sábado, 14 de julho de 2012

Comunhão na boca: nas mãos de Deus



   
    Em 2009, apareceu a tal gripe suína. Prontamente, o diabo tomou suas providências, era a oportunidade para profanar ainda mais a Sagrada Eucaristia: a Arquidiocese de São Paulo 'recomendou' que os fiéis comungassem apenas na mão, que não fosse dada a hóstia na boca. 

    Eu nunca comunguei na mão. Para protestar, fui reclamar ao bispo. Mandei a Dom Odilo Scherer o email abaixo:
 
   "Dom Odilo Scherer,

venho a Vossa Eminência protestar contra a recomendação da Arquidiocese de São Paulo para que a comunhão seja recebida na mão, e não na boca, como medida preventiva à propagação do vírus da gripe suína. 

   A que ponto chegamos! No momento em que Sua Santidade, o Papa Bento XVI, quer restabelecer a reverência e o respeito pela sacralidade da Eucaristia e recuperar a tradição da Igreja Católica - a comunhão na boca de joelhos - a Arquidiocese de São Paulo recomenda que se receba a comunhão preferencialmente na mão porque há no país um surto de gripe que nem o próprio Ministério da Saúde considera alarmante, a ponto do Ministro José Gomes Temporão criticar publicamente o adiamento do início das aulas!
   
   Todo sacerdote sabe que suas mãos consagradas não devem tocar a língua ou lábios daquele que recebe a comunhão. Quem vai comungar deve colocar a língua para fora e o sacerdote (ou ministro leigo da Eucaristia, esta invenção desastrosa) segura a hóstia por uma extremidade e deposita a outra extremidade sobre a língua da pessoa que está recebendo a comunhão. Basta redobrar o cuidado e pedir aos fiéis que procedam da forma correta.
    
   Do ponto de vista sanitário, receber a hostia na mão e levá-la à boca favorece muito mais a propagação do vírus do que receber a comunhão na boca. Afinal, as mãos não estão lavadas e provavelmente tocaram assentos de automóveis e ônibus, bancos de igrejas, objetos diversos e outras pessoas antes da comunhão. 

   Quanto ao aspecto religioso, certamente Nosso Senhor Jesus Cristo pedirá contas no Juízo Final da permisão indevida para que mãos profanas toquem o Seu Corpo Santo, com o risco de partículas da Santíssima Eucaristia caírem no chão e serem pisadas. Alguém terá de ser responsabilizado por tê-lo permitido.
    
   A Arquidiocese de São Paulo, com sua boa intenção de prevenir a propagação do vírus, acabou por agravar ainda mais o desrespeito às instruções da Igreja relativas à Sagrada Eucaristia*, pois esta recomendação acabou equivalendo, na prática, à proibição ao recebimento da comunhão na boca. 

   Saiba o senhor que um diácono da minha paróquia - a São Bento, do Morumbi - recusou-se a dar-me a comunhão na boca, alegando que estava cumprindo ordens superiores. Fui obrigada a sair da fila e ir próximo ao altar pedir ao sacerdote - que estava celebrando a missa, mas não distribuindo a comunhão - para que me fosse dada a hóstia na boca. 

   O sacerdote reforçou a negativa, insistindo para que eu "obedecesse a Igreja," citando a recomendação da Arquidiocese. Eu lhe disse que eu não recebo, nunca recebi, a comunhão na mão. O sacerdote, a contragosto, mas sabendo que não mo podia impedir, autorizou a comunhão na boca. Voltei à fila e comunguei.
    
   Não fosse a comunhão na mão e em pé contrária à Tradição de quase dois mil anos da Igreja - além de ser uma exceção que se tornou regra por tibieza das autoridades eclesiásticas -,  recomendar esta prática é um rebaixamento da dignidade e santidade da Sagrada Eucaristia. 

   Como pode a Arquidiocese de São Paulo, na esteira da histeria admitida pela própria carta circular sobre a gripe suína, submeter o que representa "a fonte e o ápice" da Igreja - a Santa Eucaristia - , a uma situação sanitária momentânea? 
    
   "A liturgia nunca é propriedade privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde são celebrados os santos mistérios. A ninguém é permitido aviltar este mistério que está confiado às nossas mãos: é demasiado grande para que alguém possa permitir-se de tratá-lo a seu livre arbítrio, não respeitando o seu carácter sagrado nem a sua dimensão universal."(Carta Encíclica ECCLESIA DE EUCHARISTIA do Sumo Pontífice João Paulo II)    
   Por que não se viu a mesma rapidez para informar aos católicos que a comunhão na boca é a forma aprovada e praticada pela Igreja ao longo de sua história e que temos o direito - melhor dizendo, o dever! - de comungar ajoelhados, como ensina, com o seu exemplo, o Papa Bento XVI? 

   Por que não informar aos católicos que a comunhão na mão foi uma das primeiras mudanças introduzidas pelos protestantes reformados, há mais de 400 anos, exatamente para demonstrar que a hóstia consagrada não era o Corpo de Cristo e que o sacerdote não passava de um homem igual a outro qualquer? 

   A comunhão na mão sempre foi utilizada entre hereges como modo de negação da Presença Real de Cristo nas espécies consagradas, e isto desde os arianos do século IV.
    
   O Vaticano é  frequentado por turistas do mundo inteiro, sendo portanto, um  lugar onde o risco de contaminação pelo vírus da gripe suína é grande. A Santa Sé não desconhece os perigos da doença. Não se viu, no entanto, qualquer recomendação de mudança na forma de distribuição da comunhão nas missas ali celebradas. Roma locuta, causa finita.
 Peço vossa benção, respeitosamente.
Mírian Macedo

* Redemptionis Sacramentum
  Dominicae Cenae
  Memoriale Domini
  Missal Romano   

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