quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Aécio não é Maduro

           O Brasil não melhorou porque Aécio Neves "quase" ganhou. Mas não piorou. Alguma coisa mudou. Aécio Neves ainda não deve ter entendido o que aconteceu,  aqueles 51 milhões de votos não foram só para ele, foi muito mais. 

           Aécio Neves que trate de virar gente grande,  assumir a maturidade e encarar o papel que o Brasil lhe atribuiu nestas eleições. Ele tem tradição e preparo  para tanto. Há quem diga que  o candidato do PSDB não é paradigma de estadista, e que está enganado quem pensa que Aécio  peitou o esquemão, como se não fosse apenas sua outra face.  

           Pode ser, deve ser, tanta gente diz tanta coisa. Mas o homem muda, é preciso seguir em frente, achar o caminho. Eu tenho filhos, não posso cruzar os braços.

Voto fortalece

       Eu queria entender: era preciso votar maciçamente no PT e reeleger Dilma porque um governo fraco teria muito menos margem para reformas profundas ou medidas danosas e entreguistas, lesivas à soberania nacional e aos interesses do povo. 

      Uai, um candidato com votação esmagadora não sai fortalecido e poderoso de uma eleição? Já imaginou Dona Redonda derrotar Aécio Neves com 80% dos votos? Que força teria uma oposição que tivesse sido esmagada nas urnas por decisão e vontade do eleitor?


       Agora que Dilma começa a sentir os efeitos de sua vitória de Pirro, diante dos 51 milhões de votos de quem não quer o PT, e já enfrenta pressão e contestação de todo lado, vem neguinho dizer: 'viu como eu disse que um governo fraco era melhor?". Então, tá.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

São Paulo e o Bolsa-Família

        
        Dizer que São Paulo é o segundo estado do País em número de beneficiários do Bolsa-família é verdade. Só perde para a Bahia Os baianos são 6,5 milhões e em São Paulo são 4,3 milhões. 

      Mais de dois milhões de pessoas já não é uma diferença assim tão desprezível, convenhamos. A diferença é brutal quando se compara a proporção em relação à população. Na Bahia, 43% da população recebem Bolsa-Família. Em São Paulo, pouco mais de 10% da população.
       Não por coincidência, dos cinco Estados que mais recebem Bolsa Família, Bahia, Pernambuco e Ceará garantiram ao PT votação superior à 70% do eleitorado. Minas, em certas regiões acompanhou este patamar.
(Este é o Top Five do Bolsa-Família:
- Bahia, 1,8 milhão;
- São Paulo, 1,2 milhão;
- Pernambuco, 1,1;
- Minas, 1,1;
- Ceará, 1,1)

Vale- tudo?

            Eu não sou do PSDB (jornalista não tem partido. Se Aécio fosse eleito, no dia seguinte, eu estaria de olho nele, não existe jornalismo a favor). Mas o resultado desta eleição revela de forma inequívoca muito mais um voto anti-PT do que um voto pró-PSDB ou contra o PSDB.


           PT/Lula/Dilma estão no poder há 12 anos, PT/Lula fazem parte da história (nacional) desde 1980. O conhecimento sobre o Partido dos Trabalhadores é inquestionável. Lula é um fenômeno em termos de liderança e carisma, talvez até maior que Getúlio Vargas.

        O PSDB é notoriamente um partido (ainda) da região sul, gravita em torno de São Paulo. (Quase) Não tem estrutura partidária montada no Nordeste/Norte do Pais. É precário na região. A penetração é pequena. 

         Constatar e admitir que há um sentimento contra o PT no País é imperioso e necessário. É só olha com olhos de cientista: milhões de pessoas foram às ruas em 2013, pedindo mudanças? Dilma de novo?! Há algo errado. A campanha que Lula fez é asquerosa. Por que os petistas não falam disto? Ou vale tudo?

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

PT: seu bem, meu mal


       O País falou, o PT precisa ouvir. O partido jogou sujo, muito sujo. Melhor admitir. Aécio playboy, por quê? Porque era festeiro e namorava mulher bonita? É defeito de caráter? Usuário de cocaína, bate em mulher? Nenhuma prova, ao contrário, há evidências de que é invenção e boato maldoso. 

      Político com vida pública de 30 anos, não há suspeita de enriquecimento ilícito (como Dilma, quem a xingou de ladra? ninguém), elegeu-se, reelegeu-se, era um candidato legítimo. 

     Marta Suplicy (cadê ela?)tem mais de 400 anos de sobrenome, é uma peruona, quatrocentona paulista. Por que ela não poderia ser prefeita de São Paulo, Ministra ou senadora? Só porque é peruona, quatrocentona e da elite paulista? Pode e foi. Aécio não? 

      Quem o PT acha que engana? Eu me lembro da primeira eleição para governador em 1982. Eu votei em Lula, contra Franco Montoro, que foi eleito. Era o voto contra a milicada, a ditadura. Votei PT para todos os cargos.

      Viajei pra a Itália, voltei e fui morar em São José dos Campos, não transferi título e só votei em 89. Primeiro turno, votei Leonel Brizola; no segundo turno, votei contra Collor; dei meu voto, portanto, a Lula. 

     Nunca mais  votei, apesar de ter torcido por FHC na primeira vez em que ele foi eleito. Gostei do primeiro mandato e passei o segundo falando mal dele. 

     Mas desde esta época, eu já tinha começado a desconfiar do PT, não confiava. Só voltei a votar em 2006, aí, sim, contra o PT. Mensalão já tinha estourado, era a constatação irrecusável de quem eram os cumpanheros. 

     E agora, Dilma fecha seu primeiro mandato com o Petrolão.  O povo sabe e está dizendo que não quer mais. Não tem nada de  'a ódio a PT', 'ódio a pobre' na faculdade, no aeroporto. Isto é vigarice de Lula no palanque. Todo mundo sabe. 
     Todos que não votávamos no PT sempre torcemos para que o partido fosse de fato diferente, e que 'ética na política' não fosse só um apelo de palanque. Pior que foi.


PS: Antes de sair o resultado da eleição para Presidente da República, eu rezei pedindo a Deus que nos desse o que fosse o melhor para o Brasil. Ele sabe o que faz, sabe tirar o bem do mal. 

domingo, 12 de outubro de 2014

Fraga, o bom menino mau

       Fernando Collor era um playboy e paraquedista que seduziu o país como 'caçador de marajás'. Eleito em 89, contra Lula, foi impichado menos de dois depois de ser empossado, todo mundo conhece a história. Hoje, é aliado de Dilma Rousseff contra Aécio Neves.


       Armínio Fraga, possível futuro Ministro da Fazenda do candidato do PSBD - e que nos faz tremer (justamente), por trabalhar com o megaespeculador, George Soros, em nome de quem pilotou pessoalmente a quebra da Tailândia em 1997 - , é o mesmo homem que modernizou os mecanismos legais para que o Brasil pudesse comprar e vender seus produtos, num tempo em que não se achava nem azeite importado nas prateleiras do supermercado. Ele ocupou um das diretorias do BC, no Governo Collor, a que cuidava de políticas internacionais.
        Nos anos 80, voltar do Estados Unidos ou da Europa e fazer compras no Brasil era caminho certo para querer se atirar pela janela, dada a indigência da oferta de produtos no Brasil. Tudo era reserva de mercado. Para comprar um computador, precisava marcar encontro com um contrabandista paraguaio, numa quebrada, à meia-noite, numa rua escura, falando baixo, em código, e olha lá!
        Pois é, foi Collor, o cangaceiro playboy, que começou a abrir o Brasil para o mundo e dar ao brasileiro o acesso a produtos importados. Ao mesmo tempo, a indústria brasileira, acostumada com o mercado cativo, teve de se virar e se modernizar para enfrentar a concorrência de fora. Quem não se lembra dos panos de chão que éramos obrigados a comprar para vestir?
        A memória é curta e sempre seleciona o que interessa. Mas, gente mais velha sabe que nada é preto no branco, nem tudo pode ser analisado e enquadrado em categorias de 'bom' e 'mau'. Lula ser eleito Presidente da República foi bom, era um (ex) operário, muita gente torceu o nariz mas mostrou que democracia é assim, operário também pode e sabe dirigir o Pais.
 

        Agora, querer enfiar goela abaixo, por duas vezes, a menininha do Sion, Dilma Rousseff, com a conversa mole de que ela é o 'povo' e que ser contra sua candidatura é arrogância das 'zelites', isto é desonestidade, vigarice e picaretagem. Hoje, no Brasil, PT é mensalão e petrolão. O resto, é lorota.

PS: Sion é um tradicional colégio católico onde estuda(va)m as filhas da alta classe média de Belo Horizonte.

sábado, 11 de outubro de 2014

Nem virtude nem fundo do poço

     Ser encontrado 'alto' numa madrugada, mesmo em ocasião não-oficial, em companhia de amigos, pode não ser o topo da virtude, e nem o poço da degradação. Isto é farisaísmo tosco e hipocrisia nefasta. 

     Aécio Neves tem uma carreira pública de 30 anos, o Brasil o conheceu ao lado do avô e Presidente da República, Tancredo Neves, num calvário que o país inteiro acompanhou. Fez carreira política, começando de baixo, como deputado federal. Reelegeu-se por quatro vezes, foi presidente da Câmara, eleito governador duas vezes e senador. Não é exatamente um paraquedista. Cadê o seu grande escândalo? Não tem.

Aécio não é sacristão

       Não entendeu nada quem acha que estou querendo provar que Aécio Neves é um sacristão. Ele não é. Nem por isto vou engrossar a fila dos santarrões e alminhas puras que torcem seus narizinhos até para o fato de que Aécio Neves só namorou mulher bonita. 

       Quando penso que Dilma Rousseff indicou Eleonora Menecucci - uma feminista que ensinava a fazer aborto - para a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, eu tenho certeza de Aécio Neves não pode ser a pior opção para o Brasil. 

       É claro que a conduta pessoal diz muito, mas é preciso ver a vida política de Aécio Neves, contra o que se manifestou, que projetos defendeu ou rejeitou no Congresso, que diretrizes imprimiu à sua administração como governador, quais os escândalos, maracutaias e denúncias de corrupção em que esteve envolvido, por aí. 

       Que eu saiba, Aécio Neves nunca protagonizou vexames e escândalos morais que enxovalhassem os cargos públicos que ocupou. Eu acompanho sua carreira política (não digo com lupa e telescópio), mas nunca tive minha atenção atraída por um cena ou episódio que manchasse sua reputação política indelevelmente e fosse inadmissível moralmente. Belas mulheres? É defeito? 

       Basta prestar atenção ao que eu disse. Eu comecei declarando não saber se Aécio usa cocaína ou não (e usar para mim não é virtude). Daí, a ser ''cocainômano' com suspeitas de overdose, isto pode cheirar (sic) à mesma história que aconteceu com Mário Gomes. Sou repórter, vivo de apuração de fatos. Quanto a não ter virtudes 'porque vive no Rio de Janeiro, aquele antro de perdição', o argumento é fraco.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Tudo igual

        Mais um texto retirado do fundo do baú. Este também foi escrito durante a campanha eleitoral de 2002, quando Lula foi eleito, pela primeira vez, Presidente da República. 

             O PT e o PSDB são exatamente a mesma coisa. FHC vivia nos palanques ao lado de Lula e só não entrou para o PT, quando ele foi fundado em 80, porque, ambicioso, viu que era melhor  entrar no PMDB, que ajudou a fundar, e ficar como suplente de Montoro  no Senado. Ele sabia que Montoro deixaria o cargo  de senador  para concorrer ao governo de São Paulo, em 82. FHC, assim, assumiria seu lugar no Congresso. 
    
       Em 88, o grupo de FHC, Covas e Tasso saiu do PMDB e fundou o PSDB por 'motivos éticos', sob alegação que não podia conviver com a 'banda podre' do PMDB liderada por Quércia. Na verdade, a causa pode ser bem outra. É que não cabiam lá as turmas do Quércia e de Mário Covas juntas. Os dois queriam ser presidentes da República. FHC era da turma do Covas naquele tempo; quando morreu, Covas não permitiu que FHC sequer entrasse em seu quarto no hospital. Nesta eleição (de 2002), Lula e Quércia estavam juntos, pedindo votos um para o outro. 
     
        Não adianta esconder, mais isto muda mais isto é a mesma coisa. Basta ver que um dos ideólogos do PT é Francisco Weffort, que era orientando de FHC na USP, assim como Guido Mantega, ora, ora. Se o PT não fosse aliado, FHC ia dar o Ministério da Cultura para um dos fundadores/idealizadores do partido? Ora, Weffort não é somente do PT, ele é o PT!  

         O Partido dos Trabalhadores nunca foi contra o golpe de 64, nunca contestou o modelo econômico implantado pela ditadura. O negócio do PT eram as liberdades democráticas. Assim que elas foram restabelecidas (anistia, fim da censura,  habeas corpus, organização de partidos etc etc),  o PT deixou de ser do contra. Estes governos 'revolucionários' no Rio Grande do Sul se limitaram a deixar o povo repartir as migalhas que lhe eram destinadas no tal do orçamento participativo, dentro da perspectiva histórica de que "é melhor lamber do que cuspir". 
     
         Não é coincidência que o melhor do PT tenha surgido no Rio Grande do Sul, onde a tradição trabalhista era mais forte. É só olhar o PT paulista: Lulas, Martas, Paloccis, Dirceus, Genoinos. É bom lembrar: Lurian, a filha de Lula, viveu em Paris na casa do então casal Luis Favre  e Marília Andrade, filha de ninguém menos que o empreiteiro Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez. (Favre depois, virou 'marido' de Marta Suplicy).Uai, só se confia a própria filha a gente muito amiga, não é não?  

          Quando surgiu em 78, Lula falava como se não tivesse existido movimento trabalhista no Brasil antes dele. Para o PT, Jango, Brizola e Trabalhismo rimavam com peleguismo, não com nacionalismo. Tinha coisa melhor para Golbery que um Lula no lugar de Brizola? Ora!
     
          A teoria da dependência de FHC/Falleto é a mesma de Weffort/PT. Eles tem a mesmíssima visão sobre a relação do Brasil com os países desenvolvidos e hegemônicos do capitalismo mundial. É a teoria da (inter)dependência de Falleto e Cardoso. Serra também defende a mesma teoria que, em resumo, diz que  o capitalismo dependente não é uma condição necessária do capitalismo mundial mas sim um fator acidental no desenvolvimento deste. 

          FHC apontava a interdependência como solução para a crise de acumulação, minimizando ou mesmo apagando as diferenças entre o capitalismo nos países avançados e o capitalismo dependente.  

          O sociólogo Fernando Henrique Cardoso, nos seus tempos de Cepal e Cebrap (este último, é bom lembrar, foi criado por FHC e era financiado pelos ricos dólares das fundações Ford e Rockfeller), achava que os problemas e contradições no capitalismo brasileiro não tinham outra particularidade senão a de dar-se em um país da periferia, ou seja, uma nação capitalista jovem . ("Os Estados têm dificuldades. Sempre temos alguma dificuldade"). 

          FHC preferia apontar a interdependência como a solução para a crise de acumulação. Ele entendia que numa economia dependente se dá um processo simultâneo de desenvolvimento. ("A despeito disso, pode-se levar adiante o processo integrador")

          Para FHC, o capitalismo, à medida que se aproxima de seu modelo puro, se converte em um sistema cada vez menos explorador e consegue reunir as condições para solucionar indefinidamente suas contradições internas. "É um problema de ajuste do sistema mundial, que está sem controle. Estamos longe de ter uma situação ideal, muito longe, mas estamos trabalhando nessa direção" (as frases em negrito são de uma entrevista de Fernando Henrique, à Folha, em agosto deste ano). 

Tanto faz

          Eu escrevi este texto, a que dei o título de Tanto Faz, em 2002, antes da eleição de Lula à Presidência da República. Parece que nada mudou, basta substituir os nomes.
 

          "Agora que somos penta, podemos falar sem rodeios: estamos fritos. Entre os candidatos à Presidência da República, não tem o menos ruim, o melhorzinho, nada. Não se trata disso. Ciro Gomes diz em entrevista a Carta Capital que um banqueiro nacional mandou-lhe o seguinte recado: "o Ciro pode fazer a demagogia que quiser, mas, eleito, vem aqui se entender conosco senão ele cai". E cai. 

           Ciro, como todos os outros, faz é demagogia mesmo. Para valer, todos assumiram o compromisso de "honrar" os contratos e "respeitar" o mercado. Ou seja, de qualquer lugar vamos tirar dinheiro para dar para os bancos, donos de nossa dívida interna e externa. Lênin disse: "Os bancos nasceram perfeitos". Ponto final. 


            Não se trata de escolher o candidato com o melhor discurso. Tanto faz quem promete o emprego ou defende a moralização. O resultado será sempre favorável ao capital. Um candidato que vai gastar entre 30 e 60 milhões de dinheiros ( este é o valor declarado!) tem obrigatoriamente de assumir compromissos com quem o financia ( banqueiros e empresários, empreiteiros e milionários). 


            Para o capital, financiamento de campanha é um investimento como outro qualquer (na verdade, mais lucrativo; dá 5, recebe 300). Logo, quem se apresenta como candidato já passou por uma seleção e escolha prévias do capital. 

            Não vale dizer que tem o tal José Maria do PSTU, que sua plataforma é revolucionária e frontalmente contrária ao capitalismo! Primeiro, quem é José Maria? O processo eleitoral na democracia capitalista não é mesmo para ser levado à serio. Imaginem discutirmos as 'propostas de governo' de um tal José Maria que apareceu na televisão durante dois minutos, se tanto! Além disto, com 200 mil para gastar na campanha ele mal vai comprar uns ternos na Ducal.


            Que diferença faz se Lula/Ciro/Serra ganhar? Seria bom se fosse só uma questão subjetiva, cuja solução se limitasse à troca de "sujeito". Mas não é. Basta ver o que diz o suiço Jean Ziegler, responsável pelo relatório da ONU sobre a fome e autor do livro " A Suiça lava mais branco":


           "Os Estados nacionais estão perdendo força, não são mais sujeitos da história. (Na França), seja qual for o governo, ele obedece à Bolsa, aos movimentos do capital financeiro. Se você não faz a política fiscal que o capital quer, o capital vai embora. As oligarquias mundiais do capital financeiro dominam totalmente as políticas dos Estados nacionais. Se você aumenta os salários (na França), os custos de produção aumentam e as multinacionais partem para a Tailândia, Canadá..."

           Todos os candidatos vivem repetindo que defendem a economia de mercado e as regras do jogo capitalista; logo, não há o que discutir. Eles terão de adotar o mesmo receituário de Malan e Fraga. É bom lembrar que os economistas neoliberais têm toda a razão em suas assertivas quanto ao 'caráter desestabilizador' de uma ampliação do crédito, da queda da taxa de juros e outros quetais. Partindo da premissa errada, eles fazem tudo certinho. 


            O sociólogo marxista alemão Robert Kurz, do Grupo Krisis, indica a saída, ao afirmar: " se a teoria monetária e de crédito neoliberal é essencialmente correta, então o próprio sistema de referência do sistema monetário e de crédito precisa ser criticado como tal ". E diz mais.


           "Já não é mais possível uma crítica imanente do neoliberalismo e de seus efeitos bárbaros tal como é ruminada por keynesianos, social-democratas e socialistas de esquerda. Pode-se virar e desvirar a coisa do jeito que se quiser: a limitação objetiva da acumulação de capital não pode ser evitada por truque nenhum. É o que deverão sentir também os economistas de esquerda que rezam pela economia de mercado e atualmente preocupados com as 'chances de um bem sucedido processo de transformação'. Mas não haverá transformação alguma na economia de mercado. O que se requer é uma transformação do conceito de transformação, isto é, uma crítica que supere a modernidade produtora de mercadorias como um todo. É preciso levantar a questão de como se pode, na situação histórica de crise sistêmica, se organizar uma vida social, além das instâncias fetichistas anômimas, cegas, do mercado e da máquina estatal."