sexta-feira, 30 de maio de 2014

Tem avó que faz bolo, outras fazem chá

O caso de chá
Carlos Drummond de Andrade

A casa da velha senhora fica na encosta do morro, tão bem situada que ali se aprecia o bairro inteiro, e o mar é uma de suas riquezas visuais. Mas o terreno em volta da casa vive ao abandono. O jardineiro despediu-se há tempos; hortelão, não se encontra nem por milagre. A velha moradora resigna-se a ver crescer a tiririca na propriedade que antes era um brinco. Até cobra começou a passear entre a folhagem, com indolência; é uma cobrinha de nada, mas sempre assusta.

O verdureiro que faz ponto na rua lá embaixo ofereceu-se para matá-la. A boa senhora reluta, mas não pode viver com uma cobra tomando banho de sol junto ao portão, e a bicha é liquidada a pau. Bom rapaz, o verdureiro, cheio de atenções para com os fregueses. Na ocasião, um problema o preocupa: não tem onde guardar à noite a carrocinha de verduras.

– Ora, o senhor pode guardar aqui em casa. Lugar não falta. – Muito agradecido, mas vai incomodar a madame.
– Incomoda não, meu filho.


A carrocinha passa a ser recolhida nos fundos do terreno. Todas as manhãs o dono vem retirá-la, trazendo legumes frescos para a gentil senhora. Cobra-lhe menos e até não cobra nada. Bons amigos.


– Madame gosta de chá?
– Não posso tomar, me dá dispepsia, me põe nervosa.
– Pois eu sou doido por chá. Mas está tão caro que nem tenho coragem de comprar. Posso fazer um pedido? Quem sabe se a madame, com esse terreno todo sem aproveitar, não me deixa plantar uns pés, pouquinha coisa, só para o meu consumo?

Claro que deixa. Em poucas horas o quintal é capinado, tudo ganha outro aspecto. Mão boa é a desse moço: o que ele planta é viço imediato. A pequenina cultura de chá torna alegre outra vez a terra abandonada. Não faz mal que a plantação se vá estendendo por toda a área. A velha senhora sente prazer em ajudar o bom lavrador. Alegando que precisa fazer exercício, caminhando com cautela pois enxerga mal, ela rega as plantinhas, que lhe agradecem a atenção prosperando rapidamente.

– Madame sabe: minha intenção era colher só uma pequena quantidade. Mas o chá saiu tão bom que os parentes vivem me pedindo um pouco e eu não vou negar a eles. É pena madame não experimentar. Mas não aconselho: se faz mal, não deve mesmo tocar neste chá. 

O filho da velha senhora chegou da Europa esta noite. Lá ficou anos estudando. Achou a mãe lépida, bem disposta.

– E eu trabalho, sabe, meu querido? Todos os dias rego a plantação de chá que um moço me pediu licença para fazer no quintal. Amanhã de manhã você vai ver a beleza que está.


O verdureiro já havia saído com a carrocinha. A senhora estende o braço, mostra com orgulho a lavoura que, pelo esforço em comum, é também um pouco sua. O filho quase caiu duro:

– A senhora está maluca? Isso nunca foi chá, nem aqui nem na Índia. Isso é maconha, mamãe!

Treze anos, Olavo?

    Como sempre, a linha do tempo de Olavo de Carvalho não fecha. Que idade tinha, afinal, OdeC quando ele morou na Casa do Estudante, junto a Ruy Falcão e José Dirceu? Pelas informações do próprio, ele tinha treze anos (sic). José Dirceu teria quatorze e Ruy Falcão dezessete.

    Façamos as contas: Olavo nasceu em 1947 (Dirceu em 1946 e Ruy em 1943). Se ele diz que morou com Ruy Falcão e José Dirceu, na Casa do Estudante, vinte anos antes da fundação do PT, em 1980, então, isto aconteceu em 1960. 



    "Morei com os srs. Rui Falcão e José Dirceu num apartamento da Casa do Estudante. (Que isso acontecesse duas décadas antes da fundação do PT parece não significar grande coisa para o sr. Pedroso."*
    

   Em outra ocasião, Olavo de Carvalho, disse que ele foi do Partidão entre 1965/1966, quando tinha de 18 a 20 anos, por aí.
E aí?!

Claro, ele vai dizer que errou de novo. Ô, filósofo distraído.



*http://www.olavodecarvalho.org/avisos/091213-almas.html


Olavo de Carvalho  (a área de comentário fala por si)
Momentos inesquecíveis:
Quando eu morava na Casa do Estudante do XI de Agosto, ali todo mundo era militante de esquerda, mas havia dois tipos: os revolucionários sérios, de vocação, que sonhavam com carreira política (como Rui Falcão), e os que eles chamavam de Lumpenproletários, a escória da revolução, os desclassificados como eu e o Rocco Buonfiglio, que só pensavam em revolução quando não estavam pensando em mulher, o que acontecia, digamos, uns trinta minutos por semana. Eu e esse simpático companheiro de farras freqüentávamos nas noites de sexta uma gafieira então muito famosa, o Som de Cristal, na Rua Rego Freitas. Não havia prostitutas naquele estabelecimento, cujo público feminino constituía-se eminentemente de empregadinhas domésticas em busca de compensações eróticas para a rotina deprimente da semana. Cada namoradinha que ali arrumávamos tinha sempre algumas amigas que, sabendo que íamos para um prédio de população exclusivamente masculina, logo se assanhavam e queriam ir junto. Essa era a nossa principal contribuição à causa revolucionária, como guias da massa feminina em direção à Casa do Estudante. Quando cruzávamos a Avenida São João, o pessoal nos via dos andares superiores e comentava:
-- Lá vêm o Rocco e o Olavo com a massinha deles.
As garotas permaneciam ali o fim de semana inteiro, passando de apartamento em apartamento até que na manhã de segunda-feira saíam tontinhas e felizes, de volta ao trabalho.