quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Fala direto com Marcola


         Dizem que a solução contra o banditismo é fazer manifestações pedindo segurança. Mas vamos pedir segurança a quem? Ao ministro da Justiça do governo Dilma, o petista José Eduardo Cardoso? Não digam. 

         Este 'democrata' fez um minuto de silêncio pela memória de Marulanda, o líder dos narcotraficantes das Farc's, responsáveis por milhares de assassinatos, seqüestros e atos de terrorismo contra o Estado e a democracia colombiana. 

         Cardoso também saudou socialismo e Revolução Cubana, do ditador Fidel Castro. Em Cuba, há presos por delito de opinião, não há imprensa livre, não há eleições livres, nem partidos, nem livre iniciativa, nem liberdade de expressão. 

         É a este homem que vamos pedir que nos proteja? Bandido por bandido, a gente fala direto com Marcola.

Melhor um bunda-mole

       Eu, entre qualquer petista e Geraldo Alckmin (apesar de todas as restrições que faço à sua falta de culhões e ao esquerdismo do PSDB) votaria no peessedebista, sem problema. Eu voto em qualquer coisa que não seja o PT (claro que à esquerda do PT - PSOL, PSTU, PC do B- eu não concedo sequer olhar, Osmarina Silva incluída). 

       Falando honestamente e de modo comparativo, a política de segurança do Estado de São Paulo é a mais exitosa do país, há redução significante dos índices de criminalidade. Acontece que é muito bandido, e não dá para colocar um policial a guardar as costas de cada cidadão. Quem disser que o Morumbi é mal policiado, mente.

       E não depende só do governador. Mas que ele podia ser mais macho, podia. Já tinha que ter mandado fechar o tempo com estes Black Bostas que arrostam o Estado de Direito, a Democracia e a Paz Social. 

       Não o fez porque o problema de Alckmin é de genética: DNA peessedebista não é coisa que se abandone ou se neutralize. PSDB só tem bunda-mole. É evidente o comprometimento e responsabilidade do partido com o estado a que chegaram as coisas. 

      FHC é homem da Nova ordem Mundial, defensor da agenda globalista da ONU, que inclui a legalização de drogas.  Foi em seu governo que o MST encheu as burras de dinheiro. E quando os bandidos entraram em seu sítio, em Ibiúna e puseram os pés em cima da mesa, na sala, para ver TV, FHC, em vez de baixar o pau e colocar a raça de malviventes na cadeia, faltou pedir desculpas e mandar servir bolachinha e chá. Quando estourou 

      o mensalão, o PSDB, em vez de pedir o impeachment do delinqüente moral chamado Luis Inácio, achou melhor 'deixar sangrar'. O PSDB vive fazendo o maior esforço para dizer que é mais de esquerda que o PT, enquanto estes os acusam de ser 'de direita'. Só se for a direita da esquerda, que é o que os peessedebistas são. Nós estamos fritos, isto sim.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Discurso do papa Bento XVI ao Parlamento Alemão

29 de outubro de 2013 às 03:11

“Ilustre Senhor Presidente Federal!
SenhorPresidente do Bundestag!
SenhoraChanceler Federal!
SenhorPresidente do Bundesrat!
Senhoras e Senhores Deputados!

Constitui para mim uma honra e uma alegria falar diante desta Câmara Alta, diante do Parlamento da minha Pátria alemã, que se reúne aqui em representação do povo, eleita democraticamente para trabalhar pelo bem da República Federal da Alemanha. Quero agradecer ao Senhor Presidente do Bundestag o convite que me fez para pronunciar este discurso, e também as amáveis palavras de boas-vindas e de apreço com que me acolheu. Neste momento, dirijo-me a vós, prezados Senhores e Senhoras, certamente também como concidadão que se sente ligado por toda a vida às suas origens e acompanha solidariamente as vicissitudes da Pátria alemã. Mas o convite para pronunciar este discurso foi-me dirigido a mim como Papa, como Bispo de Roma, que carrega a responsabilidade suprema da Igreja Católica. Deste modo, vós reconheceis o papel que compete à Santa Sé como parceira no seio da Comunidade dos Povos e dos Estados. Na base desta minha responsabilidade internacional, quero propor-vos algumas considerações sobre os fundamentos do Estado liberal de direito.

Seja-me permitido começar as minhas reflexões sobre os fundamentos do direito com uma pequena narrativa tirada da Sagrada Escritura.Conta-se, no Primeiro Livro dos Reis, que Deus concedeu ao jovem rei Salomão fazer um pedido por ocasião da sua entronização. Que irá pedir o jovem soberano neste momento tão importante: sucesso, riqueza, uma vida longa, a eliminação dos inimigos? Não pede nada disso; mas sim: «Concede ao teu servo um coração dócil, para saber administrar a justiça ao teu povo e discernir o bem do mal» (1 Re 3, 9). Com esta narração, a Bíblia quer indicar-nos o que deve, em última análise, ser importante para um político. O seu critério último e a motivação para o seu trabalho como político não devem ser o sucesso e menos ainda o lucro material. A política deve ser um compromisso em prol da justiça e, assim, criar as condições de fundo para a paz. Naturalmente um político procurará o sucesso, sem o qual não poderia jamais ter a possibilidade de uma acção política efectiva; mas o sucesso há-de estar subordinado ao critério da justiça, à vontade de actuar o direito e à inteligência do direito. É que o sucesso pode tornar-se também um aliciamento,abrindo assim a estrada à falsificação do direito, à destruição da justiça. «Se se põe de parte o direito, em que se distingue então o Estado de uma grande banda de salteadores?» – sentenciou uma vez Santo Agostinho (Decivitate Dei IV, 4, 1). Nós, alemães, sabemos pela nossa experiência que estas palavras não são um fútil espantalho. Experimentámos a separação entre o poder e o direito, o poder colocar-se contra o direito, o seu espezinhar o direito, de tal modo que o Estado se tornara o instrumento para a destruição do direito: tornara-se uma banda de salteadores muito bem organizada, que podia ameaçar o mundo inteiro e impeli-lo até à beira do precipício. Servir o direito e combater o domínio da injustiça é e permanece a tarefa fundamental do político. Num momento histórico em que o homem adquiriu um poder até agora impensável, esta tarefa torna-se particularmente urgente. O homem é capaz de destruir o mundo. Pode manipular-se a si mesmo. Pode, por assim dizer, criar seres humanos e excluir outros seres humanos de serem homens. Como reconhecemos o que é justo? Como podemos distinguir entre o bem e o mal, entre o verdadeiro direito e o direito apenas aparente? O pedido de Salomão permanece a questão decisiva perante a qual se encontram também hoje o homem político e a política.

Grande parte da matéria que se deve regular juridicamente pode ter por critério suficiente o da maioria. Mas é evidente que, nas questões fundamentais do direito em que está em jogo a dignidade do homem e da humanidade, o princípio maioritário não basta: no processo de formação do direito, cada pessoa que tem responsabilidade deve ela mesma procurar os critérios da própria orientação. No século III, o grande teólogo Orígenes justificou assim a resistência dos cristãos a certos ordenamentos jurídicos em vigor: «Se alguém se encontrasse no povo de Scizia que tem leis irreligiosas e fosse obrigado a viver no meio deles, (…) estes agiriam, sem dúvida, de modo muito razoável se, em nome da lei da verdade que precisamente no povo da Scizia é ilegalidade, formassem juntamente com outros, que tenham a mesma opinião, associações mesmo contra o ordenamento em vigor» [Contra Celsum GCSOrig. 428 (Koetschau); cf. A. Fürst, «Monotheismus und Monarchie. ZumZusammenhang von Heil und Herrschaft in der Antike», inTheol.Phil. 81(2006) 321-338; a citação está na página 336; cf. também J. Ratzinger, DieEinheit der Nationem, Eine Vision der Kirchenväter (Salzburg-München1971) 60].
Com base nesta convicção, os combatentes da resistência agiram contra o regime nazista e contra outros regimes totalitários, prestando assim um serviço ao direito e à humanidade inteira. Para estas pessoas era evidente de modo incontestável que, na realidade, o direito vigente era injustiça. Mas, nas decisões de um político democrático, a pergunta sobre o que corresponda agora à lei da verdade, o que seja verdadeiramente justo e possa tornar-se lei não é igualmente evidente. Hoje, de facto, não é de per si evidente aquilo que seja justo e possa tornar-se direito vigente relativamente às questões antropológicas fundamentais. À questão de saber como se possa reconhecer aquilo que verdadeiramente é justo e, deste modo, servir a justiça na legislação, nunca foi fácil encontrar resposta e hoje, na abundância dos nossos conhecimentos e das nossas capacidades, uma tal questão tornou-se ainda muito mais difícil.

Como se reconhece o que é justo? Na história, os ordenamentos jurídicos foram quase sempre religiosamente motivados: com base numa referência à Divindade, decide-se aquilo que é justo entre os homens. Ao contrário doutras grandes religiões, o cristianismo nunca impôs ao Estado e à sociedade um direito revelado, nunca impôs um ordenamento jurídico derivado duma revelação.Mas apelou para a natureza e a razão como verdadeiras fontes do direito; apelou para a harmonia entre razão objectiva e subjectiva, mas uma harmonia que pressupõe serem as duas esferas fundadas na Razão criadora de Deus. Deste modo, os teólogos cristãos associaram-se a um movimento filosófico e jurídico que estava formado já desde o século II (a.C.). De facto, na primeira metade do século II pré-cristão, deu-se um encontro entre o direito natural social, desenvolvido pelos filósofos estóicos, e autorizados mestres do direito romano [cf. W.Waldstein,Ins Herz geschrieben. Das Naturrecht als Fundament einermenschlichen Gesellschaft(Augsburg 2010) 11ss; 31-61]. Neste contacto, nasceu a cultura jurídica ocidental, que foi, e é ainda agora, de importância decisiva para a cultura jurídica da humanidade. Desta ligação pré-cristã entre direito e filosofia, parte o caminho que leva, através da Idade Média cristã, ao desenvolvimento jurídico do Iluminismo até à Declaração dos Direitos Humanos e depois à nossa Lei Fundamental alemã, pela qual o nosso povo reconheceu, em 1949, «os direitos invioláveis e inalienáveis do homem como fundamento de toda a comunidade humana, da paz e da justiça no mundo».

Foi decisivo para o desenvolvimento do direito e o progresso da humanidade que os teólogos cristãos tivessem tomado posição contra o direito religioso, requerido pela fé nas divindades, e se tivessem colocado da parte da filosofia, reconhecendo como fonte jurídica válida para todos a razão e a natureza na sua correlação. Esta opção realizara-a já São Paulo, quando afirma na Carta aos Romanos: «Quando os gentios que não têm a Lei [a Torah de Israel], por natureza agem segundo a Lei, eles (…) são lei para si próprios. Esses mostram que o que a Lei manda praticar está escrito nos seus corações, como resulta do testemunho da sua consciência»(Rm 2, 14-15). Aqui aparecem os dois conceitos fundamentais de natureza e de consciência, sendo aqui a «consciência» o mesmo que o «coração dócil» de Salomão,  a razão aberta à linguagem do ser. Deste modo, se até à época do Iluminismo, da Declaração dos Direitos Humanos depois da II Guerra Mundial e até à formação da nossa Lei Fundamental, a questão acerca dos fundamentos da legislação parecia esclarecida, no último meio século verificou-se uma dramática mudança da situação. Hoje considera-se a ideia do direito natural uma doutrina católica bastante singular, sobre a qual não valeria a pena discutir fora do âmbito católico, de tal modo que quase se tem vergonha mesmo só de mencionar o termo. Queria brevemente indicar como se veio a criar esta situação. Antes de mais nada é fundamental a tese segundo a qual haveria entre o ser e o dever ser um abismo intransponível: do ser não poderia derivar um dever, porque se trataria de dois âmbitos absolutamente diversos. A base de tal opinião é a concepção positivista, quase geralmente adoptada hoje, de natureza. Se se considera a natureza – no dizer de Hans Kelsen – «um agregado de dados objectivos, unidos uns aos outros como causas e efeitos»,então realmente dela não pode derivar qualquer indicação que seja de algum modo de carácter ético (Waldstein, op. cit., 15-21). Uma concepção positivista de natureza, que compreende a natureza de modo puramente funcional, tal como a conhecem as ciências naturais, não pode criar qualquer ponte para a ética e o direito, mas suscitar de novo respostas apenas funcionais. Entretanto, o mesmo vale para a razão numa visão positivista, que é considerada por muitos como a única visão científica. Segundo ela, o que não é verificável ou falsificável  não entra no âmbito da razão em sentido estrito. Por isso, a ética e a religião devem ser atribuídas ao âmbito subjectivo, caindo fora do âmbito da razão no sentido estrito do termo. Onde vigora o domínio exclusivo da razão positivista – e tal é, em grande parte, o caso da nossa consciência pública –,as fontes clássicas de conhecimento da ética e do direito são postas fora de jogo. Esta é uma situação dramática que interessa a todos e sobre a qual é necessário um debate público; convidar urgentemente para ele é uma intenção essencial deste discurso.

O conceito positivista de natureza e de razão, a visão positivista do mundo é, no seu conjunto, uma parcela grandiosa do conhecimento humano e da capacidade humana, à qual não devemos de modo algum renunciar. Mas ela mesma no seu conjunto não é uma cultura que corresponda e seja suficiente ao ser humano em toda a sua amplitude. Onde a razão positivista se considera como a única cultura suficiente, relegando todas as outras realidades culturais para o estado de subculturas, aquela diminui o homem, antes, ameaça a sua humanidade. Digo isto pensando precisamente na Europa, onde vastos ambientes procuram reconhecer apenas o positivismo como cultura comum e como fundamento comum para a formação do direito, reduzindo todas as outras convicções e os outros valores da nossa cultura ao estado de uma subcultura. Assim coloca-se a Europa, face às outras culturas do mundo, numa condição de falta de cultura e suscitam-se, ao mesmo tempo, correntes extremistas e radicais. A razão positivista, que se apresenta de modo exclusivista e não é capaz de perceber algo para além do que é funcional, assemelha-se aos edifícios de cimento armado sem janelas, nos quais nos damos o clima e a luz por nós mesmos e já não queremos receber estes dois elementos do amplo mundo de Deus. E no entanto não podemos iludir-nos, pois em tal mundo auto-construído bebemos em segredo e igualmente nos “recursos” de Deus, que transformamos em produtos nossos. Épreciso tornar a abrir as janelas, devemos olhar de novo a vastidão do mundo, o céu e a terra e aprender a usar tudo isto de modo justo.

Mas, como fazê-lo? Como encontramos a entrada justa na vastidão, no conjunto? Como pode a razão reencontrar a sua grandeza sem escorregar no irracional? Como pode a natureza aparecer novamente na sua verdadeira profundidade, nas suas exigências e com as suas indicações? Chamo à memória um processo da história política recente, esperando não ser mal-entendido nem suscitar demasiadas polêmicas unilaterais. Diria que o aparecimento do movimento ecológico na política alemã a partir dos Anos Setenta, apesar de não ter talvez aberto janelas, todavia foi, e continua a ser, um grito que anela por ar fresco, um grito que não se pode ignorar nem acantonar, porque se vislumbra nele muita irracionalidade. Pessoas jovens deram-se conta de que, nas nossas relações com a natureza, há algo que não está bem; que a matéria não é apenas um material para nossa feitura, mas a própria terra traz em si a sua dignidade e devemos seguir as suas indicações. É claro que aqui não faço propaganda por um determinado partido político; nada me seria mais alheio do que isso. Quando na nossa relação com a realidade há qualquer coisa que não funciona, então devemos todos reflectir seriamente sobre o conjunto e todos somos reenviados à questão acerca dos fundamentos da nossa própria cultura. Seja-me permitido deter-me um momento mais neste ponto. A importância da ecologia é agora indiscutível. Devemos ouvir a linguagem da natureza e responder-lhe coerentemente. Mas quero insistir num ponto que – a meu ver –, hoje como ontem, é descurado: existe também uma ecologia do homem.Também o homem possui uma natureza, que deve respeitar e não pode manipular como lhe apetece. O homem não é apenas uma liberdade que se cria por si própria. O homem não se cria a si mesmo. Ele é espírito e vontade, mas é também natureza, e a sua vontade é justa quando respeita a natureza e a escuta e quando se aceita a si mesmo por aquilo que é e que não se criou por si mesmo.Assim mesmo, e só assim, é que se realiza a verdadeira liberdade humana.

Voltemos aos conceitos fundamentais de natureza e razão,donde partíramos. O grande teórico do positivismo jurídico, Kelsen, em 1965 –com a idade de 84 anos (consola-me o facto de ver que, aos 84 anos, ainda se écapaz de pensar algo de razoável) –, abandonou o dualismo entre ser e dever ser. Antes, ele tinha dito que as normas só podem derivar da vontade.Consequentemente – acrescenta ele – a natureza só poderia conter em si mesma normas, se uma vontade tivesse colocado nela estas normas. Mas isto – diz ele –pressuporia um Deus criador, cuja vontade se inseriu na natureza. «Discutir sobre a verdade desta fé é absolutamente vão» – observa ele a tal propósito(citado segundo Waldstein, op.cit., 19). Mas sê-lo-á verdadeiramente? – apetece-me perguntar. É verdadeiramente desprovido de sentido reflectir se a razão objectiva que se manifesta na natureza não pressuponha uma Razão criadora, um Creator Spiritus?

Aqui deveria vir em nossa ajuda o património cultural da Europa. Foi na base da convicção sobre a existência de um Deus criador que se desenvolveram a ideia dos direitos humanos, a ideia da igualdade de todos os homens perante a lei, o conhecimento da inviolabilidade da dignidade humana em cada pessoa e a consciência da responsabilidade dos homens pelo seu agir. Estes conhecimentos da razão constituem a nossa memória cultural. Ignorá-la ou considerá-la como mero passado seria uma amputação da nossa cultura no seu todo e privá-la-ia da sua integralidade. A cultura da Europa nasceu do encontro entre Jerusalém, Atenas e Roma, do encontro entre a fé no Deus de Israel, a razão filosófica dos Gregos e o pensamento jurídico de Roma. Este tríplice encontro forma a identidade íntima da Europa. Na consciência da responsabilidade do homem diante de Deus e no reconhecimento da dignidade inviolável do homem, de cada homem, este encontro fixou critérios do direito,cuja defesa é nossa tarefa neste momento histórico.

Ao jovem rei Salomão, na hora de assumir o poder, foi concedido formular um seu pedido. Que sucederia se nos fosse concedido a nós, legisladores de hoje, fazer um pedido? O que é que pediríamos?Penso que também hoje, em última análise, nada mais poderíamos desejar que um coração dócil, a capacidade de distinguir o bem do mal e, deste modo,estabelecer um direito verdadeiro, servir a justiça e a paz. Agradeço-vos pela vossa atenção!

http://www.youtube.com/watch?v=pNTpBC2ulxU

sábado, 26 de outubro de 2013

Black Bloc, mente revolucionária é o teu nome

Black Bloc é novo, mas não é demais não. Mudou o nome e o visual.Quem ler o Manual do Guerrilheiro Urbano, de Carlos Marighela, vai confirmar: Black Bloc está lá. 

Uma das formas mais eficazes de ação revolucionária é fazer as pessoas acreditarem que não trabalham para quem elas trabalham de fato. Se perguntares a qualquer Black Bloc, ele vai dizer que é independente, que age de forma espontânea, sem liderança.

 Ora, a idéia é esta. Quem já ouviu falar e sabe quem é Willi Münzenberg, Yuri Alexandrovitch Bezmenov, Ion Pacepa, entre outros, sabe que nada disto começou em junho de 2013. A história é mais antiga. Mentalidade revolucionária, este é o teu nome.

"Vândalo" também é Black Bloc

    
     Tem gente que apóia Black Blocs porque os mascarados protegem manifestantes da violência policial e "porque eles (ainda) não usam armas". Então, tá. 

     Na verdade, a coisa funciona assim: os black blocs 'do bem' não usam armas, para criar simpatia/empatia ("Ah, eu sou a favor porque eles não usam armas"). Os outros, os 'vândalos'malvados, que fazem de conta que não são do mesmo grupo que os 'do bem', usam: martelos, barras, molotovs. Bom lembrar, já começaram a aparecer franco-atiradores, disparando tiros. Estes não se vestem como Black Blocs, para também fazer crer que não têm nada a ver uns com os outros. 

    De uma certa maneira, são outra coisa. Mas é tudo a mesma coisa. Todos terroristas. As diferenças são estratégicas. O objetivo é o mesmo. Quer ver?

    Como o enfrentamento é em progressão geométrica e como qualquer coisa é motivo para incendiar carro de polícia e arrebentar, invadir, depredar, o que se espera como conseqüência? Como viver em cidades paralisadas, como o Rio e São Paulo? O que o povo em geral acha disto?

    Ora, o que qualquer cérebro normal acharia: a vida virou um inferno, ninguém consegue fazer nada, não se pode trabalhar, ninguém tem mais o direito de circular pela cidade, este bando de criminosos nas ruas quebrando tudo todo dia tem que ser submetido à lei! 

    Qualquer lei? Não. Leis de exceção, porque a situação é de exceção. Suspensão de garantias individuais, igual à ditadura. E quem é que vai decretar e aplicar estas leis? Os homens no poder. 

    E quem são os homens no poder? O PT, que está assoviando, com cara de paisagem, fazendo de conta que o que acontece não é orientado, manipulado e coordenado pelo Foro de São Paulo (leia-se PT) e que ele, o PT, não tem interesse neste caos, nem em ter nas mãos leis que lhe permitam consolidar a ditadura em que já estamos vivendo. 

    E tem gente achando Black Blocs uns fofos. Go ahead.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Quem come quem

        Se o homem não abatesse animais para comer, certamente, dentro de pouco tempo, não haveria lugar para plantar um pé de alface para a raça humana; todo o verde teria que ser destinado aos animais, que continuariam a se reproduzir e a morrer apenas de causas naturais. O resultado seria superpopulação de bichos e fome, tanto para eles próprios quanto para o homem. Não haveria comida para o sdois. A que sobrasse seria dada aos bichos: se não os matamos para comer, temos, de conseqüência, obrigação moral de lhes garantir comida, por supuesto.
       Comer animais foi imperativo para a sobrevivência dos homens e dos próprios animais. Se o homem não os caçasse, para comer ou para se vestir e aquecer, primeiro, ele teria morrido de fome e de frio. E segundo, caso tivesse sobrevivido, seria comido pela superpopulação de animais selvagens famintos, que invadiriam vilas e cidades, devorando os homens e os outros animais para matar a fome. Seria um desastre ecológico e uma crueldade com os próprios animais, pois não existiria comida para todos eles.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Bandido gosta

        A cada dia que passa, vai ter menos polícia para reprimir assalto, sequestro, roubo etc. Policial agora está ocupado o tempo todo enfrentando Black Bloc, que invade instituto de pesquisa para salvar bichinho de Deus, invade o centro para protestar contra a cura gay, invade Assembléia Legislativa para lutar por educação de qualidade, ocupa a Paulista pela liberação da maconha, marcha rumo ao Palácio dos Bandeirantes contra o capitalismo, paralisa a Marginal contra a opressão de gênero, e por aí vai.

       Resumindo: a bandidagem mascarada está aí para infernizar a vida do cidadão. Só ingênuo não vê: um dos objetivos da ação dos Black Blocs é exatamente esta, deixar livre o resto da cidade para o bandido agir tranquilo.

       E mais: a polícia está acuada, não pode abrir a boca, os 'defensores dos direitos humanos' estão aí para registrar cada ato seu e divulgar na rede, como prova de que a 'polícia assassina é contra o povo". Trouxas.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

BBB: Black Bloc do Bem? Não, Bandido Black Bloc.

         Não é intrigante que estes corajosos, valentes e pacíficos Black Blocs - permanentemente mobilizados para proteger multidões de milhões de pessoas e que estão nas ruas há meses, diariamente - não sejam capazes de blockear os 'vândalos'? 

          Afinal, estes não passam de uns poucos mal-intencionados mascarados que querem apenas empanar o brilho desta festa cívica que vai de invasão à Câmara Municipal do Rio de Janeiro a Instituto Royal. Por que os Black Blocs do Bem não neutralizam, de vez, os Bandidos Black Blocs? 

         Ah, mas Black Bloc defende manifestante da violência policial. Não diga. Simples: Black Blocs têm seus pelotões 'do bem', para que milhares de ingênuos saiam, depois, defendendo-os nas redes sociais. Isto é técnica revolucionária primária, é lição número um da cartilha do terrorismo urbano. Que bobocas comprem esta farsa, eu compreendo. Mas, a classe pensante também!

        Eu não nego que Black Blocs fazem a 'boa ação' de proteger manifestantes. Só que esta tática é manjada e antiga. E é claro que há black blocs (inocentes úteis 'independentes' achando) que não obedecem a um comando. Vê quem quer. Não dá mais é para fingir que não sabemos que Black Bloc não é o 'tal', é o Mal.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Viva o BBB: Bandido Black Bloc

        O Morumbi também foi tomado por manifestantes. Esta 'arruaça', no entanto, não é espontânea nem 'coisa de momento'. Isto é terrorismo, guerrilha urbana: tem treinamento, tem financiamento, tem comando. Pergunta a um de nós se sabemos e temos condições de fazer uma 'arruaça' destas? De jeito nenhum. Isto é militância profissional. Quem sabe fazer isto é profissional do ramo, quem sabe fazer é PCC, MST, Farc's... 

        Quando as manifestações começaram, em junho, elas foram organizadas por setores mais radicais do PT, com o PSOL, PSTU, PC do B e similares, para desgastar o PT mais light (Dilma, Lula etc). 

        Depois, houve a adesão do povo indignado e o protesto saiu do controle do PT. Foi aí que os Black Blocs apareceram e expulsaram o povo que, sem liderança e com uma pauta ampla de inconformismo, não teve como manter a mobilização. 

       Agora, quem manda são os 'arruaceiros'. A serviço de quem? Ora, de quem quer um pretexto para endurecer o regime, acabando com garantias individuais e liberdades democráticas, em nome do 'controle da situação'. E é claro, todos nós vamos aplaudir, percebem? Aquela manifestação gigante no Rio de Janeiro é prova de que 'eles' estão ganhando. 

       Os professores - grande parte não passa de analfabetos funcionais (de)formando outros analfabetos funcionais - deram apoio explícito ao BBB: Bandido Black Bloc. As redes sociais terminaram o serviço de endeusamento: a bandidagem mascarada e armada de martelo, molotov e maldade são os heróis inimputáveis, meigos, fofos. Nos dizem que a ação (violenta) deles é resposta legítima à violência do Estado. Então, tá. Lorota boa, isto sim. É esperar para ver. Boa coisa não virá.

Sujeitinho Sakal

       Leonardo Sakamoto é um dos piores (ou um dos melhores, pensando bem) representantes da classe falante da praça. Não te enganes, ele não escreve bem, nem pensa direito. Ele fica dando uma no cravo e outra na ferradura, escamoteando o que ele realmente pensa, com esta história de 'não vem dizer que estou defendendo bandido', mas está. 

      Este bom-mocismo de que ele condena a matança, o justiçamento, é lero-lero. É platitude. Ele é apenas um boçal. Pedante, pernóstico, semi-analfabeto. 

      Ele acha que ser ateu é patamar superior da inteligência. Como diz Luiz Felipe Pondé, isto é coisa de quem não leu três livros. Ser ateu é tão simples que até um golfinho é ateu. Se tu és inteligente, cai fora desta.

      E pensar que um sujeito deste faz a cabeça de jovens do alto de uma cátedra numa universidade católica. É crime de lesa-juventude.

Gente humana ou mané?

           Humanos bonzinhos ficaram chocados que tenhamos aplaudido a (re)ação do policial, ao meter bala no bandidinho escroque que, armado, tentou roubar a moto do vigia, na Zona Leste. Diziam-nos ser condenável exibir fotos de bandidos baleados "como troféus". 

           Até parece. Hoje, os corpos baleados que recheiam as páginas de jornais são dos cidadãos de bem, as vítimas dos bandidos. Quanto a 'esquadrão da morte', justiceiro da própria polícia, este para mim é bandido. Não dou a outro bandido (o 'justiceiro') o direito de fazer justiça. É como achar legal que o estuprador seja morto pelos outros bandidos. Eu sei que é lá uma 'lei' deles, não tenho como impedir. Mas bandido não tem o direito de fazer justiça. Bandido tem que cumprir a pena que recebeu pelo crime que cometeu. Só. 

         O perigo é essa aura de 'coitadismo' que envolve a bandidagem. Na época da Grande Depressão nos Estados Unidos, em que milhões de pessoas entravam nas filas para receber um prato de comida, os índices de criminalidade eram baixíssimos. 

         No Brasil, hoje, ninguém passa fome (claro, há os bolsões de miséria, eles sempre existem), mas há toda uma rede de proteção criada pelo governo, por igrejas, por instituições assistenciais, que funciona de verdade. Nego está no crime porque quer. Chato termos que admitir, não é? Mas é verdade. Este crime, filmado em tempo real, o prova.

O roubo da moto e os filhos pela janela

           Torcer para que bandido morra e ter vontade de descarregar uma 'ponto 40' em cima do safado é reação normal de pessoas submetidas à violência e impunidade. Estes bandidos debocham de nós. Naquele roubo da moto Hornet, na Zona Leste, aqui em São Paulo, não tinha oprimido, famélico, nem excluído nenhum. Eram dois rapagões bem alimentados e na boa vida.

          Há diferença entre torcer e fazer. Torcer para que o sujeito morra não é o mesmo que linchá-lo. Mães têm vontade de torcer o pescoço dos filhos ou atirá-los pela janela. Mas a gente não torce seus pescoços nem os joga pela janela 

          Quanto ao policial, cumpriu seu dever e agiu corretamente; e a prova de que ele não queria matar é que o bandido sobreviveu. Ele atirou nas pernas e no abdômen - é bom lembrar que o meliante apontou-lhe uma arma, ele poderia ter atirado para matar, seria legítima defesa. Se o bandido tivesse morrido em conseqüência dos tiros, ainda assim a ação seria legítima e de dever.

          Tem mais: se cidadãos decentes e honestos tivessem o direito de andar armados, outros assaltantes seriam baleados e impedidos de consumar assaltos. Mas é a bandidagem que está armada. E eles não torcem para que a gente morra. Eles nos matam.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Leminski: cultura proletária? Esquece


        A prevalecer a escuridão reinante dos censores de biografias (Chico Buarque, Caetano Veloso Roberto Carlos, e família de Paulo Leminski), hoje o poeta curitibano não poderia escrever o livro Vida, em que biografa Jesus Cristo, Bashô, Cruz e Souza e Trotski.

       Eu tenho este livro - Vida, em edição de 98, pela Editora Sulina, de Porto Alegre. Na biografia de Trotsky, Leminski, mesmo tentando justificar seu esquerdismo, faz uma análise demolidora e genial (a melhor que eu já li) da "arte revolucionária/ Proletkult - na União Soviética, nos primeiros anos da Revolução.. E mostra porque ela fracassou. Num trecho, Leminski escreve:

       "O titanismo prometéico da LEF não vingou (LEF, revista fundada em 1923 por Maiakóvski, é a sigla em russo para Frente Esquerda de Arte). Prevalecerá o prudente primarismo populista do Proletkult. Foi contra os proletkultistas que Maiakóvski lançou a frase-síntese do programa da LEF: "sem forma revolucionária não há arte revolucionária". O Proletkult não podia ir tão longe. Os operários não sabem o que é forma literária...

        A idéia de Maiakósvski, ao fundar a LEF era inserir as conquistas de linguagem das vanguardas (futurismo, cubo-futurismo, geometrismo, abstracionaismo) num inequívoco engajamento na construção da sociedade socialista. Além de Maiakósvski, redator-chefe da revista, LEF reunia artistas de primeiríssimo nível: Eisenstein, Pasternak, Djiga-Vertov, Isaac Bábel.

        Do outro lado, o Proletkult promovia a criação de uma nova cultura, não apenas feita 'para' as massas, mas 'por' elas. Proliferaram poetas metalúrgicos, atores pedreiros, contistas operários, escritores saídos diretamente da classe trabalhadora e diretamente ligados aos processo do trabalho braçal e fabril.

        A nós, parece absurdo. A eles parecia lógico. A Revolução não era dos trabalhadores? A eles cabia lançar também os fundamentos da cultura da nova sociedade. Uma cultura com alma proletária, com cheiro de povo, com calos nas mãos.

        Seria lindo. Se não fosse equivocado. A arte é fruto da divisão do trabalho: para fazer um bom escritor leva tanto tempo quanto para fazer dez bons torneiros-mecânicos. Da vastíssima produção proletkultista, nada sobrou de esteticamente duradouro.

        A LEF, Maiakóvski à frente, combateu o obreirismo do Proletkult. Não pelo obreirismo. Mas pelo primarismo de linguagem de uma literatura feita por semi-alfabetizados. Seu maniqueísmo de tipos. Sua tendência ao clichê e às fórmulas de fácil efeito. Seu essencial conservadorismo formal.

        Artisticamente, não teria sentido querer que o proletariado, mal saído da ignorância e do analfabetismo, pudesse criar obras significativas que pudessem competir com os artistas burgueses, herdeiros de séculos de escolaridade, informação e requinte formal.

       (...) O titânico programa da LEF gorou. Em 1930, o próprio Maiakóvski capitula, aderindo à RAAP (Associação dos Escritores Proletários), proletkultista. Nesse mesmo ano, suicida-se".

       Ironia: a escritora Clara Zetkin, em suas Recordações Acerca de Lênin, conta que o líder não apreciava sequer a arte moderna ("Não consigo considerar como manifestações do gênio artístico as obras do expressionismo, do futurismo, do cubismo, e de outros 'ismos'. Não os compreendo. E não me proporcionam prazer"). 

       Os escritores de que Lênin gostava eram os clássicos: Tolstói, Púshkin, Shakespeare e Byron. Consta que chorava ouvindo a "Sonata ao Luar", de Beethoven.

domingo, 13 de outubro de 2013

O Papa de cuecas

                O paradoxo é este:  o que o Papa fala com os jornalistas, Scalfari incluído, é muito mais lido e analisado do que todo o resto, mais do que todas aquelas declarações oficiais, pronunciadas perante milhares e milhões de pessoas, as encíclicas etc.

                 A coisa tem um pouco de voyeurismo. É como se esperássemos encontrar o Papa de cuecas. Como se estivéssemos olhando pelo buraco da fechadura do Vaticano, querendo saber quem está lá dentro, com a barba sem fazer, enquanto pega uma cerveja e coça o traseiro. Como se bisbilhotássemos uma conversa em voz baixa no outro quarto, uma espécie ' fora de onda'  em respeito ao Magistério oficial.

                  Porque, digamos claramente: são bem poucos os que acompanham o Magistério. Quem lê todos os discursos do Papa são um restrita minoria de entusiastas, os roadies papais, os verdadeiros aficcionados. Não estou pensando de maneira alguma em  todos os católicos,  nem em todos os padres.

                 Certamente, nem em todos os jornalistas, visto os erros típicos, de quem matou aula de catecismo desde o primeiro dia, que deles se podem ouvir. Meus bons amigos, quantos aqui leram o discurso de Papa Francisco aos médicos católicos? Um, dois, pode abaixar a mão, já contei você... E, agora, quem leu a última entrevista dada a Scalfari? Taí.
                   Tomam-se os discursos do papa por uma frase ou duas, se tanto. Frase meio aleijada, e apenas se interessa ao redator. Eles não interessam. São chatos. Melhor: são considerados chatos. Prova dos nove? Olhem quantos deles  Bento XVI fez. Alguns são verdadeiras explosões, maravilhosos. Apesar disto, de todos qual é o de que se lembram mais? Daquele "escandaloso' de Ratisbona, mal compreendido e instrumentalizado, como é de dever. Menos mal.

                    Porque aquele texto esplêndido, por causa disto mesmo, foi lido por todo mundo. Ou, se não por  todos, por muitos mais de quantos que, de qualquer modo, o teriam levado em consideração. O Papa que fala aos alunos de uma faculdade de teologia? Bleah. O Papa que ataca o Islã? Ei, dá aqui, deixa ver.

                     Por muito tempo foi assim. O título, decidir o que dizer ou não dizer da Igreja, isto estava mãos mãos dos mestres do pensamento que dirigiam as redações, aos seus amigos  de salões. A Igreja foi obrigada a jogar na defesa, esclarecendo tintim por tintim, esperando que se dignassem a escrever aquilo que ela dizia e não aquilo que escolhiam fazê-la dizer. Aquilo que escolhiam  publicar.

                     Uma espécie de fortaleza, sempre mais e mais isolada. As suas únicas testemunhas universalmente escutadas e convidadas em toda parte (são) aqueles padres e teólogos do dissenso, cujo único mérito é destruir aquilo que eles dizem ser. A beleza da floresta contada por piromaníacos.
             De repente, mudou tudo. Não mais paparazzi que com suas teleobjetivas procuram captar uma imagem fora de foco. Não, o Papa passou ao contra-ataque. Aproveitando-se exatamente da debilidade, o limite intrínseco desta Kultura do Nada que quer  apagar o cristianismo.
                    Tu não falas de mim? Eu falo contigo. Não escreves aquilo que eu digo? Bem, eu ajo de maneira que vire notícia. De um jeito que tu não possas não publicá-la. Satisfaço o seu apetite por gossips, fuxicos, fofocas, sensacionalismo. Porque assim não podes relegar-me à irrelevância, por bem ou por mal escreverás aquilo que eu disser. Aquilo que diz a Igreja, As palavras do Papa. A qualquer custo.

Do tipo confiar o que se diz à memoria de um laicista monomaníaco octogenário. Sim, porque parece que o bom Scalfari, diferente do que ensinam aos cronistas novatos, ao falar com Francisco, não gravou nem anotou nada. Logo, não se pode confiar demais naquelas frases entre aspas, não o bastante para revolucionar um dogma.
Porque o dogma permanece, o Magistério permanece. Mas milhões de pessoas leram palavras que, de outra maneira, não chegariam jamais aos seus ouvidos. Que talvez as tenham enchido de curiosidade. Pessoas que talvez  sentirão o impulso de se aprofundar.

Nenhum ateu egocêntrico se negará a publicar o diálogo do Papa, o Papa! com ele. Nenhum orgulho desmesurado pode deixar de sucumbir à tentação da vaidade. Nem mesmo quando fica evidente que a tua idéia de Deus mataria um eletricista de tanto rir. Nem mesmo quando estás dando voz a quem é teu inimigo desde sempre.
O pastor deixou a ovelha no redil e foi procurar as noventa e nove que estavam espalhadas em volta. Não se pode não notá-lo: ele está de cuecas. Mas não é isto o que importa.

http://berlicche.wordpress.com/2013/10/07/il-papa-in-mutande/

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Sacrário da consciência

        "Sacrário da consciência". O Papa João Paulo II fala em 'sacrário' porque é ali, na consciência do homem, que mora a Voz de Deus. Qualquer Papa sabe disso, Francisco também.

       "Por outro lado, a Igreja dirige-se ao homem no pleno respeito da sua liberdade (cf Vat II, «Dignitatis humanae», 3-4; Paulo VI, «Evangelii nuntiandi», 79-80; João Paulo II, «Redemptor hominis», 12); a missão não restringe a liberdade, pelo contrário, favorece-a. A Igreja propõe, não impõe nada; respeita as pessoas e as culturas, detendo-se diante do sacrário da consciência. Aos que se opõem com os mais diversos pretextos à actividade missionária, a Igreja repete: Abri as portas a Cristo! (João Paulo II)

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O mais belo concerto


           A Opus 61 de Ludwig van Beethoven é o mais belo concerto para violino que há no mundo. É uma explosão de genialidade musical e o ápice da criatividade humana, só comparável às catedrais góticas e à Pietá de Michelangelo. O violinista é Yehudi Menuhim, um virtuose que produz son(ho)s encantados.

sábado, 5 de outubro de 2013

Lei natural e catolicidade - Carlos Ramalhete




Uma experiência científica interessante, comparável com aquelas em que pesquisadores soltam carteiras pelas cidades do mundo para medir quantas são devolvidas, seria a de furtar abertamente bens alheios em todas as culturas do mundo. Tomar o chocalho do cacique, a espada do guerreiro, o sapato da velhinha, o pirulito da criança. E ficar ali, de bobeira, esperando para ver o que iria acontecer.
Arrisco o chute: o pesquisador levaria uma bela coça na imensa maioria dos lugares, e nos outros seria conduzido a algum sucedâneo formal da mesmíssima coça: cadeia, chibatadas, “bolos” de palmatória, o que for.


                Isto ocorre por uma razão simples: o furto é condenado por lei natural. Lei esta que já vem, “de fábrica”, inscrita em nossos corações. Todas as sociedades são e sempre foram compostas por gente que conhece a lei natural. Há quem finja não a conhecer, que mude de calçada para não cruzar com ela, e alguns destes acabam sempre em cargos de mando. Mas, na verdade, é impossível não a conhecer. Uma sociedade pode até criar maneiras doentias e complicadas de negar um que outro aspecto dela, como quem deixa uma válvula de escape aberta. Mas ela está ali, e todos sabem dela.


                E as condenações e obrigações da lei natural, tão bem conhecidas de todos, são necessariamente a base do nosso sentido de certo e errado e daquele curioso mecanismo que nos avisa quando ultrapassamos estes saudáveis limites: a nossa consciência.
Sabemos todos que é errado, é erradíssimo, é abominável!, matar um inocente. Podemos tentar justificar o injustificável, arranjar desculpas esfarrapadíssimas, peneiras furadas com que tentaremos tapar o sol da própria consciência. 


                Podemos até mesmo fazer com que estas mentiras ganhem força de lei, e que os donos de escravos possamos estuprar e matar nossas escravinhas sensuais, os arianos puros possamos dar uma solução final aos incômodos judeus, os samurais possamos testar lâminas cortando camponeses ao meio, ou as vadias possamos nos livrar de uma gravidez indesejada matando nosso próprio filho.


                 Sabemos todos que é justo e necessário dar graças a Deus a todo momento. Não importa que substituamos Seu Nome por “ainda bem” ou “ufa”; no fundo, é a Ele mesmo que dá graças o chinês que acende um bastão de incenso aos “Céus” e o africano ofegante que se deixa cair de costas na pradaria, contemplando a infinitude do céu estrelado, agradecendo silenciosamente por ter sido livrado de uma fera que o atacava.
E sabemos todos que não devemos furtar. E não devemos mentir. E não devemos cometer adultério.


                 Quando, contudo, a sociedade enlouquece – e vivemos numa sociedade enlouquecida – é frequentemente necessário que lembremos a nós mesmos e ao próximo o que já sabemos todos, em virtude de ser lei natural. Que, por vezes, tenhamos que brigar para impedir que o mal seja imposto por lei e o bem proibido. Que precisemos salvar as vidas cujo valor é negado pelo século, pela loucura muito peculiar que ataca aquela sociedade naquele momento.


                 Este dever é de todos. Não é o dever específico do cristão, nem do muçulmano, do judeu, do hinduísta, animista, budista ou do zoroastrista.
Paradoxalmente, toda e qualquer religião tradicional – pelo simples fato de ser tradicional, por ter ouvido durante os séculos o que milhares, milhões de pessoas de boa-vontade tinham a dizer sobre a busca do Bem – há de conhecer, repetir e pregar a mesmíssima lei natural. Esta lei, contudo, não há de ser o cerne de sua pregação, por uma razão simples: ela não é nem algo que **precise** ser revelado pelo Divino nem um caminho suficiente até Ele.


                  A lei natural é o mínimo; é o que nos faz ser plenamente humanos, para, humanos que somos, podermos caminhar rumo ao Divino. Ela não é nem pode ser confundida com a mensagem religiosa que, entre outras coisas, a contém. A mensagem religiosa a contém por ser dirigida ao homem, e a lei natural é o que deve reger o homem na sua relação com o mundo ao redor.
A religião, todavia, não é nem tratado de boas maneiras nem código civil ou penal.

*
* *

                 Compete ao clero, do papa ao menor dos ostiários, pregar a Vida Eterna. Pregar a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, loucura para os gentios. Tratar das nossas almas, feridas nesta guerra sem tréguas a que somos chamados, com a medicina dos sacramentos. Alimentar-nos com o Pão dos Anjos. Curar-nos as almas, para que possamos viver no mundo sem a ele pertencer. 
 A adesão – ou não – da legislação e da política à lei natural não requer a atenção do clero. A relação entre o Estado e a lei natural não é tema de religião nem necessária à salvação.

                 Ao contrário, até: é uma armadilha demoníaca trata-la como se o fosse. Fazer da luta política pela proteção legal à vida do nascituro uma marca de catolicidade é, em última instância, negar que seja de lei natural que a vida do nascituro deva ser protegida. É negar-lhe a inocência, negar-lhe a humanidade, ao transformá-la falsamente em tema de Fé. Temos fé no que não vemos, e vemos – nem que seja pelos exames laboratoriais! – que o nascituro é vivo e é humano.


                 Mais ainda: assumir a luta pela lei natural como se fosse uma luta intrinsecamente católica é cair na armadilha da mídia, que não consegue perceber o que realmente é a Igreja e a reduz àquilo em que a Verdade eterna faz intersecção com as besteiras do século, e olhe lá. É auxiliar a pregar que a Igreja é um bando de esquisitões dizendo “não” às alegrias, e só. É fazer com que a luta pela vida seja percebida como uma maluquice a mais, irracional – ou mesmo antirracional –, pregada por loucos sem noção alguma do mundo real.


                 Isto ocorre porque esta redução da Igreja ao combate contra a violação deste ou daquele aspecto da lei natural faz com que aquilo que é realmente intrinsecamente católico desapareça. Se a Igreja **é** o combate ao aborto, à distribuição de camisinhas ou ao “casamento gay”, ela ***não é*** o Cristo. Ela não é a Encarnação do Verbo. Ela não é a Imaculada Conceição. Ela não é o Santíssimo Sacramento.


                 O que compete à Igreja pregar é o Eterno, é a Verdade Revelada. Esta Verdade – que é uma Pessoa, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade! – tem, sim, corolários. Entre outros, ela ilumina e atrai a atenção a algo que já é de lei natural, que é o valor e a dignidade da vida humana. Da vida do camponês, da mulher, do judeu, do escravizado, do nascituro.


                 Não podemos, contudo, reduzir ou deixar reduzir a especificidade católica a um ou mais corolários do que é o cerne da mensagem e do próprio ser da Igreja: o Cristo. Não podemos permitir que a imprensa venha nos pautar, que ela venha a transformar a luta pela vida em catolicidade ou a catolicidade em luta pela vida. Ou contra o “casamento gay”. Ou contra a exploração do pobre, especialmente o órfão ou a viúva. Em todos estes pontos, a Revelação ilumina e atrai a atenção a um ponto de lei natural.

.                 Não é, contudo, a Revelação que faz com que tenhamos o dever de agir neste ou naquele sentido na sociedade, sim a lei natural.
O combate pela lei natural é o combate de todo ser humano, não só de todo católico. É um combate a que somos chamados individualmente ou em grupos e associações que formemos; serão, contudo, associações de pessoas, não braços da Igreja. Uma ação de pessoas, de leigos, de indivíduos, de quem quer combater o mal – católico ou não –, não um braço pastoral.


                  A Igreja, lembrou-nos com razão o Santo Padre, é como um hospital de campanha, um hospital feito de lona, localizado logo ao lado do campo de batalha.
A batalha pela lei natural é nossa, como seres humanos. Quando nossos amigos também batalham por ela – como é seu dever, por serem eles também seres humanos – e não têm acesso ao hospital, não acedem aos Sacramentos, levemo-los, sem dúvida! Mas esta já é outra batalha, quiçá bem mais importante.


                  Se o nascituro não pode se defender, compete a cada um de nós, seres humanos, lutar pela vida de todo ser humano inocente. Em cada ser humano inocente que é assassinado toda a humanidade é atacada. O assassinato de inocentes é a negação da própria humanidade, e combate-lo é dever de todo ateu, muçulmano, judeu, budista... ou católico. Este combate é um combate humano, feito em prol da humanidade. Não é um combate religioso, nem o pode ser. 

                  Dizer que é um combate religioso é negar o valor do combate e permitir que ele seja tratado como uma idiossincrasia idiota qualquer, pois é assim que o mundo trata a religião.
É urgente que não nos deixemos mais confundir. Que não façamos mais a besteira de querer que o Papa implore a governantes de terceiro mundo que aprovem ou vetem esta ou aquela lei antinatural, que nós, leigos, burramente deixamos passar. Ao Papa compete pregar a Cristo crucificado. A nós, leigos, é que compete combater no terreno imundo da política.


                  É urgente que não mais nos confundamos. Que não façamos mais a besteira de levar imagens de santos para passeatas em que estamos lutando pelo humano, não pelo divino. Passeatas pedem cartazes, gritos e a lembrança permanente de que estamos ali por sermos seres humanos, não por sermos católicos.


                  É urgente que não mais confundamos as almas. Que não ofendamos a Deus e a Seus Santos, levando cartazes, bonequinhos e balõezinhos de campanhas políticas – por mais nobres que sejam!!! – para as procissões em que prestamos homenagem e culto de veneração e rogação a Seus Santos. Cartazes, bonequinhos e balõezinhos são feitos para serem vistos pelos homens. Procissões são feitas para que os Céus nos ouçam.Que Deus nos ajude, para que sejamos os seres humanos que Ele quer!

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Reinaldo não gostou. Ui!

     Não que eu vá rasgar as vestes e atirar-me pela janela, mas Reinaldo Azevedo meteu lá um 'ReinaldoXXXXXXXX na cascuda!' em lugar de um comentário meu ao seu artigo sobre Papa Francisco. 

     Eu escrevi: "Bergoglio não é Vieira. Reinaldo não é Papa. Esta virulência contra Papa Francisco? Sei não...". Uai, não entendi a censura. Que ele pode (não) publicar o que ele (não) quiser, ele pode; ad ogni modo, eu continuo sem entender. Vai saber.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Que belo seguir Francisco!

Antonio Socci.

         Há  espanto e  compaixão na esplêndida entrevista de Papa Francisco. O espanto de quem se sentiu perdoado e amado pelo Salvador, como o publicano Mateus, o evangelista da célebre tela de Caravaggio. Que o Papa evoca. E tem a compaixão por esta humanidade de feridos. O desejo de levar a todos aquele olhar de misericórdia que ele (Francisco) encontrou no vulto de Jesus e, portanto, na Igreja.
O que somos
      Na verdade, nós vivemos num mundo de dor. As crônicas falam de guerras sangrentas, de repressão cruel, de crise econômica que traz violência e angústia, de sociedades cheias de ódio. Falamos de violência até mesmo nas relações afetivas pessoais que deveriam ser marcadas pelo amor. Somos todos criaturas feridas pela vida. Não se pode negá-lo.
      O recente festival de Filosofia, em Modena,  dedicado precisamente ao amor, foi encerrado com a aula magistral da socióloga israelense, Eva Illouz, conhecida pelo seu best-seller "Porque o amor faz sofrer". Illouz, ainda que feminista e liberal,  radiografou - cinquenta anos depois da revolução sexual que deveria nos tornar  livres e felizes - um panorama de ruínas.
      Ela explicou que o amor tornou-se simplesmente um problema, a  ser resolvido pela comunidade terapêutica. E acrescentou: "O amor sempre fez sofrer, mas hoje faz muito mais que antes". E isto todos nós sabemos. É a enésima 'heterogênese dos fins'. Como o marxismo, também a revolução sexual prometeu a felicidade e produziu infelicidade (o mesmo podemos dizer do mito cientificista e daquele do bem-estar).
 O Hospital de Deus
      Assim, a nossa sociedade está cheia de feridos. Eis porque Papa Francisco vê a Igreja como um hospital de campanha depois da  batalha. Ela é chamada a "curar as feridas e a aquecer o coração dos fiéis". Estamos todos feridos, sem distinção de credo, de filosofia ou de crença política. A batalha que nos jogou por terra e de que fala o Papa é aquela da vida, mas também a que a modernidade empreendeu para emancipar-se de Deus.

      É evidente que a Igreja perdeu esta batalha (humana e historicamente falando). Mas os 'mortos e feridos' estendidos no chão são os vencedores, isto é, todos nós, modernos. A Igreja não combatia por si, mas por nós. Nós, modernos, vencemos e agora estamos na lona. Por isto, a Igreja, como mãe cuidadosa que olhava por seus filhos, se inclina sobre eles, piedosa, e os carrega nas costas.
      Papa Francisco faz como o pai do filho pródigo. Que não joga no rosto do filho os seus erros, não investe contra ele e não o pune. Ao contrário, quando estava ainda longe, o pai o viu e, comovido, correu-lhe ao encontro,  apertou-lhe junto ao peito e o beijou", depois - interrompendo o mea culpa do filho - "disse aos criados: rápido, tragam a roupa mais bonita para vesti-lo, coloquem o anel em seu dedo e  os sapatos nos seus pés... façamos uma festa, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado" (Lc 15, 20-24).
 O irmão indignado
       Falemos a verdade, o comportamento do filho mais velho, que, voltando do campo, vê toda aquela comemoração e fica indignado com o pai, parece um pouco com alguns de nós, católicos,  em relação a Papa Francisco. Há aqueles que queriam que se estivesse todo o tempo a condenar, a recriminar e a fazer discursos, enquanto o pai queria, antes de mais nada, abraçar aquele que errou e reavê-lo como filho. Isto não significa de modo algum aprovar os erros ou  subestimá-los. Não, isto significa amar os filhos.
      De resto, é isto que a Igreja tem feito desde o começo. A "boa nova" (porque é isto que significa a palavra Evangelho) não é o elenco de pecados, nem tampouco um catálogo de valores morais, mas é o anúncio de que Deus teve piedade dos homens e veio carregá-los às costas, cuidar deles, curá-los e salvá-los.
      Jesus entrou no mundo assim: não incriminou, não acusou ninguém. Salvou. Não  incriminou o mundo. Salvou o mundo. Os outros - escrevia Péguy - vituperam, raciocinam, incriminam. Médicos injuriosos que perturbam os doentes.
       O grande convertido francês usava a mesma metáfora de Papa Francisco: somos uma humanidade doente, um mundo de feridos. E o médico não pode ficar amolando o doente. O seu dever é cuidar dele, curá-lo. Dir-se-á que hoje, no entanto,  a secularização é galopante. Mas já Peguy tinha resposta a esta objeção: "mesmo no tempo de Jesus, havia o mundo  e as areias do mundo. Mas sobre a areia seca, sobre a areia do mundo, corria uma fonte, uma fonte  inesgotável de graça"
      Também Jesus foi acusado de ser indulgente, e até mesmo conivente, com os pecadores, publicanos e prostitutas. Mas ele veio para eles (ou seja, para todos nós). E era próprio a sua misericórdia, a beleza de sua humanidade, a comover os pecadores que se convertiam e mudavam de vida.
A guerra dos valores
      Quem hoje lamenta o fim da batalha pelos valores não-negociáveis  não entendeu nada.  À parte o fato de que tais valores não são a essência do cristianismo e considerá-los como tais seria uma nova e perigosa ideologia. Isto posto, é errado pensar que Francisco renegue tudo quanto ensinaram seus predecessores. Porque ele sempre  reafirmou este ensinamento (inclusive hoje o fez sobre o início e o fim da vita, no encontro com os médicos)
      Certo, não está a repeti-lo todo dia. Mas não porque aqueles princípios, a seus olhos, não são importantes. Apenas porque a Francisco importa, acima de tudo, ressaltar o primeiro, verdadeiro , grande e fundamental "princípio não-negociável" (a base de todos os outros): o ser humano concreto, aquele de carne e osso, com suas feridas, e com seus pecados. A sua salvação. Aos olhos de Deus, as pessoas concretas são o fundamental 'princípio não-negociável', tanto que, por cada um deles, Ele se fez homem, se deixou crucificar e ressuscitou.
 
      Eis porque, na exortação missionária de Francisco para que sejam curadas as feridas da humanidade, ocupa lugar de destaque construir centros de ajuda à vida, acolher as pessoas  abatidas pela falência de liames afetivos, dar suporte a quem vive doenças terminais ou a pessoas queridas em condições extremas, ajudar pobres e infelizes. Abre-se uma grande época de caridade para os cristãos.
 O que muda
       Por certo, alguma coisa muda: o olhar sobre este momento histórico. Mais que batalhas culturais com intelectuais e políticos, cuidar-se-á dos seres humanos. Não porque seja errado ou inútil dizer a verdade e procurar o bem público. É dever (o mesmo Francesco  dialogou com Scalfari).
       Mas porque - como dizia dom Giussani - a vencer a cultura niilista não será a cultura católica contraposta a essa, mas a comoção pessoal por Jesus, a Sua caridade:" A Igreja é de fato um espaço de humanidade que comove, é a casa da humanidade. A luta contra  o niilismo é esta comoção vivenciada."
       De resto, tem sempre sido assim. O mundo sempre foi uma fileira de feridos. Porque esta é a condição humana. Nascemos como náufragos que buscam o sentido da vida, envoltos no mistério do universo, queremos amar e ser amados, nos submetemos ao mal e o fazemos, buscamos todo dia a felicidade e não a encontramos.
       Assim, nos via Jesus. Assim nos representou na parábola do Bom Samaritano: nós somos aquele homem 'despido, espancado' e deixado 'meio morto', na beira da estrada, enquanto Ele é o bom samaritano que "teve compaixão, aproximou-se, cuidou das feridas, colocando sobre elas óleo e vinho; depois,  colocando-o em cima do jumento,  levou-o a uma hospedaria e tomou conta dele."
       Aquela 'hospedaria' é a Igreja. E como Jesus cura as nossas feridas?  O profeta Isaías nos diz:" Por suas chagas, nós fomos curados". Cura-nos sofrendo em nosso lugar. Resgata-nos entregando-Se.
       Os santos nos relembram isto. Pensemos em Padre Pio, em seus estigmas, nos sofrimentos com que obtinha tantas graças. O seu confessionário foi um grande hospital de campanha para as almas. E ao lado quis  construir um grande hospital para o corpo: "a Casa Alívio do Sofrimento". Para entender Francisco, olhai para os santos como Padre Pio.