Brasil importa técnicos e trabalhadores qualificados de nível médio porque não oferece esse tipo de formação aos seus jovens! Enquanto isso, as políticas de desenvolvimento social via universidade fazem o quê? Reproduzem a estúpida estrutura, tão do agrado da elite brasileira: um bacharelado, um canudo, um título de doutor, uma festa de formatura. E está resolvido o problema dos pobres. Até parece ideia de rico de novela.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

P(O)ETISMO

          Não foi só Maria Bethania que descobriu o filão poético-petista para abocanhar "o meu, o seu, o nosso dinheiro".  O jornalista e poeta Luis Turiba também levou uma grana do MinC, em 2007, para escrever o ainda inédito livro-poema 'meiaoito'. É ler para crer.
     
     Assessor de imprensa de Gilberto Gil no Ministério da Cultura, Turiba foi um dos dez vencedores da cobiçada Bolsa Funarte de Estímulo à Criação Literária, que teve mais de 500 participantes. Apesar do grande número de inscritos e dos poucos jurados (apenas cinco) incumbidos de ler os projetos para a escolha dos vencedores, o nome dos eleitos foi surpreendentemente anunciado dois(sic) dias depois do fim das inscrições. 
    
     Os prejudicados puseram a boca no trombone, denunciando a mutreta, Turiba foi citado nominalmente como um dos favorecidos pela farsa montada no MinC/Funarte. Mas não adiantou. *(1)
    
     O poema-título meiaoito - uma mixórdia indigente de clichês e vulgaridades que parece não ter fim -faz referência à militância revolucionária contra a ditadura que o autor afirma ter tido. 
   
      A julgar pela Bolsa Literária da Funarte, o autodenominado  poeta, jornalista, compositor, sambista e agente cultural não estava fazendo revolução, mas aquele investimento a que se referiu Millôr ao falar das 'vantagens e indenizações' aos perseguidos pelo regime militar.
   
     Turiba, que define Gil como 'pensador e filósofo', publicou um livro com discursos do ministro-cantor e editou dois DVDs: Gil na ONU e Programa Mundial da Capoeira.
   
     A consistência intelectual e a técnica poética de Luis Turiba estão à altura das profundezas filosóficas de Gilberto Gil.
Axé!

*(1):(ler aqui:
https://museudelrey.wordpress.com/2007/12/23/os-herois-do-funartegate-e-muito-mais/)

http://blogdoturiba.blogspot.com/ (este é o blog dopoeta)

meiaoito

68 razões de 68
luis turiba

“aonde andará a alquímica Beta?
em que planeta?em que molécula?
em que circuito de espreita?
em que centro de inteligência?
perdi sua órbita na poeira do tempo
mas não esqueço sua luz, sorriso de menina”
ua babuluna ual bãambum
a língua rock sacode o corpo
let´s twist again
festivais da Record bolinam a massa
CPC da UNE faz realismo engajado
prenuncia-se meiaoito
sexta sangrenta
furo juvenil
chapa quente nas refregas
aquela cabeça brasileira
tinha dois chafarizes de sangue
esguiçando morte como lavas
de um vulcão em erupção
o corpo trimilicava no chão
se sacudindo como tapete roto
no asfalto quente, uma da tarde
corríamos ruidosos por encarar
bombas tiros algemas
dos meganhas do Dops
e dos choques da PM
cantávamos palavras-de-ordem
com a força máxima das entranhas
como se fora o último e único desejo
de nossa jovem existência
cada carro incendiado
um gol comemorado
nunca soubemos-saberemos
quem era aquele
transeunte moreno alto
terno e gravata
tombado como jaca madura
no quintal anônimo
Manchete:
PM TEVE CABEÇA ESMAGADA
POR MÁQUINA DE ESCREVER
polícia procura responsável pela
chuva letrada na Avenida Rio Branco
coitos interruptos
saques no escuro
sabres desembanhados
cavalos na catedral
estilingues tinindo
escancaramento das consciências
ausência de medos & responsas
êxtases & demências
miserere nóbis & ho chin min
elvis & samba de raiz
che & wanderléia
guerilheiros de teses e tesões
arqueiras de flechas incendiárias
companheiras & companheiros
contra a ditadura
a fúria flácidas
de tênis e jeans quetais
braços acima das metáforas
peitos arfados de argonautas
táticas de silêncios e canções
deus nos liderava até nos fragmentos
mas o diabo tacava fogo no nosso rabo
todos os sonhos ativados
táticas lançadas ao redemoinho
fogueiras das vadias ilusões
tudo a girar a girar a girar:
rodas circulares
sputiniks bêbados
cães espiões e tantos senões
no parque juvenil
da doença infantil do esquerdismo
o som dos beatles na vitrola
satisfaction no beco da garrafa
tropicália & zicartola
mutantes & bob dylan
baseados & coquetéis molotovs
tom jobim versus Vandré
sim! tudo tudo tudo vai dar pé
hormônios em erupção
espermatozóides alcoólicos
a beira de um ataque histérico
e os cabelos a crescer
mais que os pentelhos
em torno daqueles pintos desgovernados
não bastava a só liberdade
nem o sol da América do Sul
não bastava só bastar
experimentar para provar
as barreiras do impossível
as fronteiras do improvável
as estações do comunismo
a revolução permanente
entre a esquerda festiva
e a militância ideogrâmica
entre o sexo cuba libre
e o grosso calibre do sem nexo
entre o ato institucional nº 5
e o circo da avenida central
entre o palco da peça teatral
e o tal poste da esquina
onde queimamos a bandeira ianque
com o fogo de nossos ideais
nas reuniões da revolucão
a internacional comunista anunciava:
em paris é proibido proibir
no rio, um rio leva nossas vidas
meiaoito, ano multiúnico
mutilador de calendário
valeu enquanto pulsou
impulsos anti-fuso horário
jardim de pedras e flores
avenida de pontos e pontes
passeatas de 100 mil amores
grande árvore da história
antes durante e avante
quem lá esteve ali se eternizou
aquela flor oiticica
desabrochou pra guerra
sem brochadas típicas
não vingou nem foi vítima
do eco que a fez frondosa
meiaoitista, eis aqui a vida
que trocamos pelos livros das escolas
ah!
meu primeiro grito pós-parto
meu primeiro jato de esperma
minha primeira cabeça raspada
feita e encaminhada ao universo
minha primeira pedra atirada
rumo às trevas por amor ao ardor do combate
meu primeiro era um garoto
que amava os beatles e os rolling stones à Vera
ela é minha menina eu sou o menino dela
minha primeira passeata-enterro
o cadáver ainda quente do secundarista Édson Luís
nosso estandarte dialético
meu primeiro almoço no Calabouço
onde calouro olhei a boca daquela moça
meu primeiro hino de guerra: ABAIXO A DITADURA
FORA O IMPERIALISMO
O POVO ARMADO
DERRUBA A DITADURA
ABAIXO O IMPERIA……
SHE LOVES YOU YÊ-YÊ-YÊ
meu primeiro jaleco manchado
de graxa sangue sonhos e gasolina
de artefatos explosivos
meu primeiro vietnam interno
contra a mecânica do curso técnico
minha primeira massa de manobra perigosa
minha primeira mesada ao partido comunista
minha primeira cabrocha da mangueira
meu primeiro tesão de gafieira
minha primeira nossa senhora da guerrilha
minha primeira cigarrilha
meu primeiro filme de Godard
na sessão de meia noite na Cine Paissandu – La Chinoise
minha primeira foice martelo guitarra e tamborim
meu primeiro artigo pseudocientífico
mostrando que homossexualismo era doença
de menino criado por vó
meu primeiro pileque homeripiscodélico
com cachaça de ebó pra exu na base da JEC do Grajaú
meu primeiro jornal Classe Operária
nas mãos de um pequeno burguês
fumando Continental sem filtro
minha opção pela luta armada
depois de um beijo na namorada
meu primeiro ponto secreto no Cine Roxy
Ave Nossa Senhora de Copacabana
minha primeira reunião da AMES
Pedro II, João Alfredo e André Maurois
minha primeira vontade de beijar um homem
meu primeiro pangrafismo planfletário
meu primeiro esquema de segurança
minha primeira iniciação lisérgica
pós leitura do Pasquim, na Banda de Ipanema,
prédios crescem, ganham vida partem pra cima
corro como quem corre da polícia
rumo às dunas da Gal
meu primeiro coquetel molotov
minha primeira batida de bafo de onça
minha primeira Internacional Comunista
minha primeira panfletagem relâmpago
meu primeiro uivo lunático
meu primeiro livrinho vermelho
do camarada Mao Tsé Tung
com seus ditames solucionáticos
minhas primeira masturbação cósmica
em memória das pernas brancas
de Brigite Bardot
meu primeiro baile de formatura
onde amei loucamente a namoradinha
de um amigo meu e ele nem percebeu
meu ensaio na Portela
Ilu Aiê Ilu Aiê Odora,
negro cantava na nação nagô
minha primeira aula de marxismo
leninismo-stalinismo-maoismo
tudo em ritmo de samba enredo
meu primeiro Tom & Vinícius
por que tu me chegaste
sem me dizer que vinhas
minhas primeiras bolinhas de gude mortíferas
usadas contra a cavalaria que invadiu
a catedral da Candelária
meu primeiro Chicou ou Caetano?
meu primeiro não, talvez meu primeiro chifre
ela declarou recentemente
que ao meu lado não tem mais prazer
minha primeira Elisabeta Bonante
deportada para a Itália após ser presa
na Escola Técnica de Química por ter feito
propaganha revolucionária na fábrica de tecidos
Nova América no operário bairro de Del Castilho
meu primeiro soneto da infidelidade
minha primeira dor de amor
minha primeira vaia de zumbido
meu primeiro aplauso de dedos
meu primeiros segredos de aparelhos
minha primeira cisma revolucionária
meu primeiro pau-de-arara imaginário
minha primeira Sílvia Kozinski,
musa beiçuda da saia curta
meus primeiros amigos que piraram
outros mais tarde chafurdaram-se
como porcos indefesos da chacina
da letal brancura ilusória da cocaína
minha primeira Albânia
o farol vermelho do camarada Ever Hodja
minha primeira Batmacumba iê iê
com Gil Mutantes e meninas bancando strep-teases
meu primeiro camarada preso morto na tortura
Joel Moreno deixava o morro do Borel
com um pacote de Classe Operária
consta ter sido incinerado no forno do Doi-Cod
minha primeira tomada do histórico prédio Capenama
minha primeira passeata dos 100 mil
minha primeira noite de amor livre
no apartamento de Romero Lascas
quando descobri que ainda não
sabia trepar com maestria
minha primeira porrada ginasiana
Pedro II Colégio Militar Ferreira Viana
minha primeira parada de sucesso no rádio
Disparada, A banda, Alegria Alegria, Obladi Obladá,
Eu quero é botar meu bloco na rua, A mão que
toca um violão, Já vem chegando a madrugada,
O meu canudo de papel, Para bailar la bamba,
Se for preciso faço a guerra,
Eu quero é que vá tudo pro inferno,
Por que não? Por que não?
meu primeiro treino de guerrilha
quando tive de dar uma de médico
na prainha Recreio dos Bandeirantes
quando o camarada Lucimar
apagou n´água após ataque epilético
meu primeiro desvio ideológico
por causa dos bilu-bilus
das trotkistas da Libilu
minha primeira Pantera Negra
meu primeiro Trini Lopes no bonde Lins de Vasconcelos
minha primeira olhada maliciosa para os joelhos da Nara Leão
meu primeiro papai comunista me empresta o carro
meu primeiro baseado nas imediações do Salgueiro
oferecido por um camarada da Ala Vermelha
meu primeiro Reis do Iê Iê Iê
meu eterno tio João Metalúrgico do Partidão
minha primeira senha insana:
- o elefante está latindo?
- não. a nuvem perdeu o trem…
minha eterna amiga Márcia de Almeida faz finanças no teatro Opinião, rouba livros teóricos pra vender pra burguesia,
resiste na Faculdade de Medicina
foge da prisão no campo do Botafogo
meu primeiro Vladimir Palmeira pendurado num poste
naquele delicioso aparece-some some-aparece
meus primeiros ílíderes
Travassos Franklim, Ceará, Brito, Jean Marques
a quem obedecíamos com centralismo democráticos
meus primeiros Janú e Marcos Igual
que mais tarde formariam o Comando Vermelho
com presos comuns na Ilha Grande
meu primeiro samba-enredo na Mangueira
o mundo encantado que Monteiro Lobato criou ô ô ô ô
minha primeira reunião da Ubes, em Teresópolis,
onde o conhaque fez a diferença
meu primeiro sabiá no maracanãzinho
pra não dizer que não falei de flores
em terra de carcará
meu primeiro aparelho de fuga
o apartamento das tias Alda e Gesilda em Copa
onde olhava mulher nua pela janela
e encontrava com Carlos Marighella
meu primeiro AI-5
fim da inocência
expulso da escola agora é a guerra popular de Lin Piao
cercar as cidades pelo campo
no imaginário Exercito Popular Revolucionário
meu primeiro hino anarquista
avante popochê
facchemu greve
viva lenine
morra kruchev
la media noche
céu estrelado
el santo papa
será enforcado
meu primeiro reveillon trêbado
misturado com velas flores garrafas de champanhe
e despachos de macumba
nas festas de Iemanjá da praia do Leblon
meu primeiro 69"


http://bit.ly/gmkTAT (Luis Turiba fala sobre o poemameiaoito)