domingo, 22 de setembro de 2013

Bento XVI e Santo Agostinho: escandalosos?

     Houve quem visse escândalo nas palavras de Papa Francisco sobre a salvação de ateus. Se não heréticas, no mínimo, ambíguas, decretou-se. Serão Santo Agostinho e Bento XVI também escandalosos? Segundo suas palavras, 'ateus devotos'* vão para o céu.
     A expressão 'atei devoti' é usada largamente na Itália e foi cunhada pelo jornalista italiano e diretor do jornal Il Foglio, Giuliano Ferrara, que se auto-intitula 'ateo devoto' (sem ser, como ele próprio explica, uma coisa nem outra :
"Sou um teísta racionalista e amo a devoção e a piedade religiosa, mas não pratico nem uma nem outra"). 

     O professor italiano de História das Doutrinas Políticas, Carlo Galli, definiu assim 'ateus devotos', em seu livro "ABC da Crônica Política": 'laicos que reconhecem que a razão moderna guarda estreito parentesco com o cristianismo e que buscam na Igreja Católica um reforço à identidade ocidental".


Primeiro, relembremos as palavras de Papa Francisco:

 

"Antes de mais nada, pergunta-me se o Deus dos cristãos perdoa a quem não acredita nem procura acreditar. Admitido como dado fundamental que a misericórdia de Deus não tem limites quando alguém se Lhe dirige com coração sincero e contrito, para quem não crê em Deus a questão está em obedecer à própria consciência: acontece o pecado, mesmo para aqueles que não têm fé, quando se vai contra a consciência. De facto, ouvir e obedecer a esta significa decidir-se diante do que é percebido como bem ou como mal; e é sobre esta decisão que se joga a bondade ou a maldade das nossas acções."

Abaixo, Bento XVI/Santo Agostinho:
 

"(...) Gostaríamos de nos confiar a santo Agostinho para uma ulterior meditação sobre o nosso Salmo.

Nela, o grande Padre da Igreja introduz uma nota surpreendente e de grande actualidade: ele sabe que entre os habitantes da Babilónia se encontram pessoas que se comprometem pela paz e pelo bem da comunidade, mesmo se não partilham a fé bíblica, isto é, se não conhecem a esperança da Cidade eterna pela qual nós aspiramos. Eles levam consigo uma centelha de desejo do desconhecido, do maior, do transcendente, de uma verdadeira redenção. E ele diz que também entre os perseguidores, entre os não-crentes, existem pessoas com esta centelha, com uma espécie de fé, de esperança, na medida que lhes é possível nas circunstâncias em que vivem. Com esta fé, também numa realidade desconhecida, eles estão realmente a caminho rumo à verdadeira Jerusalém, a Cristo.

E com esta abertura de esperança também para os babilónios como lhes chama Agostinho para os que não conhecem Cristo, nem sequer Deus, e contudo desejam o desconhecido, o eterno, ele adverte-nos também a nós que não nos fixemos simplesmente nas coisas materiais do momento presente, mas que perseveremos no caminho para Deus. Só com esta esperança maior podemos também, do modo justo, transformar este mundo. Santo Agostinho diz isto com as seguintes palavras: "Se somos cidadãos de Jerusalém... e devemos viver nesta terra, na confusão do mundo presente, na actual Babilónia, onde não habitamos como cidadãos mas somos presos, é preciso que quanto foi dito pelo Salmo não só o cantemos mas vivamos: o que se faz com uma aspiração profunda do coração, plena e religiosamente desejoso da cidade eterna".

E acrescenta em relação à "cidade terrestre, chamada Babilónia": ela "tem pessoas que, movidas pelo amor por ela, se esforçam para garantir a paz temporal sem alimentar no coração outra esperança, aliás repondo nisto toda a sua alegria, sem se promover outra coisa. E nós vemo-los fazer todos os esforços para se tornarem úteis à sociedade terrena. Mas, se se esforçam com consciência pura nestas tarefas, Deus não permitirá que pereçam com Babilónia, tendo-os predestinado para serem cidadãos de Jerusalém: mas contanto que, vivendo na Babilónia, não tenham a ambição da soberba, a pompa caduca e a arrogância irritante... Ele vê a sua disponibilidade e mostrar-lhes-á a outra cidade, pela qual devem verdadeiramente suspirar e orientar todos os esforços" (Exposições sobre os Salmos, 136, 1-2; Nova Biblioteca Agostiniana, XXVIII, Roma 1977, pp. 397.399).

E pedimos ao Senhor que desperte em todos nós este desejo, esta abertura a Deus, e que também os que não conhecem Deus, e os que não conhecem Cristo possam ser tocados pelo seu amor, para que todos juntos nos coloquemos em peregrinação para a Cidade definitiva e a luz desta Cidade possa surgir também neste nosso tempo e no nosso mundo."
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2005/documents/hf_ben-xvi_aud_20051130_po.html

*Ateus devotos: http://www.ilfoglio.it/soloqui/14802

O que é consciência, para um católico.

     Papa Francisco falou em 'consciência'ao responder à pergunta do jornalista italiano Eugenio Scalfari sobre o perdão de Deus aos ateus, os que não crêem nem querem crer*. Mas o que é 'consciência' para um cristão, um católico? O teólogo e jornalista italiano Gianni Gennari explica o que ela é, na linguagem cristã, neste trecho de artigo# seu sobre a renúncia de Bento XVI , que o próprio papa emérito justificou com a frase "Deus me disse".

     "A escolha de Joseph Ratzinger, motivada, segundo ele, pela sensação de cansaço físico e também psíquico, foi uma escolha de consciência. Ora, a palavra 'consciência', na linguagem cristã e católica - uma linguagem certamente apropriada a um Papa como Bento XVI, homem, padre, teólogo, bispo, cardeal e bispo de Roma- tem um significado preciso. Bastará recordar aqui, apenas como exemplares, duas fontes seguras.

     A primeira é o Concílio Vaticano II: "No íntimo da consciência, o homem descobre uma lei que não lhe é dada por si próprio, mas a qual, ao contrário, deve obedecer e a cuja voz - que o chama sempre a amar e a fazer o bem e a fugir do mal -, quando ocorre, fala aos ouvidos do coração. (...) O homem tem, na verdade, uma lei escrita por Deus dentro de seu coração. (...) A consciência é o núcleo mais secreto e o sacrário do homem, onde ele se encontra sozinho com Deus, cuja voz ressoa no mais íntimo dele". Assim, a consciência é o 'lugar' onde ressoa "a voz de Deus... no mais íntimo do homem".
     São palavras da "Gaudium et Spes". É uma descoberta revolucionária do Concílio 'progressista' e subversivo que, para certos nostálgicos, virou do avesso os fundamentos da fé, e fez tremer até hoje as fileiras dos conservadores tradicionalistas? Não! É doutrina bíblica e teológica consolidada. Basta lembrar São Tomás, a maior fonte não-bíblica da teologia católica, que, em sua Summa Theologiae,consagrou muitas páginas ao valor da 'consciência', e uma "Questione" inteira à resposta a esta pergunta: “Utrum oboediendum sit conscientiae vel praelato”, ou seja, 'deve-se obedecer à voz da própria consciência ou àquela da autoridade eclesiástica, quando esta é - ou parece estar - contrária a essa'. A resposta é que sim: em última análise, se uma contrastar a outra, deve-se ouvir a consciência, precisamente porque ela é a 'voz de Deus" , imediatamente perceptível no íntimo de todo homem.
     È portanto óbvio que Joseph Ratzinger tenha escutado a voz de sua consciência sincera e fiel como voz de Deus, mas isto vale para toda verdadeira escolha importante da consciência cristã e católica."

*http://www.vatican.va/holy_father/francesco/letters/2013/documents/papa-francesco_20130911_eugenio-scalfari_po.html

http://vaticaninsider.lastampa.it/news/dettaglio-articolo/articolo/ratzinger-benedetto-xvi-benedict-xvi-benedicto-xvi-27308/

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Eu gostei

    O professor Olavo de Carvalho fala do que sabe; logo, ele deve ter estudado e refletido muito para afirmar ser Bergoglio o Barak Obama da Igreja. Bastou ele abrir a boca, e foi saudado por dezenas de apoiadores entusiásticos, alguns não medindo palavras para ofender e xingar Papa Francisco.

    Eu não o fiz, porque não vou além de minhas sandálias e tenho consciência de minhas limitações: eu não consegui, por mim mesma, concluir o que OdeC concluiu. Ao contrário, eu li a entrevista (antes de saber o que Olavo de Carvalho tinha escrito) e fiquei muito impressionada com a beleza, profundidade e misericórdia das palavras de Papa francisco. 

    O trecho que tem rendido tanto pano para manga não me passou despercebido nem me pareceu o cumprimento da profecia de La Sallete. Eu a compreendi em seus termos, até porque diariamente leio praticamente todas as declarações, pregações, homilias e comentários que o Papa Francisco faz. E leio no original, em italiano. 

    Para um Papa que não se cansa de falar em defesa da vida, da família, do matrimônio, do acolhimento de gays, de casais divorciados e contra o aborto, a ressalva de que a Igreja não deve se limitar a falar de gays, aborto e preservativos não soou a mim um despautério apocalíptico nem omissão pecaminosa.
  
   Mas sou apenas uma católica que se interessa pela vida da Igreja e pela doutrina, menos como diletante que por tentativa de encontrar o caminho da santidade. Não ouso decretar nada.

Maria-vai-com-as-outras

    Eu não quis dizer que ninguém, além de Olavo de Carvalho, criticou a entrevista de Papa Francisco à revista Civiltà Cattolica. Estou dizendo é que a maioria dos que saíram aplaudindo Olavo é tudo maria-vai-com-as-outras. Ficou parecendo que todo mundo pensou e concluiu o que Olavo concluiu. 

    Eu fui honesta: li a entrevista e gostei. Não sei se eu acho que Papa Francisco é o Barack Obama da Igreja. O assunto não é para amadores e non sono intenditore. Falo só por mim. Mas estou lendo tudo, há análises, comentários e observações muito consistentes. Mas são poucos que falam do que sabem.

Contra a Igreja? Sempre.


      Uma coisa é levar em conta tudo o que Olavo de Carvalho falou sobre a entrevista de Papa Francisco à revista dos jesuítas Civiltà Cattolica(discordar 100%, quem há de? O mestre - já se disse - não é raso nunca). Outra coisa é achar que, se Papa Francisco tivesse dito palavras que não comportassem ambiguidade, interpretação dúbia ou mal-entendido, a imprensa as situaria em sua esfera pastoral e teológica, e não as distorceria, com análises e críticas de má-fé.

       É sempre a mesma coisa. Da primeira encíclica Deus Caritas Est, por exemplo, a imprensa só leu a parte em que - ela dizia - Bento XVI elogiava o marxismo (sic). Agora, a mesma coisa: de 22 páginas de reflexões e ensinamentos, um único parágrafo interessou à imprensa. O de sempre: gay, aborto e camisinha. Sim, os assuntos são vitais, os princípio inegociáveis e se pode exigir que o papa pense em como suas palavras serão repercutidas. Mas, para além disto, nem o beabá do bom jornalismo se viu, que é colocar as declarações em seu contexto E - é bom que se diga - elas fazem sentido quando se lê toda a entrevista.

       Em se tratando do mundo, qualquer coisa que a Igreja faça ou diga vai voltar-se contra ela. O estudo sobre A Igreja e as Culpas do Passado', proposto pelo cardeal Joseph Ratzinger à Comissão Teológica Internacional, lembra, a propósito de pedidos de perdão feitos pela Igreja que "o reconhecimento dos erros é no mais das vezes unilateral e é explorado pelos detratores da Igreja, satisfeitos por a verem confirmar preconceitos que têm a seu respeito.

sábado, 14 de setembro de 2013

Celso de Mello? Sei...


      Adesso che ci ripenso, Celso de Mello é bem capaz de votar a favor dos embargos infringentes e amaciar para a canalha mensaleira. É bom lembrar que o decano do STF é aquela figura pública rodeada de aura de honradez e moralidade, e que está na mais alta Corte de Justiça para, como cidadão insuspeito de ser de esquerda e de rezar pela cartilha comunista, fazer tudo aquilo que a elite globalista e o movimento comunista querem.

      Ele votou a favor do aborto de anencéfalos, das cotas raciais, da demarcação de reserva indígenas (Raposa Serra do Sol), da Marcha da Maconha, da união gay e alegou 'motivos de foro íntimo' para abster-se de votar pela extradição de Cesare Battisti.

      E nós confiando nele para moralizar o Brasil e pôr os mensaleiros na cadeia!

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Celso de Mello e Minerva


     *É com esta súcia que Celso de Mello vai se encangar? Esta é sua turma, a 'galera' ao lado de quem ele quer passar à história? E olha que para passar para a outra turma ele não tem que fazer nada mais que cumprir a lei. Só isto.

     *Celso de Mello não é barroso, é rochoso: íntegro, firme, consistente. Ele não vai se apequenar, jogando no lixo sua dignidade pessoal e a do STF, com um voto a favor da malta criminosa petista. Será incongruência do tamanho do mundo. Suas palavras, depois da sessão de hoje (dia 12/9), estão a indicar que ele escolherá o caminho da grandeza, da honradez e da justiça.
     — Esse é um tema efetivamente novo na agenda do Supremo Tribunal Federal, como os próprios juízes aqui revelaram, e agora o eminente ministro Marco Aurélio destacando que nós não apreciamos especificamente essa questão. Houve manifestações, minhas inclusive, em outros momentos. Mas de qualquer maneira, essa é a questão com que se depara hoje o Supremo Tribunal Federal.
     

     Deus ilumine Celso de Mello.

     *A insistência da mídia em dizer que Celso de Mello vai repetir o voto a favor do infringentes, no fundo, é para forçá-lo a aceitá-los e, assim, não parecer que o decano do STF está votando pelo 'clamor das ruas', ou da 'multidão' como referiu-se o "novato" Barroso. Ou seja, para mostrar que não vota sobre pressão, ele aceitaria os embargos infringentes. Sei.

     *Hoje, depois de encerrada a sessão do STF, O Ministro Celso de Mello disse uma frase muito mais decisiva que aquele preâmbulo sobre admissão formal de embargos infringentes: "A impunidade é algo absolutamente inaceitável. Todas as pessoas que se acham investidas ou não de autoridade pública e que eventualmente transgridam as leis penais do Estado devem expor-se às consequências de sua atuação. Isso significa responsabilização, inclusive, no plano criminal".

     *O fato de Celso de Mello reconhecer os embargos infringentes para decisões do STF não significa que vai aceitá-los no caso do mensalão. Por que os aceitaria? Para dirimir dúvidas? Que dúvidas? Não as há. As que existiam foram dirimidas na fase dos embargos de declaração. Agora, os embargos serviriam apena ao enrolation, para livrar a cara dos 'delinqüentes', como o próprio Celso de Mello chamou a chusma petista. Por isto, ele pode votar contra os embargos sem desmentir nem renegar o que disse antes.

     *Eu acho que Celso de Mello rejeita os embargos. Por que ele se apegaria à filigrana jurídica menor, tosca, equestre, arriscando jogar lama no que ele mesmo disse durante todo o julgamento? Ele construiu todo um edifício jurídico consistente, fundamentou este edifício com argumentação moral inatacável e agora vai deixar a quadrilha linda, leve e solta? Ele não fará isto. Ainda mais sendo voto de Minerva. O Brasil vai cuspir nele se votar sim ou render-lhe glórias eternas se votar contra. Ele não irá violar a lei, irá fazer justiça, usando a lei.

     *O jornal O Globo (e o restante da imprensa) enfiou no texto, por malandragem, a palavra 'entendimento', entre parêntesis, o que muda inteiramente o sentido da resposta de Celso de Mello. O ministro não afirmou, em momento algum, que vai manter o 'entendimento' sobre os embargos infringentes. O que ele disse é que não vê razão para mudar O SEU VOTO, que já está pronto. Confere.

     "Ao falar sobre os embargos infringentes nesta quinta, após a sessão, Celso de Mello disse que manteria o entendimento. Embora tenha dito que não pode "antecipar voto algum", ele afirmou que está com o voto pronto e não mudará até quarta (18), quando a sessão será retomada.
     

     "Não vejo razão para mudar [o entendimento]. Eu tenho meu texto já pronto, preparado, ouvi atentamente todas as razões constantes dos votos, tanto do relator como daqueles que divergem do relator, formei minha convicção e na próxima quarta-feira irei expor de maneira muito clara, muito objetiva todas as razões que me levam a definir a controvérsia que está agora em exame."


     *Celso de Mello pode votar a favor dos embargos infringentes, mas ele não adiantou que vai votar. Isto é manipulação de suas declarações pela imprensa. Ou é ignorância ou é má-fé. Aposto na última.

     *Como Celso de Mello vai resolver o impasse proposto por Carmem Lúcia? Dois condenados pelo mesmo crime e submetidos ao mesmo processo, um no STJ e outro no STF: o primeiro não tem direito a embargo infringente no STJ; o segundo teria direito ao recurso no STF. E a isonomia, e a garantia da Constituição de que todos são iguais? Sai dessa, Celso de Mello.

     *Além da questão moral-institucional - que é de absoluta relevância - eu não consigo ver como o ministro Celso de Mello pode sustentar os embargos infringentes do ponto de vista do Direito. Os votos de Carmem Lúcia, Gilmar Mendes e Marco Aurélio (não vi o do ministro Fux) pulverizam, juridicamente, a admissão dos embargos. Num vídeo gravado depois da sessão de ontem, Celso de Mello fala que, neste caso do mensalão, não se trata de matéria de fato, mas de direito ( ou seria 'de Direito'?)


terça-feira, 10 de setembro de 2013

Hildegard Angel: Ô, dó.

  Hildegard Angel, defensora ardente de José Dirceu, é uma das mais influentes colunistas sociais do Brasil. Por sua coluna no jornal O Globo, onde trabalhou por mais de 30 anos, desfilaram todos os nomes do dinheiro e do poder no Brasil, incluindo políticos e generais de alto coturno do regime militar.

     É casada com o engenheiro e empresário Francis Bogossin, dono da bem sucedida Geomecâmica. O casal mora num duplex na avenida Atlântica, além de possuir também uma belíssima casa, construída em estilo arte nouveau, na Usina, bairro histórico do Rio. 

     A quem Hildegard se refere, quando fala de ”todos os poderosos grupos de mídia, os políticos seus detratores,todas as forças da elite do país e formadores de opinião de todos os segmentos e matizes”? Mas tudo isto não é ela mesma e seus amigos?
PS:Vale o passeio pela site de Hildegard, para comprovar a vida miserável que ela e seus colunáveis levam.


A pérola literária abaixo, tecendo loas às virtudes angelicais de José Dirceu, é da lavra da excluída (quase) sem-teto e oprimida, Hildegard Angel.

 

JOSÉ DIRCEU: NUNCA, ANTES, NA HISTÓRIA DESTE PAÍS, UM HOMEM SOFREU TAL LINCHAMENTO

Ao fim da transmissão, quinta-feira, da sessão no STF, Maria Alice Vieira, a colaboradora braço direito de José Dirceu, anunciou que todos os presentes ali reunidos no salão de festas do prédio do ex-Chefe da Casa Civil estavam convidados para retornar na próxima quarta-feira e, juntos, assistirem novamente à próxima sessão, que provavelmente deverá julgar os Embargos Infringentes, assim todos esperam.
Havia no ar uma certa sensação de alívio. Alguém atrás de mim comentou: “Mais uma semana!”. O que entendi como “mais uma semana de esperança”.
O irmão de José Dirceu, Luís, que naquela manhã teve um mal estar cardíaco e precisou ser atendido numa clínica, veio me cumprimentar e agradecer o apoio, “em nome da família”. Gesto inesperado e tocante, de quem estava claramente emocionado.
José Dirceu é o que a literatura define como “homem de fibra”. Impressionante como se manteve e se mantém de pé, ao longo de todos esses anos, mesmo atacado por todos os lados, metralhado por todas as forças, todos os poderosos grupos de mídia, os políticos seus detratores, todas as forças da elite do país, formadores de opinião de todos os segmentos e matizes, de forma maciça e ininterrupta, massacrante.
De modo como jamais se viu uma pessoa nesta Nação ser ofendida, ele vem sendo acossado, desmoralizado, num processo de demolição continuada, sem deixarem pedra sobre pedra, esmiuçando-se cada milímetro de sua intimidade, devassando, perseguindo, escarafunchado e, sem qualquer evidência descoberta, juízes o condenam proferindo frases do tipo “não tenho prova cabal contra Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”. Nem mesmo o mais reles criminoso foi satanizado de tal forma ou sofreu linchamento tão perverso.
Com tal carga a lhe pesar sobre os ombros, ele não os curva. Às vezes mais abatido, outras aparentemente decepcionado, contudo sempre em combate, preparando-se para o momento seguinte. Não se queixa, não acusa, não lamenta, nem cobra a ausência de apoio daqueles que, certamente, deveriam o estar respaldando. É discreto. Não declina nomes. Nunca deixa transparecer quem está próximo dele, quem não. Um eterno militante de 68, que jamais despiu a boina.
“Família”, antes da reunião daquela tarde, em seu prédio, com os companheiros que o apoiam nessa via crucis penal, para juntos assistirem à transmissão da TV Justiça, ele almoçou em casa com suas três ex-mulheres, filhas, irmãos, uma confraternização familiar necessária para quem poderia, dali a algumas horas, escutar o pior dos resultados.
E lá estávamos nós, aguardando sua chegada, falando baixo, sem grande excitação no ambiente, enquanto um técnico ajeitava, no laptop, o projetor das imagens da TV que seriam exibidas na parede.
A diretora de cinema Tata Amaral fez uma preleção sobre seu filme “O grande vilão”, um documentário sobre esse período da vida de Dirceu, “o homem mais perseguido da história da República”, e distribuiu termos de autorização de uso de imagem para que os presentes, que assim o desejassem, assinassem. Pelo que percebi, todos assinaram.
Dirceu cumprimentou um por um, agradecendo a presença de todos. Parecia calmo ao chegar. E calmo permaneceu até o final. Quando se despediu de mim, José Dirceu disse, elogiando: “O ministro Barroso estava certo, quando defendeu a suspensão da sessão até a próxima semana”.
Ele se referia à argumentação do ministro Luis Roberto Barroso, que, para garantir aos advogados plena defesa dos réus, usou a  frase “seria gentil e proveitoso dar aos advogados a oportunidade de apresentar memoriais”. Ponderação que o presidente Joaquim Barbosa acolheu muito a contragosto.
Na próxima semana, estaremos lá todos com você de novo, José Dirceu. Acredito em sua inocência. Acredito em Mentirão, não em Mensalão, que para mim existe muito mais para desqualificar a luta dos heróis e mártires da ditadura militar do que para qualquer outra coisa. Mais para justificar o apoio dado pela direita reacionária de 1964 – as elites e a classe média manipulada – ao totalitarismo que massacrou nosso país, tolheu nossa liberdade e nosso pensamento, dizimou valores, destruiu famílias, acabrunhou, amedrontou, paralisou, despersonalizou e tornou apático o povo brasileiro por duas décadas.
E como alvo maior desse processo de desqualificação reacionária, que ressurge como um zumbi nostálgico assombrando o país, foi eleito José Dirceu, o qual, como bem analisa o cineasta Luiz Carlos Barreto, cometeu o grave delito de colocar no poder um sindicalista das classes populares, o Lula.
Pois foi por obra, empenho, articulação e graça de José Dirceu que Luís Inácio Lula da Silva chegou a Presidente da República. E chegou com um projeto político de sucesso, bem estruturado, com um discurso certo, que alçou Luís Inácio não só a um patamar diferenciado de Estadista em nossa História, como também a um conceito internacional jamais alcançado por um Chefe de Estado brasileiro.
Grande parte disso tudo pode ser creditada (ou, segundo interpretação de alguns, debitada) a José Dirceu.
Motivos não faltaram nem faltam para essa obsessão de tantos por destrui-lo.
http://www.hildegardangel.com.br/?p=27735 

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

PT rima com dossiê e KGB

     
     Dilma indignada com espionagem dos Estados Unidos? Era o que faltava. Em 1993, na CPI dos Anões, os petistas José Dirceu, Aloisio Mercadante e tutti quanti viviam brandindo extratos bancários, contas telefônicas e declarações de renda como 'provas de corrupção" e todos nós aplaudíamos.

     Mas aquela papelada era a confissão de um crime; o PT desde aquela época já estava infiltrado na máquina do Estado, espionava e quebrava o sigilo bancário, telefônico e fiscal de quem quisesse, sem ordem judicial, sem nada. É a técnica (em)pregada por Lênin: "Acuse-os do que você faz". O caseiro Francelino foi só uma amostra do que é feito com qualquer um, hoje no Brasil. 

     O stalinista José Dirceu não ficou treinando dar tiro em Cuba, ele fez o dever de casa: aprendeu na DGI, o Serviço Secreto cubano, a montar no Brasil o Serviço de Inteligência nos moldes da KGB. O PT hoje tem dossiê sobre todo mundo. Ou alguém acha que o mensalão funcionava só na base da persuasão financeira? Que nada, muitos parlamentares eram encostados na parede, com um dossiê esfregado no seu nariz. A alternativa era capitular.